Colunista InfoMoney: acomodação da inflação é passageira

Expansões do crédito e da massa salarial aliadas à queda do desemprego devem engatilhar preços a partir de setembro

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Os principais índices de preços da economia brasileira, o IPCA, medido pelo IBGE, e o IGP-M, calculado pela FGV, mostraram sensível acomodação na passagem mensal de junho para julho, e deverão apresentar o mesmo comportamento nos próximos dois meses.

O motivo para esta conjunção no cenário econômico doméstico foi determinado quase que exclusivamente pelo fim dos incentivos fiscais no fim do primeiro trimestre e, em menor grau, pelo ciclo de alta dos juros promovido pelo Banco Central.

Em termos de análise estatística, o IPCA divulgado em junho mostrou evidência de que o ciclo de expansão dos preços entrara na fase de estacionaridade, ou seja, se acomodou devido à perda do ritmo no consumo da demanda interna.

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“Diferença entre IPCA
e IGP-M representa a
dualidade presente na
economia brasileira”

Mais do que isso, o índice refletiu implicitamente o arrefecimento da economia como um todo, sugerindo, em bases consideráveis, uma expansão limitada do Produto Interno Bruto. Em junho de 2010 o IPCA apresentou uma taxa nula em relação ao mês anterior. Porém, na comparação dos seis primeiros meses de 2010, a alta foi de 2,32%, e para os doze meses, uma evolução de 4,84% – dados que confirmam pressões existentes no índice.

O movimento observado no IPCA foi também encontrado no IGP-M da FGV. O principal indicador que avalia os preços no atacado sofreu arrefecimento no final do terceiro trimestre, porém em amplitude diferente da verificada no IPCA. Na margem, o IGP-M foi mais resiliente que o IPCA devido à situação não convergente dos seus componentes pesquisados.

Exemplificando melhor a sua magnitude, é válido afirmar que o IGP-M explorou dados de setores com expansão acelerada e setores em desaceleração, determinando, dessa forma, menor amplitude em relação ao índice medido pelo IBGE. De forma geral, o IGP-M variou 0,15% na passagem mensal de junho para julho de 2010. Para os seis primeiros meses, a alta foi de 5,02% e nos 12 meses, de 5,17%.

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A diferença de amplitude entre os dois índices de preços representa a dualidade presente na economia brasileira. Por um lado, temos um arrefecimento mais acentuado nas componentes do IPCA, motivado pela redução mais acelerada do consumo das famílias. Por outro lado, as componentes do IGP-M não foram unânimes no processo de arrefecimento, pois determinantes importantes, como os preços de algumas commodities, foram resilientes na fase de supressão da atividade econômica.

A análise da dispersão da trajetória dos índices de inflação converge para o cenário de acomodação da economia, porém, as determinantes como a expansão continuada do crédito, da massa salarial e redução da taxa de desemprego demonstram ser substâncias para novos gatilhos nos preços. Provavelmente esta fase de acomodação se findará em setembro de 2010.

Ricardo Jacomassi é economista, professor e estrategista de investimentos e escreve mensalmente na InfoMoney.
ricardo.jacomassi@infomoney.com.br