Por que o dólar não está caindo enquanto a bolsa não para de bater recordes de alta?

Moeda norte-americana teve forte queda nos primeiros dias do ano, mas passou a recuperar seu valor e não tem tido força para cair

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Apesar de não ser uma regra, é comum no mercado afirmar que, quando o Ibovespa sobe, o dólar cai (e vice-versa). Porém, neste rali de início de ano da bolsa, este movimento não está tão sincronizado, e enquanto o principal índice da bolsa não para de quebrar recordes de alta, o dólar tem tido dificuldade para cair.

Após encerrar 2018 valendo R$ 3,87, o dólar iniciou um forte movimento de queda, chegando a R$ 3,71 em apenas três pregões. Este movimento, porém, perdeu força e desde então a moeda tem oscilado na faixa entre R$ 3,70 e R$ 3,75.

Segundo o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, não existe algo que realmente justifique este movimento lateralizado da moeda norte-americana, a não ser fatores técnicos. “Há fluxo e otimismo interno e externo, inclusive com petróleo voltando a subir”, explica indicando que a tendência era de queda do dólar.

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Para ele, o repique par a faixa entre R$ 3,75 e R$ 3,80 foi uma grande oportunidade de venda e apesar do mercado ainda não ter entrado em um ponto comprador, Faria avalia que a tendência é de queda. O teste, afirma, será nos R$ 3,65, que se for rompido poderá levar o dólar para a casa dos R$ 3,50 nos próximos meses.

Já Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da NGO, explicou em relatório o cenário técnico que tem pressionado o dólar mesmo com o rali da bolsa.

Segundo ele, o fluxo cambial de US$ 136 milhões nas duas primeiras semanas do ano foi muito baixo em relação às projeções, em um cenário em que os bancos autorizados a operar em câmbio “detém expressivo volume de posição vendida, em torno de US$ 25 bilhões, que para ser atenuado precisa de fluxo efetivo de divisas”.

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Em meio a tudo isso, o Banco Central está dando suporte a esta posição dos bancos, ancorando-os parcialmente com a concessão de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra de US$ 12,25 bilhões. “Este contexto fragiliza o viés de apreciação do real que era esperado e deixa a formação do preço pressionada e com viés de alta”.

Se de um lado Nehme credita este movimento do câmbio ao cenário doméstico, Faria ressalta que a posição de investidores estrangeiros segue muito alta. Após fechar o ano passado em US$ 32 bilhões, eles seguem comprando e agora o valor chega a US$ 35 bilhões.

“Historicamente, na minha observação, o real sobe com mais facilidade com venda de dólares pelos estrangeiros”, explica o diretor da Wagner. Ou seja, os “gringos” também têm papel importante na manutenção do dólar acima dos R$ 3,70.

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Vale lembrar, que mesmo na bolsa, apesar das diversas renovações de máximas, o movimento tem sido liderado praticamente apenas pelos investidores domésticos. O que se tem visto é que o estrangeiro ainda está esperando atitudes mais concretas do novo governo, em especial sobre a reforma da Previdência, para começar a entrar no mercado brasileiro.

Quando isso acontecer, analistas acreditam que deverá desencadear um novo rali no Ibovespa, movimento que também deve atingir o dólar, que por sua vez pode passar a testar suas mínimas.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.