Brasil melhora proficiência no inglês, mas país segue na lanterna da América Latina

Um estudo da EF mostra que o Brasil avançou, mas precisa de investimentos contínuos para atingir a fluência competitiva do mercado europeu e até de países na América Latina

Maria Luiza Dourado

(Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
(Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

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O Brasil deu um passo na proficiência em inglês, mas a escalada rumo à competitividade global ainda é longa. O Índice de Proficiência em Inglês EF (EF EPI) 2025, que avalia 123 países e territórios, mostrou que o Brasil teve um avanço de 16 pontos em sua pontuação nacional (agora em 482) em relação à edição anterior, mas ficou na 75ª posição, permanecendo na faixa de Proficiência Baixa do idioma.

O salto na pontuação brasileira sugere que os investimentos em qualificação estão começando a gerar resultados. “Do ponto de vista da EF, que acompanha essa evolução ao longo dos anos, é possível levantar algumas hipóteses sobre os fatores que podem ter contribuído para o avanço do país. Um primeiro movimento estaria relacionado à crescente consciência, por parte das empresas, de que a proficiência em inglês representa um diferencial competitivo, com impacto direto em inovação, colaboração e eficiência operacional”, avalia Eduardo Santos, vice-presidente sênior da Efekta e diretor-geral da EF na América Latina.

Santos também destacou o papel da tecnologia e das políticas públicas no desenvolvimento da língua inglesa no país. “Outro fator potencial é a adoção mais ampla de soluções de inteligência artificial aplicadas ao aprendizado, que possibilitam a personalização e a escalabilidade do ensino a um custo significativamente menor do que no passado, acelerando a evolução dos alunos de forma mais consistente. Por fim, também pode haver relação com o avanço de políticas públicas e iniciativas institucionais voltadas ao ensino de idiomas, que ampliam o acesso e fortalecem a base educacional ao longo do tempo”, diz.

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As fraquezas do brasileiro

Para quem busca crescimento na carreira, o ranking da EF aponta onde estão as maiores lacunas: nas habilidades produtivas.

A proficiência em inglês no Brasil é desequilibrada: a Leitura é a habilidade mais forte (516), seguida de longe pela Compreensão Auditiva (468). No entanto, a Conversação (464) e, principalmente, a Escrita (442) são as competências mais fracas. Globalmente, a fala é a habilidade mais difícil de ser desenvolvida nos ambientes de ensino tradicionais.

Para reverter essa situação, que limita a capacidade do profissional brasileiro de liderar ou persuadir em um contexto global, a solução está na prática ativa. “Para desenvolver a habilidade de fala é necessário praticar o idioma”.

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Segundo Santos, a Inteligência Artificial (IA) tem sido uma aliada crucial nesse sentido: “Com os avanços da inteligência artificial, isso tem mudado. Hoje é possível treinar fala e compreensão auditiva de forma personalizada, com feedback imediato de pronúncia e vocabulário, sem depender exclusivamente da presença do professor”.

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Argentina

A América Latina, como um todo, apresentou ganhos leves na proficiência. No entanto, a Argentina se destaca como líder regional (1ª na A. Latina e 26ª globalmente), classificada na faixa de Proficiência Alta com 575 pontos. O Brasil, em comparação, ocupa a 16ª posição entre os 20 países latino-americanos.

Embora o EF EPI não indique as causas diretas, a liderança da Argentina é atribuída a algumas hipóteses: a consolidação de políticas educacionais mais consistentes para o ensino de idiomas, com integração contínua do inglês no currículo e maior valorização da formação de professores.

Além disso, a inserção histórica da Argentina em fluxos culturais e econômicos internacionais reforçou a percepção do inglês como ferramenta estratégica para estudo e mobilidade profissional.

