Ibovespa afunda 3,4% com Petrobras e bancos no pior pregão desde o “Joesley Day”

Índice caiu forte enquanto moeda norte-americana reverteu a queda da manhã após decisão surpreendente do Copom

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Em queda desde a abertura, o Ibovespa acentuou as perdas na tarde desta quinta-feira (17) puxado pela forte queda da Petrobras (PETR4) e bancos, como Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC3), registrando assim seu pior pregão em um ano. Mais cedo, o cenário externo pesou com a piora dos índices norte-americanos após o presidente Donald Trump afirmar que as conversas dos Estados Unidos com a China para acordos comerciais provavelmente não terão sucesso.

Isso tudo se junta ao cenário negativo do mercado desde o início do dia puxado pela reação da surpresa do Copom (Comitê de Política Monetária) ao manter a Selic em 6,50% ao ano, além da nova alta dos Treasuries norte-americanos, que superaram os 3,10% e puxaram o dólar para uma nova alta.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com forte queda de 3,37%, aos 83.621 pontos, em seu pior pregão desde o “Joesley Day”, no dia 18 de maio de 2017, quando o índice afundou 8,80%. O volume financeiro ficou em R$ 17,277 bilhões. O dólar, por sua vez, registrou ganhos de 0,62%, cotado a R$ 3,7012 na venda.

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Na véspera, muitos analistas apontaram que, no caso do câmbio, a reação da manutenção dos juros deveria ser uma queda do dólar, e, apesar disso acontecer na abertura, durou pouco tempo. O salto dos Treasuries norte-americanos para mais de 3,11% – maior nível desde julho de 2011 – acabou reduzindo o apetite por risco dos investidores.

Este movimento é reflexo do retorno dos temores de que a forte alta do petróleo no primeiro trimestre resultará na alta da inflação e motivará o Fed acelerar o passo quanto ao aumento de juros este ano, como o resultado acima do esperado da produção industrial em abril. Ontem também, James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, afirmou que a expectativa de inflação está “se firmando” com o petróleo.

Em função da segurança que os títulos oferecem, os Treasuries normalmente têm sua demanda elevada em períodos de maior instabilidade nos mercados acionários e sua alta acaba reduzindo o apetite dos investidores por ativos de risco, fato que está influenciando no desempenho do Ibovespa nesta manhã em detrimento da alta das commodities.

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BC “dribla” o mercado

O BC surpreendeu e decidiu pela manutenção dos juros, o que acabou pegando muitos investidores de surpresa, já que em entrevista recente o presidente do BC, Ilan Goldfajn, quando indicou que a decisão do Copom em maio seria guiada não pela turbulência externa que está pressionando o câmbio, mas sim pelo comportamento da inflação, que segue bastante comportada, como de olho na economia, que está “patinando” neste primeiro trimestre.

Assim que foi divulgada a decisão, muitos economistas até mesmo elogiaram a decisão de ontem, mas o que de fato o mercado não está “engolindo” foi a comunicação imperfeita do Banco Central, que, de alguma forma, induziu ao erro, o que está gerando uma corrida no mercado. 

Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 dispararam 28 pontos-base, cotados aos 6,60%, enquanto com os contratos de 2021 subiram 21 pontos, aos 8,67%, com os investidores correndo para ajustar suas posições depois da decisão inesperada do Copom. No fechamento de ontem, a curva de juros apontava uma probabilidade de 60% de corte da Selic para 6,25% ao ano, cenário baseado na última entrevista do presidente do BC. 

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Destaques de ações
Com apenas três ações em alta, pesou para o Ibovespa a queda de mais de 4% da Petrobras e também a derrocada dos bancos. 18 das 67 ações que fazem parte do índice tiveram perdas de mais de 4%.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 TIMP3 TIM PART S/AON EJ 13,40 -6,36 +3,27 99,00M
 BTOW3 B2W DIGITAL ON 26,82 -6,16 +30,83 104,14M
 BRFS3 BRF SA ON 22,00 -5,82 -39,89 293,23M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 27,05 -5,75 -16,82 179,81M
 KROT3 KROTON ON 10,94 -5,53 -40,17 130,67M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 18,99 +1,28 -1,81 72,31M
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 13,68 +0,96 +1,38 139,90M
 CSAN3 COSAN ON 40,30 +0,85 -0,10 1,03B
 FIBR3 FIBRIA ON 70,64 +0,03 +48,62 106,22M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN N2 25,95 -5,26 2,99B 1,40B 93.189 
 VALE3 VALE ON 55,38 -0,93 1,12B 777,48M 43.139 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 45,48 -5,23 1,04B 519,28M 45.912 
 CSAN3 COSAN ON 40,30 +0,85 1,03B 58,38M 16.993 
 PETR3 PETROBRAS ON N2 30,21 -4,49 738,94M 301,44M 32.257 
 BBDC4 BRADESCO PN 31,35 -4,16 584,51M 379,99M 44.778 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 21,09 -1,95 497,85M 344,42M 42.113 
 BBAS3 BRASIL ON 32,87 -4,64 453,74M 327,81M 34.119 
 B3SA3 B3 ON 22,11 -4,20 419,39M 213,33M 49.695 
 BRFS3 BRF SA ON 22,00 -5,82 293,23M 171,80M 32.592 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Notícias do dia
As costuras eleitorais ganham forças e, após a desistência de Joaquim Barbosa de se candidatar pelo PSB, a legenda decidiu descartar aliança formal com o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou com o PSDB do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, afirma o Valor Econômico. Na mesa estão duas opções: aliança com outro candidato – o mais provável é Ciro Gomes (PDT) – ou ficar neutro nacionalmente.

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Já a colunista Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, aponta para a tese dos principais estrategistas de Alckmin de que a negociação entre ele e Michel Temer para a campanha de 2018 deveria passar pela garantia de um cargo para o atual presidente num eventual futuro governo. Ainda sobre Alckmin, após críticas ao PSDB, o economista Edmar Bacha aceita atuar na campanha do ex-governador e será anunciado nesta quinta como o responsável por comércio exterior na campanha do tucano, diz o mesmo jornal. 

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.