Mesmo quem prefere caminhos mais conservadores para os investimentos está sujeito ao risco de mercado. Esse é o risco que aparece quando os preços mudam rapidamente, quando o humor dos investidores vira da noite para o dia ou quando algo inesperado atinge a economia.
Os exemplos são muitos: Selic e dólar em alta, bolsa em queda, juros futuros tentando se ajustar ao novo cenário, tudo isso afeta a carteira e pode mudar o valor dos ativos em pouquíssimo tempo. Quando entendemos esse movimento, fica mais interpretar oscilações, identificar oportunidades e riscos e tomar decisões mais claras sobre os investimentos.
Pensando nisso, o InfoMoney elaborou este guia para explicar, de forma simples, como surge o risco de mercado, como ele se espalha pela carteira e o que é possível fazer para lidar com ele sem ansiedade ou improviso. Confira a seguir.
O que é e como funciona o risco de mercado?
O risco de mercado reflete as oscilações de preço que aparecem quando o cenário econômico muda de direção, e isso pode ocorrer por diversos motivos. Uma decisão do Banco Central, um dado de inflação acima do previsto, um resultado fraco de uma grande empresa, ou mesmo uma crise sanitária são fatores que podem alterar o valor de vários ativos ao mesmo tempo.
E nada disso ocorre de forma isolada. Cada movimento cria uma reação em cadeia no mercado financeiro que, dependendo da magnitude, vai atingir dos ativos mais arrojados aos mais conservadores, em maior ou menor grau.
Quais são os tipos de risco de mercado?
O conceito de risco de mercado é um só: o potencial de perda que um ativo tem frente a mudanças do cenário econômico.
Na verdade, quando se fala em tipos de riscos, é sobre os diferentes fatores que causam a desvalorização dos ativos. Esses movimentos não seguem um único padrão, pois cada fator cria a sua própria dinâmica e puxa o mercado em direções específicas.
Basicamente, o risco de mercado tem quatro componentes (ou fatores) principais: juros, câmbio, bolsa e commodities. Veja como cada um deles se comporta.
Risco de juros
Mudanças na taxa Selic alteram o preço de vários ativos ao mesmo tempo. No caso da renda fixa, o reflexo costuma ser diretamente proporcional: juros em alta são um atrativo para esses títulos, pois Selic e CDI andam juntos.
Na mão oposta, setores da bolsa mais sensíveis ao crédito (como varejo e construção) perdem um pouco de fôlego com a Selic em alta, pois o custo do dinheiro também aumenta.
Risco cambial
As oscilações do dólar atingem tanto a economia quanto os investimentos. Isso porque uma alta repentina encarece importações, aumenta custos de produção e pressiona a inflação, ao passo que uma queda forte alivia preços e melhora as margens de setores dependentes de insumos externos.
Alguns exemplos são as companhias aéreas e varejistas de eletrônicos, que sofrem mais se o dólar dispara. Já os setores de exportação, como siderurgia e papel e celulose, tendem a ganhar nesse momento.
Risco da bolsa (ações)
Os resultados corporativos, as expectativas de crescimento, o risco político e o humor global causam reações na bolsa.
Em períodos como as temporadas de balanços, o mercado acionário pode oscilar mais, especialmente quando se espera resultado fraco de alguma empresa importante. Além disso, mudanças regulatórias e ou problemas específicos que atingem o mercado financeiro (como a liquidação do Banco Master, por exemplo) podem fazer a bolsa cair mesmo que a economia esteja estável.
Riscos de commodities
Petróleo, minério, soja e outras commodities têm dinâmica própria no mercado mundial, que é influenciada por oferta demanda e eventos globais. Dependendo da commodity, esses movimentos podem transformar setores inteiros e alterar expectativas de inflação e de crescimento.
Exemplo: se o petróleo sobe por causa de tensões e conflitos geopolíticos, empresas aéreas e algumas indústrias sofrem com o combustível mais caro, enquanto petroleiras podem se valorizar.
