“Livro-fenômeno” desafia pensamento econômico e vira best-seller na Amazon

Thomas Piketty vê o seu livro alcançar recorde de vendas e estimular debates intensos no meio acadêmico - e fora dele

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O que parecia improvável aconteceu. Um fenômeno literário vem intrigando o mercado editorial pelo mundo, com um livro sobre economia suscitando uma série de debates, principalmente nos Estados Unidos. Trata-se do livro “O capital no século XXI” – em tradução livre -, do economista francês Thomas Piketty, que passou a ser comparado com Karl Marx, John Maynard Keynes e Alexis de Tocqueville. O sucesso é tamanho que a publicação, de 700 páginas na edição de língua inglesa, alcançou o primeiro lugar de vendas na Amazon e passou a ser comparada a um dos grandes clássicos da economia mundial. 

A tese de Piketty, de 42 anos é concentrada na desigualdade, uma questão que virou foco nos países ricos depois da crise global de 2008 e 2009. A tese central do economista é de que, sempre que a taxa de retorno do capital supera a taxa de crescimento econômico, a riqueza fica mais concentrada na faixa de população mais rica.

Assim, os anos 1950, 1960 e 1970, consideradas as três décadas de ouro do capitalismo ocidental, fizeram parte de um acidente histórico, com uma grande destruição de riqueza no topo da distribuição em função de episódios como a Grande Depressão e a Segunda Guerra. Altos impostos para os ricos e os maiores benefícios sociais “estabilizaram” o patamar de desigualdade mas, nos anos 1980, com um padrão de baixo crescimento econômico e da população e maior acumulação de capital, a desigualdade aumentou.

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O capitalismo, assim, tende a aumentar a desigualdade. Por mais que os trabalhadores cumpram seu papel, a renda ficará progressivamente defasada frente os capitalistas, que simplesmente herdaram fortunas. Como solução, Piketty sugere o aumento da progressividade de impostos e uma tributação mundial sobre a riqueza.

A tese rendeu destaque por parte de importantes autoridades econômicas. Paul Krugman, economista laureado com o Prêmio Nobel em 2008, destacou em artigo ao The New York Times que o livro trará uma “influência profunda”, destacando que a publicação teve como “resultado uma revolução em nossa compreensão sobre as tendências de desigualdade no longo prazo”. 

“Piketty conclui ‘Capital in the Twenty-First Century’ com um chamado às armas – um apelo, especialmente, por impostos sobre a riqueza, se possível em escala mundial, a fim de restringir o crescente poder da riqueza hereditária. É fácil ser cínico sobre as expectativas de sucesso dessa empreitada. Mas certamente o magistral diagnóstico de Piketty sobre a situação em que estamos e a situação a que estamos nos encaminhando torna o êxito consideravelmente mais provável. Por isso, este é um livro extremamente importante em todas as frentes. Piketty transformou nosso discurso econômico: jamais voltaremos a falar sobre renda e desigualdade da maneira que fazíamos”, destacou Krugman.

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Um grande motivo de atenção também ficou para o fato de que o economista francês não é um intelectual de formação quase que exclusivamente humanista, sem familiaridade com números. Ele possui uma sólida formação acadêmica e matemática, foi professor entre 1993 e 1995 do MIT (Massachusetts Institute of Technology). 

Ainda assim, o livro está longe de ser uma unanimidade. Os dados e as teses do livro vêm sendo contestados mas, pela mudança de configuração do debate, o livro já provocou uma grande discussão, que o faz tornar um potencial clássico. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.