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Estamos muito bem na foto!
O G-20 se reuniu depois da reunião do G-8 e mostra que os países industrializados estão divididos: os países da União Européia realizando cortes profundos em seus orçamentos para reduzir seu déficit em conta corrente; os Estados Unidos fazendo adequações, mas querendo promover o crescimento; o Japão na marola de sempre; e os BRICs, com exceção da Rússia, crescendo em ritmo chinês.
Por falar em China, esta mostrou que inicia o primeiro movimento, bem tênue, de flexibilização do yuan a passos de paciência oriental. E o Brasil se posicionando contra a timidez demonstrada por alguns países desenvolvidos que preferem manter uma conjuntura mínima, e reclamando que Doha e outros estímulos para a melhoria da conjuntura mundial não avançam.
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Nossos indicadores macroeconômicos estão muito bons, os três candidatos à presidência expressaram o compromisso de não mexer nos bons fundamentos da macroeconomia, proporcionando tranqüilidade aos mercados quanto à continuidade dos princípios da boa gestão macroeconômica. Então… estamos muito bem nesta foto!
Além disso, temos projetos do BNDES na área da infra-estrutura e energia para os próximos três anos, acima de R$ 500; sem falar nos investimentos declarados pelas indústrias de commodities minerais e alimentares, cuja demanda mundial assegurará preços e volumes para os próximos anos.
Teremos crescimento acima da média dos últimos anos, renda dos brasileiros crescendo, mais emprego e recursos para investimentos nas áreas sociais e ambientais. O que queremos mais…? O cenário não é ótimo?
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Bem, nem tudo neste crescimento traz tranquilidade para o futuro do Brasil. A qualidade desse crescimento vai precisar ser explicitada e avaliada por todos nós, pois, a continuar assim, em 10 a 20 anos seremos um país de melhor infra-estrutura e melhor renda, mas no final das contas teremos reforçado nossa condição de grande provedor mundial de minérios, de alimentos e seu processamento, e de energia.
É interessante notar que em nosso crescimento no primeiro semestre deste ano teremos um PIB de ordem chinesa, onde se destaca o índice de crescimento industrial acima de 12%, o da agricultura, de 5%, e o de serviços, também em 5%. O crescimento industrial doméstico fez com que a maior parte dos produtos vendidos tivesse um crescimento acentuado de importação, o que significa que o nosso consumo interno induz a agregação de valor nos produtos importados. E na exportação de produtos manufaturados não encontramos o mesmo crescimento, porque o mercado lá fora está contraído, os preços estão em alta competição, portanto mais baixos, e a variação cambial do euro e do dólar se desvalorizando.
“O Brasil que queremos |
Este é um cenário no qual nossos produtos industrializados se tornam cada vez menos competitivos. E o real, com tendência a se valorizar, piora a situação.
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Por incrível que pareça somente um ramo industrial apresenta superávit na balança comercial dos produtos manufaturados, que é o da aviação. Somente as exportações da Embraer superam as importações das companhias aéreas, de equipamentos da Boeing e Airbus; as demais áreas têm um déficit crescente, como é o caso de máquinas e equipamentos, automóveis, autopeças, químico, e assim por diante.
Essa tendência vai aumentar, e consequentemente, teremos uma desindustrialização crescente no Brasil, sutil, mas firme, sem que se perceba o fato, pois afinal estamos bem na foto, não é mesmo?
Alguns poderão argumentar: mas o mercado interno continuará se expandindo e absorvendo produtos manufaturados. A lógica está correta, mas o conteúdo tecnológico será, cada vez mais, oriundo de produtos e componentes importados, fazendo com que o parque industrial brasileiro, embora esteja em ritmo crescente, vá se tornando menos competitivo e relevante no PIB do Brasil.
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Então fica a pergunta: o crescimento mais acentuado é o que nos impossibilita de reverter esta tendência? Temos um teto de crescimento que nos torna insustentáveis? O crescimento sustentável se dará se ampliarmos o teto das capacidades produtivas dentro da perspectiva de crescimento sem inflação e endividamento, realizando a inserção social e considerando o respeito ao meio ambiente.
Isto é necessário, mas não é suficiente. Nossa nação, além de provedora de alimentos e insumos mundiais, precisa ser um país que desenvolva sua capacidade industrial e de serviços em nível mundial.
Para isto, temos de mudar nossa postura. O Brasil que queremos e podemos tem capacidade para ser um grande player também no campo industrial, porque a qualidade que esta trará aos brasileiros é distinta da outra. De fato, a desindustrialização já se instalou no Brasil há algum tempo e sutilmente avança sobre nós, sem que nós nos demos conta disto.
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Este é um assunto da maior importância para os futuros governantes do Brasil, aqueles que estarão nos liderando em 2011, e depois, de 2015 em diante. A industrialização do país merece ter uma enorme atenção dos nossos governantes, que precisam ter uma obsessão sobre este assunto, de tal ordem que mobilize a sociedade brasileira em todos os níveis para reconquistarmos esse espaço.
O que fazer?
Precisamos recriar uma cultura de qualidade. O Brasil necessita criar uma obsessão pela qualidade, em todos os campos, desde a administração pública privada, passando pela educação, serviços sociais, chegando até ao primeiro e último atendente de qualquer produto e serviço de nossa sociedade ao cliente.
Precisamos criar uma cultura voltada à inovação. Nós brasileiros somos um povo altamente criativo, podemos desenvolver soluções novas e revolucionárias. Canalizar esta capacidade criativa e facilitar o processo de implantação e uso desta criatividade é uma parcela de nosso aprendizado, aprender a fazer melhor continuamente.
Precisamos criar uma cultura de planejamento. O compromisso com o tempo e a organização das atividades devem ser compromissos de honra. Partindo da pontualidade até a entrega final daquilo que prometemos, somente por um processo de mutirão nacional de conscientização.
Precisamos premiar o melhor na categoria (Best in Class). É ele quem deve ser elevado ao pódio como exemplo, desenvolver uma cultura de olimpíadas, na qual os melhores recebem os prêmios.
A industrialização com estes vetores ganha espaços de atenção. É claro que medidas estruturantes no campo das políticas públicas se fazem necessárias, como os tributos, os programas destinados a cadeias produtivas, sistemas novos de trabalho, sua remuneração e transparência, e gestão ilibada.
Se nos próximos anos não estivermos obcecados por estes princípios dificilmente estaremos trazendo uma felicidade maior para todos nós… E faremos um belíssimo primeiro tempo, deixando a vitória para os outros no segundo tempo…
O Brasil merece mais…!
Ingo Plöger é empresário, engenheiro economista, conselheiro de empresas nacionais e internacionais e presidente da IP Desenvolvimento Empresarial Institucional. Escreve mensalmente na InfoMoney.
ingo.ploger@infomoney.com.br