Por que a Bolsa subiu e o dólar caiu se Yellen praticamente confirmou a alta de juros nos EUA?

Com dois fatores como base, o mercado brasileiro reagiu de forma positiva à fala da chair do Fed, diferente do que vinha acontecendo quando se cogitava alta de juros

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Para o investidor brasileiro, quando se ouve falar em alta de juros nos Estados Unidos, o raciocínio lógico é que a Bolsa irá cair e o dólar disparar. O entendimento é que com os juros mais altos por lá, o investidor deve tirar seus investimentos do Brasil, onde o rendimento é bem maior, voltando para o mercado norte-americano. Mas por que o mercado reagiu bem ao discurso de Yellen hoje?

Pouco depois do discurso dela, o Ibovespa ganhou força, chegando a subir 1,44% na máxima do dia, enquanto o dólar passou a cair forte, com perdas superiores a 1%. No fim, o índice encerrou o dia com ganhos de 1,41%, enquanto o dólar recuou 1,15%. Confira o desempenho completo do mercado nesta sessão clicando aqui

A presidente do Federal Reserve praticamente confirmou que a autoridade irá elevar os juros em sua reunião no próximo dia 15 de março. Mesmo assim, a Bovespa ganhou força enquanto o dólar afundou ante o real. Existem, basicamente, dois motivos para este cenário visto no mercado doméstico nesta sexta-feira (3).

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O primeiro fato é o motivo pelo qual Yellen reforçou esta alta de juros. No fim do ano passado, ganhou força a tese de que o Fed iria subir as taxas de forma mais rápida por conta da eleição de Donald Trump e as políticas que ele iria adotar no país. Mas em sua fala hoje, a chair não citou o presidente americano e mostrou que sua visão está baseada na efetiva melhora da economia.

Ou seja, o Fed está subindo os juros pelo “bom” motivo e não de forma forçada. Yellen disse que as perspectivas para o crescimento moderado contínuo já eram encorajadoras e os riscos do exterior parecem ter recuado. Além disso, ela reforçou que o mercado de trabalho está se fortalecendo e a inflação está crescendo em direção à meta de 2%.

Um segundo fator importante está no tom seguido pelos vários dirigentes do Fed nos últimos dias. Foram pelo menos cinco integrantes da autoridade discursando nesta semana e todos seguiram a linha de que parece ser apropriado elevar os juros nos EUA neste momento. Isso traz tranquilidade para o mercado e ajuda a evitar maiores volatilidades.

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Na última quarta-feira, Lael Brainard, a dirigente do Fed mais próxima de Yellen, surpreendeu ao fazer discurso hawkish, mas manteve a linha de seus companheiros. Ela disse que a alta dos juros se aproxima ao comentar que a economia dos EUA parece ter força suficiente para suportar a elevação das taxas.

Aliado a este cenário, é importante lembrar do movimento do mercado nos últimos dias, em especial a quinta-feira, quando o dólar disparou para a casa de R$ 3,15 enquanto o Ibovespa caiu forte, já precificando este cenário de alta de juros. Ou seja, o tom adotado por Yellen hoje já estava no preço do mercado hoje, evitando uma reação mais acentuada.

Segundo a equipe da XP Investimentos, “a fala de Yellen não desaprova a percepção do mercado – que já vinha precificando que o Fed deve elevar sua taxa na próxima reunião”. Por outro lado, os analistas reforçam que ainda falta uma “confirmação” para o mercado, que virá no Relatório de Emprego nos EUA na próxima sexta-feira. Dados positivos cravarão a alta de juros, enquanto uma surpresa negativa pode acabar “freando” o Fed.

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“Importante destacar que o comportamento do mercado, logo após a manifestação de Yellen, não parece sancionar algum receio de que a alta de juros ocorra pelos motivos ruins: receio de Trump”, diz a XP. “Entendemos que, visto de hoje, a probabilidade do Fed elevar sua taxa de juros em 15 de março é o cenário mais provável”, conclui a corretora.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.