Na esteira de Wall Street, Ibovespa sobe 1%, puxado por Petrobras e bancos; dólar recua

França trouxe otimismo aos mercados internacionais, com os investidores precificando cada vez menos o risco de um "cavalo de pau" na política local

Paula Barra

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SÃO PAULO – A ausência de surpresas nas eleições presidenciais na França trouxe otimismo aos mercados internacionais, com os investidores precificando cada vez menos o risco de um “cavalo de pau” na política local e de um novo “golpe” nas estruturas europeias. A reação positiva dos investidores globais repercutiu nas movimentações da B3 após o feriado de Tiradentes. Com isso, o benchmark da bolsa brasileira fechou em alta de 0,99%, a 64.389 pontos, puxado sobretudo pelas ações de Petrobras e bancos. O volume financeiro movimentado nesta sessão foi de R$ 7,6 bilhões. 

Já os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 5 pontos-base, a 9,49%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 recuaram 2 pontos-base, a 9,91%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em maio deste ano caíam 0,71%, sinalizando cotação de R$ 3,132. Vale menção que o mercado futuro da bolsa encerra o pregão às 18h. O dólar comercial fechou em queda de 0,97%, a R$ 3,1257 na compra e R$ 3,1267 na venda. 

O movimento do mercado doméstico acompanhou também os principais índices acionários dos Estados Unidos, que fecharam em alta superior a 1% nesta sessão, com a diminuição do risco político ao redor do mundo. Por lá, os investidores se animam ainda com a expectativa de que o presidente dos EUA, Donald Trump, possa anunciar um corte de impostos na quarta-feira. Hoje, Trump ordenou à equipe para acelerar os esforços para o rascunho do plano de reforma tributária, com previsão de corte de 15% na carga tributária corporativa e priorizando cortes nas taxas em lugar de tentativas de não acumular o déficit fiscal. 

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Confira os principais destaques deste pregão e da semana:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) subiram, descoladas dos preços do petróleo, que viraram para queda, em meio às dúvidas do mercado sobre o corte de produção da commodity pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Do lado positivo, os investidores reagiram ao novo reajuste de preços da companhia e seguindo o ânimo internacional com o segundo turno entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen. 

Na última quinta-feira, a estatal decidiu aumentar o preço do diesel nas refinarias em 4,3% e o da gasolina em 2,2%, em média, com a alta valendo desde a última sexta-feira. Além de câmbio e preços internacionais do petróleo e derivados, a decisão também levou em conta ajustes na competitividade da empresa no mercado interno. O Credit Suisse também destacou esperar reação marginalmente positiva do mercado ao ajuste, “principalmente devido prêmio maior do diesel em relação ao ajuste de preços de fevereiro”. Além disso, a estatal informou que recebeu de seu acionista controlador, a União, pedido de substituição de candidatos para o conselho fiscal da companhia. As eleições irão ocorrer em assembleia geral ordinária (AGO) marcada para 27 de abril.

No mesmo sentido, a Vale (VALE3; VALE5) fechou em alta, embora em movimento mais ameno ao visto nesta manhã, quando subiram mais de 2%. Os papéis acompanharam também o ânimo internacional e a recuperação do minério na sexta, quando a commodity subiu mais de 4% em Qingdao, quando a B3 estava fechada por conta do feriado de Tiradentes. Contudo, nesta segunda, o dia foi de queda de cerca de 2,5% da commodity, para US$ 66,53 a tonelada.

A companhia ainda aprovou na última quinta-feira o pagamento de R$ 4,67 bilhões em dividendos, correspondentes a R$ 0,905571689 por ação ON e PN em circulação no mercado. São elegíveis a receber a remuneração detentores de ações da mineradora no Brasil em 20 de abril e detentores de ADRs (American Depositary Receipts) na Nyse e na Euronext Paris em 26 de abril. O pagamento será realizado a partir de 28 de abril. Além disso, a agência de classificação de risco S&P revisou a perspectiva do rating global da Vale – atualmente “BBB” – de estável para positiva, refletindo, principalmente, os esforços da mineradora para reduzir sua dívida. As ações da empresa também devem reagir à queda do minério de ferro no mercado spot.

