Ibovespa sobe e tem alívio com “recuo de Gleisi” sobre fim dos JCP; dólar cai

Índice, que seguiu em queda desde a abertura, fechou em alta com bancos ganhando força após notícia de que a senadora desistiu de sua proposta sobre JCP

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Ibovespa subiu nesta terça-feira (18), deixando para trás uma sequência de 5 quedas. O grande driver da sessão foi o recuo da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) na Medida Provisória 675 no que concerne ao fim dos juros sobre capital próprio. O relatório disponível no site do Senado traz o seguinte texto da senadora: “Infelizmente considero que não temos ambiente propício para avançar em tais temas, principalmente o relativo aos juros sobre capital próprio, que, no meu entender, mais do que acabar com o benefício tributário para o capital, corrigiria uma distorção em nosso sistema”.

Assim, o índice se descolou das bolsas internacionais com as ações de financeiras Ambev (ABEV3) e operadoras de telefonia empurrando o benchmark. Somadas, Ambev, Bradesco, Cielo, Itaúsa, BB Seguridade, BM&FBovespa, Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Telefônica correspondem a 43,9% da carteira teórica do Ibovespa, e todas subiram após as informações. O índice teve alta de 0,49%, a 47.450 pontos. Da mínima até a máxima, o benchmark subiu 2,5% ou 1.170 pontos. 

Apesar de recuar na proposta, Gleisi Hoffmann afirmou que vai apresentar, ainda esta semana, um projeto que pretende revogar a dedutibilidade dos juros sobre o capital próprio da base de cálculo do imposto de renda das empresas.

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O recuo de Gleisi foi feito em meio à afirmação do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), de que votaria contra a MP, analisada em comissão especial, se ela insistisse em propor o fim gradual do benefício fiscal a empresas. Já a mudança da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) a ser paga pelos bancos, de que seja elevada de 15% para 23% – e não 20% como anteriormente -, ganhou o apoio do PMDB.

Após a notícia, o Ibovespa também deixou para trás o pessimismo por nova desvalorização do yuan e dados fracos da China, com o preço de novas moradias registrando queda de 4,4% em julho. Além disso, o PBoC (Banco do Povo da China, na sigla em inglês) injetou 120 bilhões de yuans (US$ 18,77 bilhões) no sistema financeiro chinês por meio de operações de mercado aberto na terça-feira, em contratos de recompra reversa. Esta é a maior quantidade de dinheiro injetada no sistema financeiro em um único dia em 19 meses, sinalizando os temores crescentes de que haja uma fuga de capitais devido a desvalorização do yuan. No fim da tarde também foi divulgado que a agência de classificação de risco Fitch elevou a Grécia de CCC para CC. 

Na direção oposta ao Ibovespa, o dólar comercial acelerou as perdas, para 0,46% a R$ 3,4641 na compra e R$ 3,4660 na venda, ao passo que o futuro para setembro recuou 0,51% a R$ 3,480. No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2017 caiu 1 ponto-base a 13,87%, enquanto o DI para janeiro de 2021 caiu 1 p.b. 13,52%.

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Ações em destaque
Fator principal para a virada do mercado, as ações dos bancos passaram a subir com a notícia da possível retirada da mudança de proposta sobre o JCP. Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 26,83, +1,67%), Bradesco (BBDC3, R$ 25,51, +2,29%BBDC4, R$ 24,26, +1,89%), Banco do Brasil (BBAS3, R$ 19,62, +3,37%) e Santander (SANB11, R$ 14,66, +2,37%) fecharam em alta após recuarem mais de 1% até o início da tarde. Juntas, as ações de bancos somadas a outras financeiras como Itaúsa (ITSA4, R$ 7,45, -0,80%), Cielo (CIEL3, R$ 41,15, +0,37%) e BB Seguridade (BBSE3, R$ 31,40, +3,29%), respondem por 31,885% do Ibovespa. 

Seguiram o movimento os papeis da TIM (TIMP3, R$ 9,17, +4,44%) e Telefônica Brasil (VIVT4, R$ 41,85, +3,08%), que também são favorecidas caso a prosposta realmente caia.

Assim como os bancos e as operadoras, vale destacar o desempenho da cervejaria Ambev (ABEV3, R$ 18,78, +1,24%), que responde por 8,6% da carteira teórica do Ibovespa. 

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As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 TIMP3 TIM PART S/A ON 9,17 +4,44 -20,82 74,52M
 JBSS3 JBS ON 14,85 +3,56 +34,03 81,85M
 LREN3 LOJAS RENNER ON 104,10 +3,45 +38,03 132,52M
 BBAS3 BRASIL ON 19,62 +3,37 -12,84 223,76M
 RUMO3 RUMO LOG ON 8,94 +3,35 -48,80 14,42M

Os papéis da Petrobras (PETR3, R$ 10,02, -1,76%PETR4, R$ 9,00, -1,32%) fecharam em queda depois de oscilar entre leves perdas e ganhos durante o pregão. O barril do petróleo Brent voltou a recuar nesta terça, caindo 0,41% a US$ 48,54. Além disso, o Conselho de Administração da companhia aprovou a oferta de 25% da BR Distribuidora. No entanto, o presidente do conselho, Murilo Ferreira, votou contra o pedido de registro de companhia aberta e registro de oferta pública da BR Distribuidora, “pontuando, entre outras questões, que sua visão tática é diferente, entendendo haver ainda alguns passos a cumprir ou pelo menos tentar cumprir antes de uma decisão final”.

