Dólar deve cair para R$ 3,60 com fator Previdência e exterior será decisivo para queda maior, dizem analistas

Moeda caiu forte esta semana com andamento da reforma no Congresso e ainda tem espaço para recuar mais nos próximos meses

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O avanço da reforma da Previdência no Congresso está deixando otimistas os analistas e investidores. Em relatório, o UBS foi um dos primeiros a atualizar suas projeções para o câmbio, vendo uma maior apreciação do real e o dólar valendo R$ 3,60 no fim do ano. 

“O Congresso brasileiro tem apoiado mais a reforma nas últimas semanas. A [Proposta de Emenda à Constituição] PEC será aprovada na Câmara dos Deputados”, escreveram os analistas Ronaldo Patah e Alejo Czerwonko.

A mesma visão tem Diego Ruiz, analista da Acciones y Valores, de Bogotá. Em entrevista para a Bloomberg, ele afirma que os investidores estão cada vez mais focados no debate sobre a reforma da Previdência, deixando o exterior um pouco de lado neste momento.

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“O que nos deixa mais otimistas é a capacidade que Bolsonaro tem de entregar a reforma da Previdência”, disse Ruiz. “Precisamos lembrar que o principal ’driver’ agora está mais relacionado a fatores locais do que internacionais”. Para ele o dólar deve voltar para R$ 3,65 até o fim do trimestre e cair para R$ 3,60 até dezembro. 

Já para o UBS, embora sigam altos os riscos de adiamentos e alterações no texto da reforma, a convicção do mercado de que a Previdência será aprovada antes do fim de 2019 cresceu.

Em relatório a clientes, José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, pondera que é possível que a economia da reforma ainda caia mais um pouco, para em torno dos R$ 850 bilhões, quando a PEC for a plenário por conta das concessões para corporações, em especial para policiais federais e guardas municipais. Apesar disso, o otimismo do mercado é grande.

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Cabe lembrar que, na madrugada desta sexta, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados concluiu a votação do relatório da reforma da Previdência, com mudanças que alteraram a previsão de economia para R$ 990 bilhões em 10 anos. 

Este cenário de andamento da Previdência no Congresso também começa a elevar as projeções de corte na taxa básica de juros. Durante os últimos encontros, o Comitê de Política Monetária (Copom) condiciou uma redução da Selic ao avanço da reforma. Com isso, o mercado já precifica um corte de 25 pontos-base na reunião do dia 31 de julho.

Exterior favorável
Passada a resolução da reforma, o exterior deve ser o fator principal para uma queda maior do dólar. Para Ruiz, os ganhos do real vão depender de uma resolução das tensões comerciais e do estado da economia global.

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EUA e China são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil e, para o real continuar subindo, os dois países terão que chegar a algum tipo de resolução, afirmou.

Para o UBS, o cenário externo também está mais favorável para o câmbio brasileiro. Os analistas entendem que a trégua na guerra comercial firmada em reunião entre o presidente norte-americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, no G-20 será prolongada.

“Ambos os lados possuem incentivos para evitar uma escalada nas tensões”, aponta o research. Com isso, se reduzem os riscos globais, enquanto o foco se volta para a chance de corte de juros pelo Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos).

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Faria Júnior ressalta, porém, que a alta do dólar nesta sexta foi uma correção da queda recente, ao passo que o recente relatório de emprego nos EUA cria dúvidas se o Fed irá cortar juros em sua reunião do dia 31 de julho. A moeda fechou com alta de 0,55%, a R$ 3,82 na venda.

Segundo ele, o dólar entrou em um bom ponto de compra ontem e ao encostar nos R$ 3,83 pode criar uma oportunidade de venda de curto prazo, já que é difícil que a divisa suba para o nível de R$ 3,88 no cenário atual, o que seria a “melhor venda”, de acordo com Faria.

Um corte de juros nos EUA seria bastante favorável ao real, já que reduz o rendimento de títulos americanos, levando investidores a buscarem ativos mais rentáveis, como no mercado brasileiro, que tende a se favorecer mesmo com um possível corte da Selic.

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Apesar do otimismo estar crescendo, o mercado em geral ainda não mudou suas projeções. No mais recente relatório Focus do Banco Central, os economistas mantiveram, pela sexta semana seguida, a projeção de dólar a R$ 3,80 este ano.

A previsão do dólar para o fechamento de 2020 e 2021 também não foi alterada ficando em R$ 3,80 e R$ 3,84, respectivamente.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.