As ações da Hypermarcas (HYPE3) subiram forte com rumores de venda. Segundo informações da coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, João Alves de Queiroz Filho, o Junior, dono da Hypermarcas, tem hoje em sua mesa três propostas do exterior para vender a empresa.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa foram:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 HYPE3 HYPERMARCAS ON ED 30,35 +3,83 +18,80 442,92M
 QUAL3 QUALICORP ON 22,10 +3,46 +14,81 76,48M
 NATU3 NATURA ON 31,49 +3,28 +37,49 36,68M
 BRKM5 BRASKEM PNA 32,80 +2,98 -4,23 46,20M
 RADL3 RAIADROGASILON 64,00 +2,93 +4,87 64,79M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa foram:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ENBR3 ENERGIAS BR ON 13,11 -2,60 -2,16 29,76M
 CYRE3 CYRELA REALTON 12,94 -1,97 +26,00 25,32M
 CPLE6 COPEL PNB 29,86 -1,74 +9,14 16,39M
 PCAR4 P.ACUCAR-CBDPN 63,50 -1,52 +15,98 56,16M
 SBSP3 SABESP ON EJ 30,35 -1,40 +9,44 78,55M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)


Relatório Focus
O cenário projetado pelos economistas consultados pelo Banco Central para os principais indicadores brasileiros melhorou da semana retrasada para cá. Conforme mostra a mais recente versão do relatório Focus, divulgada pela autoridade monetária na manhã desta segunda-feira (24), a mediana das expectativas dos especialistas para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) caiu de 4,06% para 4,04% neste ano e de 4,39% para 4,32% em 2018, ao passo que as apostas para o PIB (Produto Interno Bruto) subiram de 0,40% para 0,43% em 2017. Em 2018, as projeções para a atividade econômica se mantiveram em crescimento de 2,50%.

Do lado dos juros, a mediana das projeções continuou em 8,5% para a Selic ao final deste ano e do próximo, o que corresponde a respectivas taxas de juros reais de 4,46% e 4,18%, considerando-se as avaliações para inflação no mesmo período. Para o câmbio, os economistas consultados pelo BC seguem apostando no dólar valendo R$ 3.23 ao final de 2017, ao passo que para o ano seguinte, houve uma pequena redução nas expectativas, de R$ 3,40 para R$ 3,38.

Entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções — o chamado “Top 5” –, a mediana das estimativas para a inflação no cenário de curto prazo cresceram de 3,73% para 3,85% neste ano e se mantiveram em 4,25% no ano seguinte. Do lado do câmbio, as apostas para o dólar seguiram em R$ 3,35 e R$ 3,45 em 2017 e 2018, respectivamente. Não houve alteração nas projeções para a Selic: 8,5% nos dois períodos.

Agenda

A semana tem três indicadores relevantes referentes às contas públicas: o relatório da dívida pública referente a março sai nesta segunda, os resultados fiscais do governo central, na quinta-feira, ambos sem horário definido, e o resultado setor público consolidado, na sexta-feira, às 10h30. No mesmo dia, será conhecida a taxa de desemprego, às 9h. Ao longo da semana, o BC divulga ainda as notas de mercado aberto, na segunda-feira, de setor externo, na terça-feira, e de operações de crédito e de política monetária, na quarta-feira, todas às 10h30. Na quinta-feira, o Tesouro realiza leilão tradicional de LTN e NTN-F, às 11h30. Entre os dados semanais, destaque para a balança comercial já nesta segunda, às 15h, e o fluxo cambial na quarta, às 12h30.

Nos Estados Unidos, foco no PIB do primeiro trimestre e para a inflação medida pelo PCE, que serão conhecidos na sexta-feira, às 9h30. No mesmo dia, o PMI de Chicago sai às 10h45, e a confiança do consumidor medida pelo Sentimento de Michigan, às 11h. Ao longo da semana, serão divulgados os números de vendas de novas moradias e a confiança do consumidor medida pelo Conference Board, na terça-feira, às 11h, os estoques de petróleo, na quarta-feira, às 11h30. Na quinta-feira, às 9h30, saem a balança comercial, os estoques no atacado, as encomendas de bens duráveis e os pedidos de auxílio-desemprego. De olho na política monetária, atenção aos os discursos de presidentes regionais do Fed: Neel Kashkari, de Minneapolis, nesta segunda, às 12h30 e às 16h15, e Patrick Harker, da Filadélfia. na sexta-feira, às 15h30. Por fim, atenção para o “grande anúncio” de Donald Trump, que deve entregar seu plano de reforma tributária na próxima quarta-feira, segundo ele afirmou na sexta-feira, sinalizando para um grande corte de impostos. 

