Ibovespa opera em queda, de olho em resistência de Temer e agenda econômica; dólar sobe mesmo com swaps

Índice sinaliza dia de correção com feriado nas principais bolsas mundiais

Marcos Mortari

Painel de ações (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – Após uma semana de respiro para os investidores em meio ao agravamento da crise política, o Ibovespa sinaliza leve correção nesta segunda-feira (29). Às 12h59 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira caía 0,74%, a 63.608 pontos, puxado sobretudo pelas ações dos bancos e companhias elétricas, em dia de feriado para as bolsas de Nova York, Londres e Xangai. No radar do mercado, destaque para os sinais do presidente Michel Temer de que pretende resistir na presidência da República, com a transferência de Torquato Jardim da Controladoria-Geral da União para o ministério da Justiça.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuavam 2 pontos-base, a 9,31%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíam 4 pontos-base, a 10,45%. Os contratos de dólar futuro com vencimento em junho deste ano, por sua vez, subiam 0,41%, sinalizando cotação de R$ 3,276, mesmo com oferta de contratos de swap cambial pelo Banco Central.

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Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis do setor de papel e celulose sobem forte nesta segunda-feira, entre alta do dólar e elevação de recomendação. O Santander revisou o setor de papel e celulose, elevando Fibria (FIBR3) e Suzano (SUZB5) de manutenção para compra, com preços-alvos respectivos de R$ 43,00 e R$ 17,00, ante R$ 35,00 e R$ 15,00. Já a Klabin (KLBN11) teve a recomendação reduzida para manutenção pelo banco, com o preço-alvo caindo de R4 20,00 para R$ 18,00.

As ações da Vale (VALE3; VALE5) viraram para alta em dia misto para os preços do minério de ferro. Já as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) têm leves perdas mesmo em meio à alta dos preços do petróleo no mercado internacional.

O noticiário sobre a JBS (JBSS3) segue bastante movimentado. O Ministério Público Federal (MPF) fez uma nova proposta para fechar o acordo de leniência com o grupo J&F, que controla a JBS, mas não quer abrir mão da cifra de R$ 11 bilhões. Houve um desconto na multa, mas muito pequeno, de cerca de R$ 170 milhões. A concessão que foi feita pelos procuradores diz respeito ao prazo de pagamento. Antes, a dívida deveria ser paga em 10 anos e agora poderá ser quitada em 13 anos. Ficou determinado ainda que o acordo será fechado exclusivamente com a holding J&F, que será responsável pelos pagamentos, eximindo as demais empresas do grupo do compromisso.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 TIMP3 TIM PART S/AON 9,70 -3,00 +24,62 5,17M
 CIEL3 CIELO ON 23,09 -2,90 +0,35 30,93M
 RAIL3 RUMO S.A. ON 8,55 -2,62 +39,25 16,42M
 LREN3 LOJAS RENNERON 26,44 -2,58 +25,88 26,04M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 17,43 -2,30 +12,23 4,74M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 FIBR3 FIBRIA ON 37,72 +3,29 +21,18 22,73M
 BRAP4 BRADESPAR PN 19,37 +3,03 +33,66 8,49M
 JBSS3 JBS ON 7,92 +2,72 -30,30 106,24M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 15,83 +2,53 +14,47 33,34M
 CSNA3 SID NACIONALON 7,14 +2,44 -34,19 16,38M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Agenda econômica da semana

O noticiário econômico já é destaque no início desta semana, com os investidores reagindo à decisão da Moody’s no final da tarde da última sexta-feira de alterar a perspectiva do rating brasileiro de estável para negativa, citando aumento da incerteza em relação às reformas e a consequente ameaça crescente à recuperação econômica. O Ministério da Fazenda, em nota, reafirmou o compromisso do governo com a agenda de reformas. Além disso, o mercado reage à decisão de Michel Temer de nomear  Paulo Rabello Castro, então presidente do IBGE, para substituir Maria Silvia Bastos no comando do BNDES.

Vale destacar que, na quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidirá a nova taxa básica de juros, em um cenário de incerteza após o estouro da crise política. As apostas de corte de 125 pontos-base eram cada vez maiores antes da delação, mas o mercado mudou completamente a projeção diante da situação atual do governo. Nos últimos dias, algum alívio retornou e as apostas majoritárias apontam para BC manter o ritmo de corte de 100 pontos, levando a Selic a 10,25%. No dia seguinte será a vez do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, que sairá às 9h. O indicador pode mostrar, no comparativo trimestral, a volta de algum crescimento após dois anos de recessão. Segundo projeção compilada pela Bloomberg, o resultado deve ser uma expansão de 1,2% da economia. 

Nos EUA, atenção para o conjunto de dados de inflação, que sairão às 9h30 (horário de Brasília) da terça-feira (30). Enquanto isso, na sexta (2), será apresentado o Relatório de Emprego, que ganha mais importância após as sinalizações mais “dovish” do Fed na ata do Fomc divulgada nesta semana. Com menos força, o mercado deve ficar de olho ainda no Livro Bege na quarta-feira e discursos de dirigentes do Fed.