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 GOLL4 GOL PN N2 4,67 -6,04 -69,24 11,39M
 BRKM5 BRASKEM PNA 12,90 -4,44 -22,38 32,07M
 CSNA3 SID NACIONAL ON 3,31 -4,34 -35,95 20,45M
 MRVE3 MRV ON 6,80 -4,23 -4,86 41,93M
 USIM5 USIMINAS PNA 3,36 -4,00 -33,10 15,65M

As ações da Vale (VALE3, R$ 17,42, -3,28%VALE5, R$ 13,85, -2,67%) recuaram também, apesar da alta do minério de ferro spot no porto de Qingdao de 0,46% a US$ 56,92 a tonelada.

As ações da MRV Engenharia (MRVE3, R$ 6,80, -4,23%) terminaram o dia em queda após subirem forte ontem com a divulgação dos resultados do segundo trimestre. A companhia teve alta no lucro do segundo trimestre sobre um ano antes e acredita que continua resistente à fraqueza da economia brasileira, mas vai manter uma postura financeira mais conservadora diante das atuais incertezas. A construtora teve lucro líquido ajustado de R$ 188 milhões no segundo trimestre, ante R$ 142 milhões um ano antes. A média das estimativas de analistas obtidas pela Reuters apontava para lucro líquido ajustado de R$ 120,4 milhões. A receita operacional líquida da MRV aumentou 29% ano a ano e encerrou o segundo trimestre em R$ 1,3 bilhão, valor recorde para a companhia.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

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 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN EJ 26,83 +1,67 807,54M 474,15M 48.633 
 BBDC4 BRADESCO PN 24,26 +1,89 443,37M 244,94M 37.472 
 PETR4 PETROBRAS PN 9,00 -1,32 334,61M 463,26M 43.426 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,78 +1,24 316,35M 214,43M 29.657 
 UGPA3 ULTRAPAR ON ED 64,05 -1,88 295,59M 84,90M 9.136 
 BRFS3 BRF SA ON 70,77 +0,24 258,30M 159,19M 12.064 
 ITSA4 ITAUSA PN EJ 7,45 -0,80 249,71M 204,50M 44.327 
 VALE5 VALE PNA 13,85 -2,67 246,79M 327,07M 30.574 
 BBAS3 BRASIL ON 19,62 +3,37 223,76M 124,01M 30.106 
 VIVT4 TELEF BRASIL PN 41,85 +3,08 184,24M 110,43M 16.061 

* – Lote de mil ações 
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 


Dia negativo no exterior
O índice Xangai afundou 6,15%, apresentando a maior queda diária desde 27 de julho, acompanhando o enfraquecimento do yuan contra o dólar. O movimento do câmbio reacendeu temores de que Pequim pode ter a intenção de desvalorizar mais a moeda apesar de declarações do banco central do país, que afirmou não ver motivo para uma queda maior.

Além disso, o PBoC injetou 120 bilhões de yuans (US$ 18,77 bilhões) no sistema financeiro chinês por meio de operações de mercado aberto na terça-feira, em contratos de recompra reversa. Esta é a maior quantidade de dinheiro injetada no sistema financeiro em um dia em 19 meses, sinalizando os temores crescentes de que haja uma fuga de capitais devido a desvalorização do yuan.

Por último, a China ainda divulgou o preço médio de moradias novas, que caiu menos na China, registrando queda de 4,4% em julho na comparação anual. A queda é menor que a de junho (5,4%) e maio (6,0%). Em julho, os preços apresentaram queda em 29 das 70 cidades pesquisadas, ante 34 junho. Na comparação mensal foi registrado o terceiro mês seguido de alta, com avanço de 0,15%.

Já os mercados acionários europeus fecharam mistos nesta terça-feira, com resultados corporativos sólidos sobrepondo o impacto negativo do comércio mais fraco com a Ásia e com a queda nos preços das commodities por conta das preocupações com a perspectiva de crescimento da China. O índice das principais ações europeias FTSEurofirst 300 teve alta de 0,22%, a 1.535 pontos, enquanto o índice de blue chips da zona do euro Euro Stoxx 50 fechou com leve queda de 0,07%, a 3.495 pontos. 

O acumulado das ações do principal índice europeu, FTSEurofirst 300 já caiu 7% desde abril, quando alcançou seu pico. O drama da dívida grega e o nervosismo com a China permitindo a depreciação do seu câmbio têm pesado sobre o programa de compra de ativos do Banco Central Europeu (BCE) e uma das melhores temporadas de resultados corporativos na Europa em 5 anos.

Nos Estados Unidos, índices fecharam em queda com o Dow Jones recuando 0,19% e Nasdaq 0,64%. Foram divulgados dados do setor imobiliário às 9h30. Inícios de novas moradias foi de 1,206 milhão em julho, ante 1,2 milhão esperados e 1,174 milhão em junho. Já as permissões para construção de novas casas foram de 1,119 milhão em julho, ante 1,257 milhão esperados e 1,337 milhão em junho.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.