Em busca de uma “agenda positiva”, governo lança plano com 55 novas concessões

É a segunda fase do PPI, lançado no ano passado. Com isso, Temer quer fazer um contraponto às ameaças da Lava-Jato e as dificuldades da reforma da Previdência.

José Marcio Mendonça

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Otimismo para efeito externo, como, por exemplo, apregoar que a proposta estará aprovada, quase intocada, na Câmara e no Senado até o fim do primeiro semestre. E apreensão entre quatro paredes, diante das resistências de aliados a algumas das medidas consideradas mais drásticas por eles e inegociáveis pelo governo, como a idade de 65 anos para a aposentadoria. Este é hoje o humor oscilante dentro do Palácio do Planalto em relação à sua prioridade um no momento, a Reforma da Previdência.

No fim de semana e na segunda-feira em um jantar com líderes políticos, Temer, agora à frente das negociações, procurou estabelecer os limites das concessões que poderão ser feitas e convencer aliados a aceitá-las. Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, Temer disse que não abre mão da idade limite, da regra de transição para os que estão perto de se aposentar e da redução do valor assegurado de pensão por morte. As resistências maiores estão nos 65 anos, foi o recado devolvido ao presidente.

O presidente deu sinais de que pretende jogar pesado. Já estuda, por exemplo, a substituição de alguns deputados governistas mais recalcitrantes à proposta oficial na Comissão Especial da Câmara. E recados estão sendo distribuídos pelos corredores de Brasília avisando que os infiéis serão tratados a pão e água, sem verbas e sem cargos para correligionários. A famosa “planilha do Padilha”, com o quem é quem na área oficial, vai ser acionada. Para o “bem” e para o “mal”.

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Mas enquanto se envolve nessa queda de braço árdua e desgastante e acompanha apreensivo o que vem aí da Operação Lava-Jato e da Justiça Eleitoral, o presidente  Michel Temer procura criar uma agenda positiva para tirar o governo da defensiva, só das dificuldades.

Hoje, por exemplo, depois da uma reunião no Palácio do Planalto, deverá ser anunciada mais uma etapa do Programa de Parcerias e Investimentos, com uma nova lista de concessões, especialmente na área de rodovias e ferrovias. Será feito também um balanço dos avanços da primeira fase do PPI, lançado no ano passado.

O novo plano inclui 55 novas concessões e uma das surpresas será a inclusão da privatização de 15 companhias estaduais de saneamento, com financiamento do BNDES. Entram também na lista 35 linhas de transmissão de eletricidade.

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Prepara-se ainda uma viagem de Temer ao Nordeste para inaugurar trechos da transposição do São Francisco.

POSIÇÃO DE GILMAR AJUDA

PARTIDOS NA CAMPANHA

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Os depoimentos de ontem na Justiça Eleitoral de mais três executivos da Odebrecht não renderam (por enquanto?) nenhum vazamento sensacional como os anteriores. A novidade do dia veio de um depoimento em Curitiba ao juiz Sérgio Moro: a confirmação que o “Italiano” das planilhas de propina da empreiteira é mesmo o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci.

Não ficou esclarecido se na conversa do presidente Michel Temer com Marcelo Odebrecht no Palácio do Jaburu, quando foi pedida ajuda da empreiteira para as campanhas de 2014 do PMDB, ficou acertado já entre os dois que o apoio seria de R$ 10 milhões ou se a definição do valor ocorreu posteriormente, entre um executivo da companhia e o hoje ministro Eliseu Padilha.

Mas as movimentações dos funcionários da construtora no TSE e a proximidade da divulgação das delações premiadas de Marcelo Odebrecht e funcionários da companhia na Operação Lava-Jato, a chamada proximidade do “fim do mundo político” que se diz virá daí, provocou uma reação do mais “político’ dos ministros do Supremo Tribunal Federal  no  momento, Gilmar Mendes, que indiretamente, talvez inadvertidamente, bate com os desejos dos partidos e da classe política.

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Mendes criticou a falta de clareza nas doações de campanha e disse que isso põe em risco as eleições de 2018. Segundo o ministro, o sistema de financiamento só com pessoas físicas não resolve e defendeu a regulação da questão até setembro. “Imagine o que vai ser uma eleição presidencial quando vamos ter uma corrida de elefantes!” – disse. Sabe-se que na cabeça dos políticos já passa há algum tempo a volta das doações empresariais. O que, aliás, quando existiu não evitou o caixa 2, jamais.

Outra novidade no terreno da corrida presidencial veio ontem do discreto governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Sem conseguir disfarçar seu incômodo com o crescimento das especulações de que seu pupilo político mais recente, o prefeito paulistano João Doria, caminha para se viabilizar como candidato ao Palácio do Planalto, Alckmin disse o que todo mundo sabe, mas que procurava fingir que não existia: pretende disputar a presidência da República em 2018 pelo PSDB.

Colocou todas as mangas de fora, contrariando seu estilo, e criou constrangimentos para Dória, cuja candidatura ele bancou contra tudo e contra quase todos no tucanato.

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Destaques dos

jornais do dia

 – “Para fechar meta, governo reavalia elevar impostos” (Estado)

– “Rodovias Dutra, Rio-Juiz de Fora e Rio-Teresópolis terão nova licitação” (Globo/Valor)

– “Estrangeiros já têm 1% da área agrícola no Brasil – um estado de Alagoas” (Valor)

– “Empréstimo consignado pode ganhar mais prazo” (Globo)

– “Petrobras vai reduzir subsídios e gás de cozinha vai ficar mais caro” (Estado)

– “Eleição nos Estados Unidos alimenta avanço de assinatura de jornais” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1.    Bernard Appy – “Precisamos rever o simples” (diz que o modelo atual tem impactos distributivos negativos e prejudica o crescimento do país) – Estado

2.    Raymundo Costa – “Lula diz sim ao PT e convoca economistas” (diz que o ex-presidente vai pôr o pé na estrada e pediu a economista plano alternativo que seja contraponto ao do governo) – Valor