Por que a prisão de Temer afetou a Bolsa – e o que esperar a partir de agora

Para gestores, caso atrapalha a tramitação da reforma da Previdência, mas não muda cenário positivo para aprovação da proposta

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se o mercado acreditava que a “super quarta” seria o grande dia da semana, esta quinta-feira (21) não ficou atrás no quesito agitação. O pregão já começou no negativo, com investidores ainda no mau humor da véspera por conta do desapontamento com a reforma da Previdência dos militares, mas foi a surpresa da prisão do ex-presidente Michel Temer que marcou o dia.

De início, o investidor pode até pensar que, por Temer não ser mais presidente, não teria porque impactar tanto o mercado, mas a sua prisão tem reflexos fortes no mercado, tanto que a bolsa brasileira chegou a cair 2,6% logo após a notícia, batendo os 95.456 pontos.

A avaliação é de que o episódio desta quinta afeta ainda mais a percepção sobre a reforma da Previdência, uma vez que desvia o foco da pauta econômica e novas questões ganham destaque, como se outros políticos podem estar envolvidos. 

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Mas será que esta reação é apenas um “susto” ou acabou com os planos do mercado de ver a bolsa retomar os 100 mil pontos?

Para David Cohen, sócio-gestor da Paineiras Investimentos, o mau humor do mercado hoje ainda tem muita relação com a posição tomada antes dos eventos desta semana. “Houve uma decepção com a proposta de reforma dos militares, sobre a pesquisa [Ibope] de popularidade do Bolsonaro e o adiamento da nomeação do relator da CCJ antes da prisão do Temer. Esses eventos já tinham deixado o mercado um pouco preocupado”, afirma.

“A prisão do Temer, em si, traz impactos incertos e ambíguos para o caminhar da reforma”, acredita o gestor. Segundo ele, o caso tira o foco dos parlamentares da Previdência, que agora avaliam os impactos da prisão, principalmente nos deputados historicamente ligados ao ex-presidente.

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Por outro lado, Cohen acredita que isso pode ajudar na popularidade do governo de Jair Bolsonaro, que foi eleito com o discurso de ética e para mudar a velha política. “Acho que esse caso pode ser mais um ruído que as pessoas vão esquecer com o tempo, como foi com o Bebianno”, avalia, citando o caso do ex-ministro que teve uma saída turbulenta do governo Bolsonaro. 

Já para Julio Fernandes, gestor do fundo XP Macro, a prisão de Temer atrapalha e atrasa o andamento da Previdência, mas não muda a probabilidade da aprovação da reforma pelo Congresso.

Na visão de médio e longo prazo, ele acredita que o cenário continua favorável, sendo que tanto a reforma da aposentadoria dos militares quanto o caso do ex-presidente hoje acabam apenas prolongando a tramitação da proposta.

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Ele avalia que é natural a volatilidade da bolsa neste cenário, ainda mais por conta do forte rali desde o início do ano, lembrando que as notícias não foram suficientes para manter o índice acima dos 100 mil pontos esta semana. Para o gestor da XP, o Ibovespa deve seguir oscilando entre 93 mil e 100 mil pontos no curto prazo.

O cenário segue favorável para que a bolsa possa romper os 100 mil pontos no longo prazo, avalia Fernandes, ponderando que este ruído após a notícia sobre Temer turva um pouco o cenário, mas não altera a visão positiva sobre o Ibovespa e também sobre o saldo final da Reforma. Fernandes mantém a projeção de uma economia aos cofres públicos de pelo menos R$ 600 bilhões em 10 anos com a realização da Reforma da Previdência.

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As acusações contra Temer

Temer e o ex-ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, foram presos hoje acusados de receber propina de obras relacionadas à Usina Nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro.

As prisões preventivas foram pedidas pelo Ministério Público Federal e determinadas pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, no âmbito das operações Radiotiatividade, Pripryat e Irmandade, desdobramentos da Lava Jato e que investigam os pagamentos ilegais a políticos durante a construção da usina nuclear.

Na investigação, são apurados crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, em razão de possíveis pagamentos ilícitos feitos por determinação do empresário José Antunes Sobrinho, da empresa de engenharia Engevix, para o grupo criminoso, supostamente liderado por Michel Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronuclear para empresas indicadas pelo referido grupo.

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De acordo com o MPF, foi identificado sofisticado esquema criminoso para pagamento de propina na contratação das empresas Argeplan, AF Consult Ltd e Engevix para a execução do contrato de projeto de engenharia eletromecânico 01, de Angra 3.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.