Colunista InfoMoney: uma tragédia grega num mar de incertezas?

Crise helênica remete ao colapso imobiliário nos EUA; mercado sempre reage exageradamente, importante é manter estratégia

Marcelo Smarrito

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Será uma tragédia grega com emoções exageradas? Vamos analisar:

A história sempre se repete. Talvez seja preciso reinventar a solução, mas é interessante observarmos, no caso da crise que se desenrola na Grécia – e todas as consequências batendo nas portas dos países europeus – como existem traços semelhantes com a crise do subprime, nos EUA.

Nos dois casos, temos o ponto forte e o fraco sendo atingido. E, no caso da Grécia, será preciso rever radicalmente o conceito de produção e consumo dentro de uma moeda que sustenta, de um lado, a potência alemã e, do outro, a pequena Grécia. Todos os países num mesmo pilar. Para o peixe pequeno, que vivia como o tubarão no mar econômico, hora de experimentar o amargo gosto da retenção, dos cortes de gastos, do abrocho salarial, do desemprego.

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“Mercado sempre
reage de forma
exarcebada; não

pode-se seguir
efeito manada”

Na história da economia, não recordo nenhuma solução deste tipo que não tenha envolvido a desvalorização da moeda para reajustar financeiramente um país. Mas, neste caso, seria inviável. Portanto, a ajuda dos países europeus, anunciada com muito glamour, é válida, mas não resolve totalmente a raiz da questão.

Os bancos continuarão emprestando dinheiro para a Grécia, que continuará gastando mais do que pode? Assim, com os cerca de € 110 bilhões anunciados para recuperar a economia do país, teremos resolvido apenas o incêndio, mas não os focos. O fato é que o país chegou a acumular uma dívida de € 300 bilhões, além de um déficit fiscal em 2009 de 13,6% do PIB (Produto Interno Bruto).

Porém, mesmo diante dos dados pouco animadores, acalmar o temor dos investidores internacionais se faz preciso quando percebemos o impacto que as notícias advindas da Grécia causam no mercado acionário. Dizer que a crise trata-se pura e simplesmente de irresponsabilidade fiscal é não levar em conta que, mais importante do que o dinheiro, é a confiança do povo no país. No caso da União Europeia, falta um líder unificado. Nos EUA, havia um político carismático prestes a ser eleito. Daí pode-se explicar a vantagem na recuperação da economia norte-americana.

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Vamos lembrar o artigo anterior, quando citei que o investidor que resolveu comprar ações na baixa, em outubro de 2008 – no auge da crise norte-americana, lembra? – e as venderam 12 meses depois, acumulou um ganho de 109%. Pense sobre o que isso significa.

Para auxiliar, vou recorrer à definição de Aristóteles sobre a tragédia, que significa a “representação de uma ação séria, concreta, de certa grandeza, representada, e não narrada, por atores em linguagem elegante, empregando um estilo diferente para cada uma das partes, e que, por meio da compaixão e do horror provoca o desencadeamento libertador de tais afetos”.

Portanto, se amarrarmos os dois últimos parágrafos, é importante analisar que o mercado reage de acordo com as emoções despejadas, que podem desencadear insegurança exacerbada. Mais importante é não seguir o chamado “efeito manada” e manter sempre uma estratégia, de preferência, a sua. As crises sempre existirão. As oportunidades também.

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Sem tragédia. Bons investimentos. E um bom Brasil para todos.

Marcelo Smarrito é diretor de Varejo da corretora Gradual, autor do livro “Desmistificando A Bolsa de Valores” e escreve mensalmente na InfoMoney.
marcelo.smarrito@infomoney.com.br