Ibovespa “ignora” derrocada em Wall Street e sobe; DIs afundam com sinalização do BC

Índice chegou a subir mais de 1%, mas perdeu força pressionado pela forte queda da bolsa norte-americana

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa chegou a esboçar uma forte alta nesta quinta-feira (27), subindo 1,03% na máxima do dia, mas a pressão vinda do exterior acabou afetando o mercado brasileiro. Em Wall Street, os principais índices caíram, com destaque para as perdas de 1% do Nasdaq. Por aqui, os investidores digerem a decisão do Copom, com a possibilidade da manutenção do ritmo de corte de juros em setembro.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com alta de 0,41%, aos 65.277 pontos, com o mercado atento ainda aos resultados corporativos do segundo trimestre, além de uma nova fase da Operação Lava Jato, que prendeu o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. O volume financeiro ficou em R$ 5,972 bilhões. O dólar comercial subiu 0,38%, para R$ 3,1561 na venda, enquanto o contrato futuro com vencimento em agosto avançou 0,49%, a R$ 3,156.

“Os mercados internacionais digerem as divulgações de balanços das empresas, e tanto nos EUA quanto na Europa o dia é intenso. Ontem, o mercado reagiu a um Fed ‘brando’, que reconhece a queda da inflação recente, e contribuiu para a queda do dólar no mundo. No Brasil, investidores reagiram às sinalizações do BC, que deixa a porta aberta para novos cortes de Selic, e coloca um viés de baixa às projeções do mercado. Do lado ‘micro’, um dia intenso, com balanços de Vale e Bradesco, entre outros”, observam os analistas da Guide Investimentos.

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Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 22 pontos-base, a 8,28%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram 14 pontos-base, a 9,35%. Os investidores repercutem a decisão do Comitê de Política Monetária por reduzir a taxa básica de juros em 100 pontos, para 9,25% ao ano, em seu menor patamar em 3 anos e 11 meses. As sinalizações do Banco Central de que o ciclo de cortes na Selic poderá ser mantido no mesmo ritmo influencia nos movimentos do mercado de renda fixa neste pregão. 

“O modelo dele [BC] está dando 4,3% para o ano que vem com 8% de Selic no final do ano, o que indica que existe espaço adicional para cortar juros”, afirmou Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset. “O cenário base do BC hoje deve ser reduzir a taxa de juros para 7,5% no final do ciclo. Dado isso, a próxima reunião será 100 pontos-base”, completou. As expectativas de juros mais baixos também impactam na bolsa, uma vez que tornam o mercado de renda variável mais atrativo, tendo em vista a queda do retorno da renda fixa.

“O resultado era aguardado pelo mercado, e a atenção estava concentrada no comunicado, que surpreendeu. O documento veio com tom menos cauteloso do que o último comunicado (maio). Trechos que sugeriam uma redução do ritmo de corte foram retirados, e diminuíram as menções sobre incertezas. Com isso, o mercado não mais se questiona sobre um corte de 0,5p.p. e 0,75p.p. para a próxima reunião, dia 6 de setembro, e agora se voltam para o intervalo de 0,75p.p. e 1,0p.p como o mais provável”, observou a equipe de análise da XP Investimentos em relatório a clientes.

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) fecharam em alta, descolados do movimento do petróleo no mercado internacional. No radar da companhia, destaque para a aprovação de emissão de até R$ 5 bilhões em debêntures simples em até quatro séries com esforços restritos de distribuição.

Pelo menos R$ 800 milhões deverão ser alocados na primeira e/ou segunda séries, que serão de debêntures incentivadas, enquanto R$ 3,2 bilhões deverão ser alocados na terceira e/ou quarta séries. As debêntures incentivadas comporão duas séries enquadradas, pelo Ministério de Minas e Energia, como prioritárias para o projeto de investimento na área de infraestrutura de petróleo e gás natural.

Em outro comunicado, a estatal informou que pagará R$ 4,3 bilhões em programa regularização tributária. O conselho de administração da companhia aprovou a inclusão da empresa no PERT (Programa Especial de Regularização Tributária) para despesas relacionadas à repactuação do plano Petros. 

O valor total será dividido, sendo R$ 1,3 bilhão à vista e em espécie, e os R$ 3 bilhões restantes serão parcelados em 145 pagamentos mensais e sucessivos, vencíveis a partir de janeiro de 2018, disse a empresa. O valor parcelado considera reduções de 80% dos juros de mora, 40% da multa de ofício e 25% dos encargos legais.

Todos os valores sofrerão atualização pela taxa Selic e a adesão ao PERT representa uma economia de 34% do valor do débito, em termos nominais. O impacto negativo líquido no resultado do 2º trimestre de 2017, por sua vez, será de aproximadamente R$ 6 bilhões.

As ações da Vale (VALE3; VALE5) ficaram entre perdas e ganhos após o balanço do 2° trimestre. Depois de abrirem em leve alta, os papéis perderam força e caíram até 1%, mas logo em seguida recuperaram terreno, fechando próximos da estabilidade. Acompanharam o movimento os papéis da Bradespar — holding que detém participação na mineradora.

