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(Bloomberg) — Um compromisso de R$ 200 bilhões (US$ 38 bilhões) do TikTok, da ByteDance, para ajudar a construir um enorme complexo de data centers no Brasil está consolidando a posição do país como o principal local da região para investimentos relacionados à inteligência artificial.
A ByteDance Ltd., com sede na China, anunciou na quarta-feira sua intenção de avançar com o projeto Pecém, no estado do Ceará, no nordeste do Brasil. O Brasil é considerado o país melhor posicionado na América do Sul para aproveitar o boom global de data centers usados para rodar inteligência artificial, devido à sua abundância de energia renovável e a uma rede elétrica nacional interconectada. Pecém também está próximo a um importante hub de cabos submarinos de telecomunicações que conectam o continente à Europa e à África.
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O empreendimento da ByteDance, o maior do tipo no Brasil até agora, é uma vitória para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem promovido o país como destino para investimentos em IA.
Também é o mais recente de uma série de investimentos crescentes em tecnologia e energia verde por empresas chinesas no Brasil. As parcerias começaram antes da reeleição do presidente dos EUA, Donald Trump, mas cresceram à medida que ambos os países se desentenderam com as prioridades comerciais e energéticas da administração americana. Trump havia imposto altas tarifas ao Brasil, uma das maiores economias emergentes do mundo, e criticado publicamente seus líderes. Recentemente, Trump recuou e está trabalhando com Lula para melhorar as relações entre EUA e Brasil.
A China, por sua vez, está atrás dos EUA na corrida para desenvolver tecnologias inovadoras de inteligência artificial. Além disso, está impedida de fazer esse tipo de investimento nos EUA.
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O Brasil também é o país com maior capacidade de energia financiada por empresas chinesas até 2022, segundo o Global Development Policy Center da Universidade de Boston.
“Sob a administração Trump, os EUA tentaram sistematicamente limitar e desmontar o peso econômico e a influência da China na América Latina”, disse Andrei Roman, CEO da empresa de pesquisas AtlasIntel. “O investimento em Pecém demonstra que a China está disposta e é capaz de reagir, enquanto o Brasil aceita de bom grado seus investimentos.”
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A empresa chinesa fará parceria com a desenvolvedora de data centers Omnia e a Casa dos Ventos, uma das principais fornecedoras de energia renovável do Brasil.
O complexo planejado em Pecém está “em uma localização muito estratégica”, disse Rodrigo Abreu, CEO da Omnia, em entrevista. “Está relativamente próximo, ao mesmo tempo, da Europa, África, América do Norte e do restante da América Latina.”

Pecém também superou locais na Índia, Noruega e Malásia para receber o investimento da ByteDance, disse Fabio Feijo, chefe da ZPE Ceará, zona econômica especial voltada para exportação que faz parte do complexo de Pecém.
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“Data centers não são o objetivo final — são a isca para atrair indústrias de alta tecnologia e operações das Big Techs”, disse Feijo em entrevista, descrevendo a visão como “Ceará Valley”.
O TikTok também está aprofundando seus laços no Brasil, já que a empresa ainda não conseguiu apresentar um plano para evitar o bloqueio do serviço nos EUA. O governo chinês prometeu há um mês trabalhar com Washington para resolver o futuro do negócio do TikTok nos EUA, mas não apoiou um acordo defendido por Trump para desmembrar a joia da ByteDance em uma nova empresa controlada principalmente por investidores americanos.
Sob uma lei de segurança dos EUA assinada no ano passado pelo ex-presidente Joe Biden, a ByteDance, com sede em Pequim, foi obrigada a vender o TikTok nos EUA ou enfrentar um banimento no país. O prazo inicial era janeiro de 2025, mas Trump o estendeu várias vezes na tentativa de fechar um acordo.
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Pecém faz parte das ambições mais amplas de Lula para IA. Quase metade de todos os data centers planejados e existentes na América do Sul está no Brasil, segundo o Data Center Map, site que acompanha o setor. Lula também assinou uma medida provisória para oferecer incentivos a empresas que queiram construir data centers no Brasil, incluindo a possibilidade de importar alguns equipamentos sem impostos.
“O objetivo é usar data centers para estruturar novas cadeias produtivas”, disse Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial do Brasil, em entrevista. “Data centers por si só não geram empregos.”
Brasil lidera a região em número de data centers
| País | Data centers (existentes e anunciados) |
| Brasil | 195 |
| Chile | 67 |
| México | 63 |
| Colômbia | 42 |
| Argentina | 42 |
Nota: Os dados são atualizados diariamente e são atualizados e conferidos por operadores
Ainda assim, há muito hype e especulação sobre as perspectivas do Brasil. Apenas um terço dos data centers anunciados no país deve realmente sair do papel, pois alguns não têm conexão com a rede elétrica e outros ficam muito distantes de São Paulo, centro financeiro e comercial do país, segundo a Aurora Energy Research.
O boom dos data centers também traz riscos. O Brasil precisa expandir linhas de transmissão e implantar baterias em escala industrial para estabilizar o fornecimento de energia renovável, que varia conforme o clima, ou corre o risco de passar de um excedente para um déficit energético à medida que data centers e veículos elétricos aumentam o consumo, disse Ty Eldridge, CEO da Brasol Participações e Empreendimentos SA, empresa de energia renovável com sede em São Paulo.
“A energia vai ficar mais cara e mais escassa”, afirmou. “Há enormes desafios mesmo com o apoio do governo.”
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