Os 3 fatores que fizeram o dólar disparar mais de 2% e se aproximar de R$ 3,60

Combinação de cenário externo, com atuação do Banco Central e temores de novo aumento do IOF levaram a moeda a disparar nesta terça-feira

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O dólar ampliou a alta durante a tarde desta terça-feira (3) e se aproximou do patamar de R$ 3,60, acompanhando a piora do cenário externo e maior aversão a risco sobretudo nos mercados emergentes, após dados ruins sobre a China. Ajudou também a atuação do Banco Central, que realizou leilão de swaps cambiais reversos – equivalentes à compra futura de dólares – mais cedo, além da expectativa de novos aumentos do IOF.

O dólar comercial fechou com forte alta de 2,33%, a R$ 3,5697 na compra e R$ 3,5712 na venda, chegando a bater R$ 3,5828 na máxima deste pregão. O dólar futuro subia cerca de 1,85%. “As moedas de países emergentes, como um todo, estão caindo. O BC é só a cereja do bolo”, disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.

Segundo o diretor de câmbio da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, tem ajudado na alta do dólar o temor de um novo aumento do IOF, que hoje passou para 1,10% e pode chegar a 3%, segundo o Broadcast. Para ele, o mercado estaria mais preocupado com a chance de ser anunciado um IOF para operações no mercado futuro. “O governo pode repetir munições do passado (quando implantou IOF para posições no mercado futuro), elevar ainda mais o IOF do câmbio à vista e cortar a Selic (queda dos juros reais)”, alertou.

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“Não mudanças significativas no ambiente e uma alta do dólar abriria uma oportunidade de venda. Por enquanto, o grande teste da queda é R$ 3,45 e, por isto, perto desta cotação é interessante fazer algumas compras”, explica. “Indo para a faixa de R$ 3,55, as vendas ficam mais atrativas”, complementa Júnior.

A aversão a risco refletia os dados da atividade industrial da China, que encolheu pelo 14º mês seguido em abril, mostrando fragilidade da segunda maior economia do mundo. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) do Caixin/Markit da China recuou para 49,4, contra expectativa do mercado de 49,9 e ante 49,7 em março.

A aversão ao risco também foi alimentada pelos preços o petróleo, que ampliavam as perdas e caíam mais de 2% nesta sessão, por preocupações com o aumento da produção no Oriente Médio e no Mar do Norte, renovando os receios em torno do excesso de oferta global. Com isso, o dólar também ampliava a alta em relação a moedas de países como o México e Chile.

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No mercado local, a atuação do BC também ajudava a puxar o dólar. Nesta manhã, vendeu 9,8 mil swaps cambiais reversos da oferta total de até 20 mil contratos. Com a piora no cenário externo, que acentuou a alta do dólar no Brasil, o BC não anunciou, até o momento, novo leilão para tentar colocar o restante dos contratos não vendidos na primeira tranche, como fez recentemente.

Nos dois pregões anteriores, o BC havia voltado a atuar com mais força no mercado de câmbio após o dólar ir abaixo de R$ 3,45. Para muitos especialistas, a autoridade monetária não quer a moeda abaixo de R$ 3,50 para não prejudicar as exportações e, assim, as contas externas do país.

A cena política seguia no radar dos investidores. Na véspera, Henrique Meirelles, ex-presidente do BC e já indicado para comandar o ministério da Fazenda num provável governo de Michel Temer, disse que é preciso reverter a trajetória da dívida pública e ter claro o que é preciso fazer para o país sair do atual ciclo econômico negativo.

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Na próxima semana, o Senado vota o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff.

Com Reuters

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.