Na Europa, destaque para a decisão de juros do BCE (Banco Central Europeu), na quinta-feira, às 8h45. No mesmo dia, às 9h, sai a inflação ao consumidor medida pelo CPI da Alemanha, às 9h. Na sexta-feira, foco no PIB do Reino Unido, às 5h30 e o CPI da zona do euro, às 6h. Na China, saem os indicadores de atividade econômica, às 10h desta segunda-feira, e os PMIs Industrial e de Serviços às 22h do sábado (29).

Agenda política

No radar político, foco na tramitação do projeto de reforma da Previdência na comissão especial. A votação do texto está marcada para o dia 2 de maio e analistas alertam que os deputados podem se deixar influenciar pelos protestos do Dia do Trabalho (1º), na véspera, e pela greve geral convocada por centrais sindicais para a sexta-feira (28).  Na última sexta-feira, em evento promovido pelo Lide, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) apontou já admitir adiar a votação inicialmente prevista para o dia 8 de maio. “Se possível vamos votar a matéria no dia 8 de maio, se não for possível, a partir do dia 15”, disse ele. Na tarde de domingo, Temer esteve reunido com ministros para mapear os apoios para a votação do relatório na comissão especial da Câmara e quer que o texto do relatório elaborado por Arthur Maia (PPS-BA) continue como está, sem mais concessões. 

Em segundo plano, o mercado monitora a votação dos destaques do projeto da negociação da dívida dos Estados e a tramitação da reforma trabalhista, que teve o pedido de urgência aprovado na semana passada. Também no radar, a possível instauração da CPI da Previdência, que pretende investigar a situação financeira da Previdência Social e casos de fraude e sonegação das contribuições obrigatórias por parte de grandes empresas. Outro objetivo seria checar a veracidade dos números apresentados pelo governo sobre o rombo no INSS para justificar a necessidade da reforma previdenciária em tramitação no Congresso.

Bolsas mundiais

Os investidores globais reagiram positivamente ao segundo turno “esperado” entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen e as maiores chances de vitória do candidato centrista. Os mercados acionários europeus avançaram, os bancos tiveram alta e o índice francês atingiu a máxima de nove anos. O índice FTSEurofirst 300, por sua vez, subiu 2,2%, a 1.517 pontos. “A razão clara para esta alta é que os mercados europeus vinham sendo contidos pelo risco político nos últimos 12 meses”, disse o gerente de fundos de ações da Europa na Henderson, Tim Stevenson. A principal medida de ansiedade no mercado acionário, o índice de volatilidade STOXX 50, recuou 8,8 pontos, eliminando o rápido avanço que teve neste mês, quando os investidores mostraram cautela com a eleição francesa.

Contrastando com esse desempenho, estiveram as bolsas chinesas, que caíram mais de 1% em seu pior dia neste ano em meio a sinais de que Pequim vai tolerar mais volatilidade no mercado enquanto reguladores reprimem cada vez mais o sistema bancário sem regulação e negociações especulativas. A confiança do mercado também foi afetada pela expectativa de uma grande quantidade prevista de ofertas públicas iniciais, o que vai injetar mais oferta para o mercado enfraquecido, e pelas preocupações de que a segunda maior economia do mundo começará a perder força nos próximos meses. Sinais recentes de estabilidade na economia da China “tem fornecido um bom ambiente externo e uma janela de oportunidade para reduzir a alavancagem no sistema financeiro, fortalecer a supervisão e conter os riscos”, noticiou a agência de notícias oficial Xinhua no domingo. Por outro lado, o japonês Nikkei subiu 1,37% repercutindo as eleições francesas.