Veja a lista completa dos países da América Latina, classificados por sua Posição Global no EF EPI 2025:

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Posição GlobalPaísPontuação EF EPINível de Proficiência
26ºArgentina575Alta
32ºHonduras553Alta
34ºUruguai542Moderada
43ºParaguai531Moderada
47ºEl Salvador523Moderada
49ºBolívia521Moderada
51ºVenezuela520Moderada
52ºPeru519Moderada
54ºChile517Moderada
55ºCosta Rica516Moderada
56ºCuba515Moderada
60ºNicarágua512Moderada |
61ºGuatemala510Moderada
63ºRepública Dominicana503Moderada
70ºPanamá491Baixa
75ºBrasil482Baixa
76ºColômbia480Baixa
83ºEquador466Baixa
99ºHaiti444Muito Baixa
103ºMéxico440Muito Baixa
Fonte: EF English Proficiency Index (EF EPI) de 2025

Mais jovens e menos proficientes

Globalmente, o relatório da EF indica que a proficiência entre adultos mais jovens (abaixo de 20 anos) continua inferior ao período anterior à pandemia. No Brasil, a faixa etária com a maior proficiência média é a de 21 a 25 anos (538).

A América Latina apresenta uma das maiores disparidades entre faixas etárias do mundo, onde os jovens (18-20 anos) continuam ficando atrás dos adultos, com diferenças que chegam a quase 100 pontos em alguns países.

Essa lacuna geracional é preocupante para o mercado de trabalho, e as causas são complexas. “Nos últimos anos, muitos jovens tiveram uma formação marcada por interrupções no processo educacional, devido à pandemia, menor exposição contínua ao idioma e metodologias que priorizaram leitura e compreensão passiva, com poucas oportunidades reais de uso ativo da língua”, avalia Santos.

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Para reverter essa tendência e garantir que os talentos mais jovens não percam competitividade é preciso repensar o modelo de aprendizado da língua inglesa. “Isso passa por ampliar a exposição prática ao idioma, investir na formação dos professores, adotar metodologias que dão ênfase em conversação e integrar tecnologia de forma estratégica, como apoio à prática contínua e ao feedback individualizado”, complementa.

Leia mais: Fluência em IA: o novo “inglês” do mercado de trabalho

IA para aprender inglês

A Inteligência Artificial (IA) é citada no relatório como uma ferramenta transformadora na educação de idiomas, uma vez que ela possibilita:

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Tutores virtuais e personalização: A IA impulsiona aplicativos e plataformas que oferecem recursos sofisticados como reconhecimento de fala, avaliação de habilidades produtivas, criação de trilhas personalizadas e prática de conversação 24 horas por dia. Essa tecnologia viabiliza um acompanhamento em larga escala, reduzindo custos e democratizando um modelo educacional personalizado.

Vantagem Competitiva: As tecnologias de IA mais avançadas são desenvolvidas majoritariamente em inglês, o que gera uma vantagem significativa de produtividade para quem domina o idioma, permitindo acessar e explorar as ferramentas mais sofisticadas antes dos demais. A combinação entre proficiência em inglês e letramento em IA já está criando vantagens competitivas no ambiente corporativo.

“O desenvolvimento de um novo idioma depende de prática contínua e feedback individualizado. A inteligência artificial viabiliza esse acompanhamento em larga escala, em um ambiente de baixo estresse, com redução de custos e maior democratização de um modelo educacional que antes estava acessível a poucos. Ou seja, a tecnologia atua como uma aliada, mas o pensamento crítico dos alunos segue sendo desenvolvido nas atividades e a conexão humana com os professores continuará existindo”, pondera Santos.

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Países mais proficientes do mundo

Para o profissional que aspira ao mercado global, a Europa continua a ser a região de referência em proficiência em inglês. Os países que lideram o ranking global com proficiência Muito Alta (600+ pontos) são:

  1. Holanda (624)
  2. Croácia (617)
  3. Áustria (616)
  4. Alemanha (615)
  5. Noruega (613)
  6. Portugal (612)
  7. Dinamarca (611)
  8. Suécia (609)
  9. Bélgica (608)
  10. Eslováquia (606)

Maria Luiza Dourado

Repórter de Finanças do InfoMoney. É formada pela Cásper Líbero e possui especialização em Economia pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas.