Trump mostra as garras: sai da aliança do Pacífico e até deixa de comprar limão da Argentina

O presidente dá sinais de que pode mesmo cumprir suas promessas de campanha de ter a “América para os americanos“. No caso específico da TPP, autoridades brasileiras acham que o Brasil pode ganhar com essa atitude.

José Marcio Mendonça

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Trump comprova que o populismo virou uma praga mundial. No Brasil, há muito já é uma pandemia incurável.

 Já logo no primeiro dia útil após ter pisado definitivamente na Casa Branca o novo presidente dos Estados Unidos começou a dar sinais práticos que vai mesmo tentar fazer a “América para os americanos”, como prometeu na campanha e no discurso de posse e já causou a primeira turbulência na economia mundial – assinou um decreto retirando seu país da Parceria Transpacífica. A TPP, de 2015, previa liberar o comércio entre 12 nações. De quebra, para mostrar que nessa linha tudo está ao alcance de seus caprichos, Trump suspendeu por 60 dias a importação de limões da Argentina.

O governo Trump promete romper acordos multilaterais de comércio por acordo bilaterais, que só serão assinados se “trouxeram benefícios para os trabalhadores americanos”. É a confirmação prática de que ele vai tentar mesmo um governo protecionista e isolacionista, antiglobalização.

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Como a notícia veio no fim da tarde, somente hoje será possível avaliar como o nervoso mundo financeiro reagirá a ela, tanto no Brasil quanto na Europa e até nos próprios Estados Unidos. Porém, a primeira visão não deve ser das melhores.

A visão do governo brasileiro, porém, manifestada informalmente e registrada em “O Globo”, é a que, no caso específico da TPP, pode ser bom para o Brasil, pois reforça as parcerias do Brasil com a China. Quando a TPP surgiu, houve sérias críticas ao não envolvimento brasileiro em ações desse tipo. No mais, não se acredita que Trump, de fato, poderá levar esses seus propósitos protecionistas tão longe, pois os principais prejudicados poderão ser os próprios norte-americanos. No caso da TPP mesmo, a decisão de ontem tem mais efeito simbólico (ou de marketing interno) que qualquer outra coisa. O tratado ainda não estava em vigor. Trump estaria ainda falando para seu eleitorado, depois de adaptaria.

De qualquer modo, até que se acomode a gestão Trump promete grandes emoções.

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SEM DEFINIÇÕES NA LAVA-JATO E NO SUPREMO

Na frente interna, luto inicialmente superado, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, iniciou informalmente as consultas para definir os critérios a serem adotados para indicar o substituto de Teori Zavascki como relator dos processos do Lava-Jato, especialmente a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht. Ela ontem conversou com pelo menos quatro ministros da Corte e com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Nada de muito especial vazou, Cármen Lúcia está sendo extremamente discreta – o que há são conjeturas ou simples especulações com o intuito de influir na decisão da ministra. O certo, parece, é que ela está disposta a dar a celeridade possível, diante das circunstâncias, às delações premiadas da Odebrecht. Ontem a ministra reuniu-se também com o juiz auxiliar de Teori no caso. A indicação é a de que dará autorização para a equipe do ex-ministro prosseguir ouvindo as testemunhas para deixar tudo adiantado para a homologação pelo novo relator. “O Estado de S. Paulo” informa que ela já autorizou.

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Com isso, direta ou indiretamente, Cármen Lúcia pode jogar um caminhão pipa de água gelada em grupos do mundo político –não é pequeno, e formado por muita “gente boa” – que está querendo aproveitar a confusão causada pelo morte de Teori e o natural atraso do processo, para tentar encontrar uma saída para evitar punições generalizadas na Lava-Jato.

É a velha história, arquivada, mas nunca esquecida, de tentar uma forma legal de separar o que seria apenas caixa 2 – financiamento irregular, ilegal, de campanha – de pura e simples corrupção. Parte dos acertos para as eleições para as presidências da Câmara e do Senado passa por aí. Há ainda uma outra reivindicação: derrubar a decisão do Supremo que permitiu a prisão de condenados em segunda instância.

Passa ainda pela tentativa de influenciar a escolha, pelo presidente Temer, do nome que será indicado para a vaga aberta no Supremo pela morte de Teori. Temer também já iniciou as consultas informais para definir-se. Precisará também fechar um acordo com o Senado, a quem caberá em última instância aprovar o indicado. Já conversou com provável presidente da casa, Eunício de Oliveira. Hoje pode se encontrar com Renan Calheiros, que apesar de perder a majestade nos próximos dias, não vai perder a posição de condestável do pedaço.

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Uma frase enigmática do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, um dos principais conselheiros de Temer, no último fim de semana é de dar o que pensar a respeito do que pode estar vindo por aí: sem muita cerimônia, Padilha disse que o governo “ganhou tempo” com o acidente de Teori. Tempo para que?

Destaques dos jornais do dia

– “FMI diz que 2017 será o ano de estabilização econômica do Brasil” (Globo)

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– “Banco Central mudará regras do compulsório” (Estado)

– “União amplia possibilidade de crédito público para empresas estrangeiras” (Valor)

– “Estado do Rio deve mais de R$ 402 milhões às suas 3 universidades” (Globo)

– “Juiz federal decreta sigilo na investigação de acidente de Teori” (Folha)

– “Supremo dá aval a Moro em 81% dos casos” (Globo)

– “Ritmo de vacinação é lento e febre amarela chega a São Paulo” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Início de Trump aumenta preocupação mundial” (diz que primeiras medidas do novo presidente reforçam temores generalizados nas áreas econômica e geopolítica, indicado isolacionismo e tensão política) 0 Globo

2. José Casado – “A guerra de Trump” (diz que a indústria brasileira encolheu ao menor nível de produção dos últimos 65 anos – o Brasil fez a guerra da Trump antes dele, curiosamente, contra si mesmo) – Globo

3. Editorial – “Pesadelo americano” (diz que em três dias de governo Trump já transformou em atos várias promessas de campanha que implicam retrocessos lamentáveis) – Folha

4. José Paulo Kupfer – “Limites do Trumponomics” (diz que protecionismo anunciado pode não funcionar e acabar produzindo ineficiências) – Estado