Qual a diferença entre risco de crédito e risco de mercado?
Risco de crédito e risco de mercado costumam aparecer juntos nas conversas sobre investimentos, mas cada um conta uma história diferente.
O risco de mercado fala do sobe e desce natural dos preços quando alguma (ou mais de uma) das quatro variáveis que vimos anteriormente mudam de direção. Ele acompanha qualquer investimento, e surge sempre que acontece um ajuste nas expectativas econômicas.
Por sua vez, o risco de crédito trata da capacidade de pagamento do emissor. Aqui, a pergunta é simples: quem emitiu esse título vai ter condições de honrar a dívida? O foco não está no comportamento, mas na saúde financeira da empresa ou instituição financeira que captou os recursos.
Algumas situações práticas ajudam a enxergar essa diferença. Por exemplo, o Tesouro Direto pode oscilar bastante com o sobe e desce da Selic (isso é risco de mercado), mas o seu risco de crédito permanece baixo porque o emissor é o governo federal. O mesmo acontece com uma empresa exportadora, que sente o efeito negativo do câmbio quando o dólar cai (risco de mercado), mesmo que ela tenha uma excelente saúde financeira, ou seja, um baixo risco de crédito.
Quando separamos esses dois olhares sobre o risco, fica mais fácil entender por que o preço de alguns títulos oscila sem que exista qualquer problema de solvência, e por que outros exigem mais atenção ao emissor, mesmo quando o mercado está calmo.
Outro ponto importante: entre os três riscos que envolvem os investimentos (crédito, liquidez e mercado), o risco de mercado é o único não diversificável, pois ele abrange eventos além do controle da carteira.
📉 Risco de mercado 💳 Risco de crédito Oscila quando juros, câmbio, bolsa ou commodities mudam. Surge sempre que o mercado ajusta expectativas. Mede a capacidade de pagamento do emissor. A pergunta é: ele vai honrar a dívida? Exemplo: Tesouro Direto cai com a Selic, mas o risco de crédito continua baixo. Exemplo: exportadora perde com dólar mais fraco, mesmo com boa saúde financeira. Ponto-chave: não é diversificável. Ponto-chave: exige análise do emissor.
Risco de mercado e risco sistêmico
Risco sistêmico é outra forma que temos de nos referir ao risco de mercado.
O termo “sistêmico” vem justamente da abrangência dos movimentos que atingem a economia ao mesmo tempo e mudam preços de forma ampla. Seja qual for a empresa, setor ou estratégia de investimento, quando esse tipo de risco aparece, ele foge ao controle do investidor, e nenhuma carteira consegue evitá-lo somente com diversificação.
Para o investidor, isto significa que:
- 🔍 Os movimentos atingem muita coisa ao mesmo tempo
Mesmo carteiras bem diversificadas sentem, porque o choque vem “de fora” e alcança vários ativos ao mesmo tempo.
- ⚡ A volatilidade cresce rápido
Os preços reagem com força a notícias, mudanças de cenário e incertezas amplas, criando oscilações mais intensas do que o normal.
O ponto é simples: quando o problema é sistêmico, ele é de mercado; quando o mercado todo sofre impacto, ele é sistêmico. Em outras palavras, os dois termos falam sobre a mesma dinâmica.
Como mensurar o risco de mercado – Value at Risk
Uma das formas mais usadas para mensurar o risco de mercado é o Value at Risk (VaR).
Trata-se de uma ferramenta que traduz a incerteza do mercado em um número fácil de entender. em vez de olhar apenas para a volatilidade ou para cenários isolados, o VaR responde a uma pergunta direta: no pior dos cenários, quanto eu posso perder dentro de um período específico?
Na prática, o VaR estima a maior perda provável de um ativo ou carteira dentro de um intervalo de tempo e com um nível de confiança definido (95%, 99% ou outro percentual, por exemplo). Isso ajuda a interpretar as oscilações do mercado de forma mais concreta, pois mostra um limite de perda que o investidor pode usar para decidir se está confortável com sua exposição.