A mineradora mostrou uma queda de 98,3% no seu lucro do período, que passou de R$ 3,585 bilhões no segundo trimestre de 2017 para R$ 60 milhões no segundo trimestre deste ano. O resultado foi impactado pela desvalorização do real e seu efeito sobre a dívida, informou a companhia. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado totalizou R$ 8,834 bilhões, alta de 7,4% na comparação com os R$  8,228 bilhões registrados um ano antes, mas com baixa de 34,7% na comparação com os primeiros três meses deste ano, quando somou R$ 13,523 bilhões. 

A receita líquida no trimestre foi de R$ 23,363 bilhões, 8,3% acima dos R$ 21,576 bilhões na base de comparação anual, mas 12,6% se comparado ao primeiro trimestre de 2017, quando totalizou R$ 26,742 bilhões. Já a dívida líquida teve queda de 2,87%, passando de US$ 22,777 bilhões no fechamento do primeiro trimestre para US$ 22,122 bilhões no fechamento de junho.

As ações do Bradesco (BBDC3; BBDC4) recuaram após o banco reportar lucro líquido ajustado de R$ 4,704 bilhões, avanço sequencial de 1,2% e de 13% na comparação ano a ano, resultado favorecido pelo controle nas despesas administrativas e nas provisões para perdas com inadimplência. O lucro líquido não ajustado foi de R$ 3,911 bilhões no segundo trimestre, queda de 3,9% na base trimestral e de 5,4% ante mesma etapa do ano passado. 

A despesa com PDD (provisão para devedores duvidosos) foi de R$ 4,970 bilhões, baixa de 1,1% ante o segundo trimestre de 2016. Já a inadimplência acima de 90 dias foi de 4,9%, baixa de 0,7 ponto percentual ante 5,6% no primeiro trimestre, mas alta de 0,3 ponto percentual ante os 4,6% registrados no segundo trimestre de 2016. 

A carteira de crédito expandido totalizou R$ 493,6 bilhões no fim de junho, 1,8% menor em três meses e alta de 10,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. O retorno sobre patrimônio líquido médio foi de 18,2% no segundo trimestre. (Para saber mais sobre os balanços desta quinta, clique aqui).

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 NATU3 NATURA ON 23,97 +6,11 +4,66 142,72M
 JBSS3 JBS ON 7,90 +5,76 -30,48 159,76M
 SBSP3 SABESP ON 35,20 +2,74 +26,93 40,88M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 15,50 +2,11 -8,69 68,02M
 CYRE3 CYRELA REALTON 12,25 +2,08 +20,14 15,06M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CPLE6 COPEL PNB 26,20 -2,24 -0,54 7,29M
 CMIG4 CEMIG PN 8,44 -1,86 +12,45 41,62M
 CSNA3 SID NACIONALON 7,37 -1,34 -32,07 50,28M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,16 -1,15 +7,50 67,21M
 BRKM5 BRASKEM PNA 38,00 -1,12 +10,95 52,72M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE5 VALE PNA 27,81 -0,47 407,73M 465,97M 18.560 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,11 +1,49 370,59M 169,69M 28.435 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 36,96 +0,11 313,02M 327,85M 22.593 
 BBDC4 BRADESCO PN 29,71 -0,13 280,96M 284,31M 21.335 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,00 +0,15 280,30M 425,31M 27.964 
 VALE3 VALE ON 29,70 +0,13 163,52M 164,45M 11.620 
 JBSS3 JBS ON 7,90 +5,76 159,76M 82,50M 21.111 
 NATU3 NATURA ON 23,97 +6,11 142,72M 65,91M 14.884 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 20,72 +0,05 138,92M 133,35M 14.443 
 BBAS3 BRASIL ON 28,59 -0,87 135,82M 173,84M 15.392 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Noticiário político
O grande destaque fica para a 42ª fase da Operação Lava Jato, que culminou na prisão do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, além de operadores financeiros suspeitos de participarem do recebimento de R$ 3 milhões em propinas pagas pela Odebrecht. 

Bendine esteve no comando do BB entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015, e foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. De acordo com o MPF-PR, existem evidências de que ele pediu propina à Odebrecht AgroIndustrial. 

“Numa primeira oportunidade, um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões realizado por Aldemir Bedine à época em que era presidente do Banco do Brasil, para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. Marcelo Odebrecht e Fernando Reis, executivos da Odebrecht que celebraram acordo de colaboração premiada com o Ministério Público, teriam negado o pedido de solicitação de propina porque entenderam que Bendine não tinha capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil”, diz a nota. 

Além disso, segundo o MPF, “há provas apontando que, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, o que ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, Aldemir Bendine e um de seus operadores financeiros novamente solicitaram propina a Marcelo Odebrecht e Fernando Reis. Desta vez, as indicações são de que o pedido foi feito para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava Jato”.

Indicadores econômicos

O Índice de Preços ao Produtor, que inclui preços da indústria extrativa e de transformação, registrou queda de 0,21% em junho, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A taxa de maio foi revisada de uma alta de 0,12% para elevação de 0,10%. Com o resultado agora anunciado, o IPP de indústrias de transformação e extrativa acumulou recuo de 0,30% no ano. A taxa em 12 meses ficou positiva em 1,52%. Considerando apenas a indústria extrativa, houve redução de 6,22% em junho, após a queda de 11,02% registrada em maio, segundo o IBGE. Já a indústria de transformação registrou ligeiro recuo de 0,01% no IPP de junho, ante alta de 0,54% em maio.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.