Ex-ministro fala em “guerra da informação” e critica modo como Operação Carne Fraca foi conduzida

Após operação da Polícia Federal, importantes mercados importadores da carne brasileira suspenderam as compras

Equipe InfoMoney

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O ex-ministro da Agricultura Francisco Turra subiu o tom e fez duras críticas ao modo como a Polícia Federal e a imprensa atuaram em meio à Operação Carne Fraca, ao mesmo tempo em que defendeu a qualidade dos produtos brasileiros. “Nunca pensei que a desinformação levasse a momentos como esse”, afirmou, falando em “guerra da informação”.

Em palestra no GAF Talks, organizado pela consultoria DATAGRO, Turra reforçou que os frigoríficos portam uma série de certificados internacionais – como a GlobalGAP, BRC, IFS, AloFree, entre outros – e são postos à prova em centenas de missões de inspeção pelos países importadores da carne brasileira.

Turra, que foi ministro da Agricultura entre os anos 1998 e 1999, destacou que o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango há mais de uma década e o quarto maior produtor de carne suína no mundo. Ele acrescentou que em todo esse período o Brasil é um dos poucos grandes mercados a nunca ter enfrentado o problema da gripe aviária. Segundo ele, isso se deve à biossegurança praticada no país, em nível até mesmo superior aos norte-americanos, por exemplo. “Devemos valorizar quem empreende, valorizar nossas marcas, não podemos jogar no lixo o trabalho de anos”, afirma.

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Operação Carne Fraca

A Carne Fraca foi deflagrada na manhã do dia 17 de março pela Polícia Federal, na maior operação de sua história: a Carne Fraca. Com o objetivo de desarticular um esquema de produção de alimentos sem fiscalização efetiva, aproximadamente 1.100 agentes públicos foram às ruas cumprir centenas de mandados judiciais e dezenas de mandados de prisões preventiva ou temporária.

Logo em seguida, foi noticiado que frigoríficos utilizaram ácido ascórbico, papelão e carne de cabeça de porco em seus produtos. Cerca de uma dezena de países chegaram a suspender as compras de carne brasileira, entre eles mercados como a União Europeia e o maior comprador de carne bovina in natura do Brasil: Hong Kong. Alguns desses mercados já foram reabertos, mas o ex-ministro pondera se esse foi de fato um reconhecimento da qualidade brasileira ou se será preciso começar o relacionamento novamente para reconquistar a confiança.

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Dias seguintes às prisões, em 21 de março, a Polícia Federal emitiu nota à imprensa esclarecendo que as investigações visam “apurar irregularidades pontuais” e “não representam um mal funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro”.

Levantamento da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) calculou prejuízo de US$ 40 milhões ao setor exportador de carne de frango e de carne suína uma semana após a operação da Polícia Federal. “Não vi um frigorífico chamado Brasil, mas apareceu em jornais que o Brasil vende carne podre”, critica o ex-ministro.

O atual ministro da pasta, Blairo Maggi, afirmou em audiência pública conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Agricultura do Senado que a recuperação do setor pode levar de três a cinco anos. “Estamos trabalhando muito para que o problema fique restrito a essas 21 empresas, em um enfrentamento claro, direto, transparente, rápido e eficiente”, declarou.

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Outros ex-ministros também comentam

Também presente no debate do GAF Talks, o ex-ministro da pasta entre os anos 1974 e 1979, Alysson Paulinelli, contou que no dia da operação estava em Abdijan, na Costa do Marfim. Apesar de o país ser um pequeno consumidor da carne brasileira, o assunto repercutiu na primeira página do jornal no dia seguinte, alertando para o risco de carne contaminada no Brasil, o que para o ex-ministro mostra como o assunto ganhou proporções alarmantes.

Paulinelli ainda chama atenção para o risco de a operação ser usada como pretexto para dificultar as inspeções. “Precisamos cuidar do que é nosso, compete ao empresário zelar pela qualidade, ter um governo fiscalista é um convite à corrupção, o consumidor consciente é o grande fiscal nacional”, afirma.

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Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, também palestrante no GAF Talks, toda a questão passa por um “problema histórico de má comunicação com a sociedade brasileira”. Ao falar sobre a agropecuária de modo mais amplo, Rodrigues defende que é necessário difundir como o setor se modernizou nos últimos anos e como tem feito uso intenso da tecnologia.

O ex-ministro do primeiro mandato do governo Lula exemplifica sua linha de pensamento com números na produção de grãos: economia de 86 milhões de hectares desde os anos 1990 por conta do ganho de produtividade. Entre a safra 1990/91 e a safra 2016/17, a produção de grãos aumentou 285%, ritmo superior ao crescimento da área plantada, de 58%. Para deixar a ideia da tecnologia no campo mais palpável, ele compara que “um grão de soja tem tanto investimento em tecnologia quanto um celular”.