Relatório Focus

Com a crise política que acertou em cheio o governo Michel Temer, os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central adotaram tom um pouco mais pessimista para os principais indicadores econômicos do país, conforme aponta a mais recente versão do relatório Focus, divulgada na manhã desta segunda-feira (29). Segundo o levantamento, a mediana das estimativas para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) saltaram de 3,92% para 3,95% em 2017 e de 4,34% para 4,40% no ano seguinte — ainda abaixo do atual centro da meta estabelecida pelo governo. Do lado do PIB (Produto Interno Bruto), houve uma leve redução de 0,50% para 0,49% neste ano e de 2,50% para 2,48% em 2018.

As expectativas para a taxa básica de juros, no entanto, foram mantidas em 8,50% ao final dos dois anos, o que corresponde a respectivas taxas reais de 4,55% e 4,10%, considerando-se as revisões nas expectativas para o IPCA. Já do lado do câmbio, houve uma leve elevação nas projeções para o dólar: R$ 3,25 para este ano (R$ 0,02 acima do valor apresentado no último levantamento) e R$ 3,37 (R$ 0,01 acima da última previsão).

Entre os cinco economistas que mais acertam em suas análises — o chamado “top 5” –, as apostas para a inflação oficial recuaram de 3,89% para 3,70% neste ano e se mantiveram em 5,36% no ano seguinte. Já do lado da Selic, não houve alteração nos 8,50% projetados neste ano, ao passo que as apostas para 2018 apresentaram uma leve alteração de 8,38% para 8,50%. Do lado do câmbio, o cenário continua o mesmo: R$ 3,35 e R$ 3,55, nesta ordem.

Noticiário político

Temer resiste no cargo em meio à crise política e, de acordo com o jornal Valor Econômico na sexta-feira, o presidente prepara um “pacote de bondades” para tentar recuperar o apoio perdido. Segundo a publicação, no Planalto, a aposta é de que “a economia vai segurar o governo”. Para isso, foi criada uma agenda positiva turbinada para os próximos dias, com medidas provisórias relativas ao refinanciamento das dívidas dos empresários (Refis) e dos produtores rurais (Funrural) já prontas no Ministério da Fazenda. 

Porém, os líderes políticos seguem discutindo alternativas de sucessão para o caso de o governo cair. Neste sentido, vale destacar a troca de comando feita pelo presidente nos ministérios da Justiça e da Transparência. Osmar Serraglio, que estava na Justiça desde março, assumirá a Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (CGU), trocando de lugar com Torquato Jardim. Conforme destacam jornais, o nome de Jardim para a Justiça significa uma cartada de Temer em sua defesa no TSE. Conforme aponta o Valor, o novo titular da Justiça fez carreira na advocacia eleitoral e foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral, que está para julgar o mandato do presidente, durante oito anos. Sempre foi consultado por Temer nos temas que se referem à sua defesa.

Vale destacar ainda que, no último domingo, Temer publicou artigo na Folha de S. Paulo, em que afirma que entregará, em 2019, um país melhor e criticou o acordo da PGR com os irmãos Batista. “Aos criminosos que tudo tramaram foi dado passaporte livre para viver com luxo em qualquer parte do mundo”. 

Plano B para previdência

Em destaque no noticiário, estão as notícias sobre um plano B para atenuar um possível fracasso com a reforma da previdência em meio à crise política. De acordo com O Globo, medidas provisórias ou projetos de lei poderão entrar em vigor imediatamente para conter o aumento das despesas com benefícios de forma a elevar o tempo mínimo de contribuição na aposentadoria por idade nas áreas urbana e rural, atualmente em 15 anos, e a redução do valor da pensão por morte, que hoje é integral, independentemente do número de dependentes, diz o jornal. O Globo destaca ainda que, sem a reforma da Previdência, o ministério da Fazenda vê PIB de 2017 estagnado.

Bolsas mundiais

A segunda-feira é de leve queda para os mercados mundiais, em dia que conta com feriados em Nova York, Londres e Xangai. Com isso, os  mercados acionários asiáticos tiveram leves variações nesta segunda-feira, ficando sem incentivos para superar as máximas de dois anos com muitos dos principais mercados fechados por feriados. 

O índice Nikkei ficou praticamente estável enquanto os investidores aguardavam importantes indicadores econômicos dos Estados Unidos nesta semana, incluindo dados sobre o emprego, para fornecer pistas sobre quanto os juros norte-americanos podem aumentar. Por outro lado, os investidores ficam de olho na continuidade da tensão geopolítica, após a  Coreia do Norte disparar pelo menos um míssil balístico de curto alcance nesta segunda-feira que atingiu o mar na costa leste do país, no mais recente teste de um programa de mísseis que avança rapidamente, desafiando a pressão internacional e ameaças de mais sanções. Já na Europa, o mercado fica de olho na fala do presidente do BCE Mario Draghi, às 10h. 

(Com Reuters, Agência Brasil, Agência Estado e Bloomberg)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.