Em outras palavras, o VaR funciona como um termômetro: quando sobe, é porque o risco de mercado aumentou; quando cai, aponta para um ambiente mais calmo. Embora não seja perfeito (pois eventos raros podem ultrapassar a sua estimativa), ele ajuda a criar uma base sólida para decisões mais conscientes.
Como atenuar o risco de mercado
Embora não seja possível adivinhar os movimentos do mercado, existem formas de absorver oscilações e minimizar possíveis perdas quando o cenário aperta. Veja algumas delas.
Diversificar
Mesmo que o risco de mercado não seja diversificável, uma boa seleção de ativos ajuda a espalhar o impacto entre classes que reagem de formas diferentes. Isso pode reduzir a intensidade das quedas e suavizar as oscilações da carteira.
Exemplo: bancos e exportadoras podem compensar parte da pressão sobre setores dependentes de crédito quando os juros sobem e o dólar avança.
Casar prazo e objetivo
As oscilações do mercado pesam mais quando o dinheiro tem um destino de curto prazo. Por outro lado, investimentos com horizontes longos suportam melhor a volatilidade.
Quando sincronizamos prazo e objetivo, conseguimos evitar decisões precipitadas, e o risco perde força.
Rebalancear a carteira
Os ativos evoluem de formas diferentes e, com o tempo, o crescimento de uns e/ou a queda de outros podem distorcer o equilíbrio da carteira. Mas quando se faz o rebalanceamento, cada classe adquire novamente o seu peso ideal, e isso reduz a concentração e ajusta a exposição ao risco de acordo com a mudança de cenário.
Ter liquidez estratégica
Reservar uma parte da carteira para ativos líquidos ajuda a tirar a pressão emocional e evita vendas em momentos ruins. E não estamos falando somente da reserva de emergência, o socorro para imprevistos financeiros, mas também de aproveitar oportunidade quando o mercado exagera nos preços para baixo.
Determinar limites para as perdas
Outra forma de atenuar o risco de mercado é definir limites claros para perdas, de acordo com cada perfil de investidor.
Quem opera na bolsa, pode fazer isso com a ajuda do stop loss, um mecanismo de controle de risco muito conhecido, que encerra automaticamente uma posição quando o preço atinge um nível predefinido. Esse recurso ajuda a evitar que uma perda moderada vire algo maior por falta de reação no momento certo.
Risco de mercado: resumo do guia
Entender o que é e como funciona o risco de mercado deixa o investidor mais preparado para lidar com as oscilações e ajuda a enxergar o que está por trás dos movimentos do dia a dia.
Veja a seguir um resumo dos principais pontos do guia:
| 🔹 Ponto | 📌 O que levar daqui |
|---|---|
| 📉 Risco de mercado | Surge quando o cenário muda e juros, câmbio, bolsa ou commodities ajustam os preços rapidamente. |
| 🔄 Quatro forças principais | Juros, câmbio, bolsa e commodities mexem com os ativos de formas diferentes e em intensidades distintas. |
| 💳 Risco de crédito | Fala da capacidade de pagamento do emissor, não do sobe e desce dos preços dos investimentos. |
| 🚫 Não é diversificável | O risco de mercado nasce de eventos amplos, que atingem muitos ativos ao mesmo tempo e escapam ao controle da carteira. |
| 🌐 Risco de mercado = risco sistêmico | Os dois termos descrevem o mesmo tipo de choque amplo, que afeta praticamente todo o sistema. |
| 📊 VaR (Value at Risk) | Traduz o risco em número ao estimar quanto você pode perder, em condições normais, dentro de um período específico. |
| 🧭 Como atenuar | Diversificação consciente, prazos alinhados aos objetivos, rebalanceamento, liquidez estratégica e limites de perda (como o stop loss). |