Publicidade
SÃO PAULO – Enquanto não cessam os apontamentos sobre as relações do governo de Donald Trump com a Rússia, em nível interno uma denúncia sobre possível desvio de finalidade também tem trazido dores de cabeça ao bilionário em seus primeiros meses como presidente dos Estados Unidos. Alçado à posição de conselheiro especial informal do governo em assuntos relacionados à desregulação de setores da economia, o bilionário Carl Icahn tem sido acusado de se aproveitar da condição conquistada para reforçar o lobby do setor de etanol em troca de um acordo em torno de uma alteração que pode resultar em uma economia de US$ 200 milhões por ano a uma de suas companhias.
As informações foram veiculadas pelo portal The Intercept, que trata o caso como o mais claro exemplo de capitalismo de amizades até o momento na Era Trump. Conforme mostra a reportagem, o megainvestidor tem usado sua influência no governo para costurar mudanças nas exigências pelo uso mínimo de fontes renováveis de energia. Pela lei norte-americana, as companhias de refino de petróleo são responsáveis por assegurar o cumprimento de uma norma que exige que toda a gasolina vendida no país tenha um volume mínimo de recursos renováveis — normalmente etanol à base de milho.
Icahn é o acionista majoritário da CRV Energia, uma refinaria que não tem infraestrutura para combinar etanol ao combustível produzido. Com isso, a companhia acaba tendo que comprar créditos para cumprir às exigências legais. Tal prática fez com que, no acumulado do ano passado, a empresa tivesse que desembolsar US$ 205,9 milhões com créditos de energias renováveis, conforme mostra o demonstrativo de resultado apresentado à SEC (Securities and Exchange Commission).
Continua depois da publicidade
A estratégia do bilionário para evitar tais perdas seria uma alteração na regulação estabelecida. Icahn tem articulado para que a obrigação para assegurar o cumprimento do conteúdo de fontes renováveis exigido seja transferido das refinadoras para os atacadistas de gasolina. Para isso, o megainvestidor costura apoio com grandes grupos de produtores de combustíveis renováveis — destaque para a RFA (Renewable Fuels Association) –, oferecendo uma contrapartida interessante ao lobbies do setor de etanol. Pelo acordo, os 15% de etanol misturados seriam obrigatórios durante o ano inteiro. Atualmente, as exigências são flexibilizadas durante o verão.
Em outra demonstração de força sobre o governo Trump, Icahn é apontado como o responsável por vetar a escolha de Scott Pruitt como chefe da Agência de Proteção Ambiental, responsável por criar as novas regras demandadas pelo bilionário. Resta saber se o “capitalismo de laços” vencerá mais essa batalha.