Paraná registra primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol

Paciente está em estado grave em Curitiba; Ministério da Saúde compra antídotos e autoridades alertam para riscos de adulteração em bebidas alcoólicas em várias regiões do Brasil

Estadão Conteúdo

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O Paraná notificou ao Ministério da Saúde nesta sexta-feira, 3, o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol no Estado, após o consumo de bebida alcoólica destilada. O paciente é um morador de Curitiba que deu entrada em um hospital na quarta-feira, 1.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa-PR), o homem consumiu a bebida e foi atropelado pouco tempo depois. Após ser socorrido ao hospital, sofreu piora no quadro clínico e passou a apresentar sintomas compatíveis com intoxicação por metanol. Ele permanece inconsciente e em estado grave. A pasta não deu mais detalhes sobre o acidente de trânsito.

“A Sesa, em conjunto com a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, acompanha a evolução clínica e aguarda o resultado dos exames laboratoriais para confirmação ou descarte da suspeita”, disse o órgão, em nota.

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Em casos de suspeitas de intoxicação, os serviços de saúde públicos ou privados devem notificar o Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) para orientação e conduta adequada.

O secretário de Estado da Saúde, Beto Preto, informou que deve se reunir nas próximas horas com o Ministério da Saúde para definir se o Paraná receberá ampolas de etanol farmacêutico para o tratamento de pacientes intoxicados. “O momento, eu diria, é um dilema que nós passamos. Mas eu volto a insistir que todos nós tenhamos muito cuidado na ingestão de bebida alcóolica”, orientou.

O número de notificações por suspeita de intoxicação por metanol cresce a cada dia no Brasil. Nesta sexta-feira, 3, a Bahia informou o registro da primeira morte suspeita de contaminação pela substância. As ocorrências começaram a surgir no Estado de São Paulo e já atingem outras regiões.

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Além da Bahia, há 53 casos em São Paulo, 6 em Pernambuco e 1 no Distrito Federal e no Paraná.

O Ministério da Saúde anunciou a compra emergencial de antídotos para casos de intoxicação por metanol, destinados a Estados e municípios para tratar vítimas de bebidas alcoólicas adulteradas. O plano prevê a aquisição de 150 mil ampolas de etanol farmacêutico, além da possibilidade de obter o Fomepizol por meio de produtores nacionais e agências internacionais.

As autoridades buscam identificar fornecedores das bebidas e pessoas que tenham manipulado os produtos. O metanol é usado como matéria-prima para combustíveis e é impróprio para consumo humano, mas estaria sendo utilizado na falsificação de bebidas alcoólicas.

Cerveja e vinho

Os recentes casos investigados de intoxicação por metanol em São Paulo ocorreram após o consumo de bebidas alcoólicas destiladas, como gim, vodca e uísque. Mas, especialistas alertam que o biocombustível pode ser usado para adulterar também cerveja e vinho. “Para o adulterador não há limites, desde que haja lucro”, afirma Rodrigo Ramos Catharino, farmacêutico, doutor em Ciência de Alimentos e professor da Unicamp.

Integrante da comissão técnica do Conselho Regional de Química de São Paulo, a química Glauce Guimarães Pereira reforça que “na cerveja, o teor alcoólico é baixo (4 %-6 %) e com maior complexidade aromática. Isso significa que qualquer desvio químico é mais fácil de notar.” Para ela, é uma questão de eficiência na adulteração: “Adulterar cerveja sem ser perceptível só renderia uma quantidade muito pequena”.

O farmacêutico-bioquímico do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unesp, em Botucatu, Alaor Aparecido Almeida aponta que o metanol é adicionado para aumentar o volume da bebida.

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“Ele é usado para vender mais com um preço menor”, diz. “O metanol costuma ser mais barato que o álcool, porque é mais fácil de produzi-lo. Eles escolhem geralmente destilados justamente por serem mais caros. Como a cerveja é relativamente barata, a chance é menor de ser adulterada”, avalia.

O presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci, também reforça a análise. “Do ponto de vista da bandidagem, a vantagem é colocar volume em produtos de valor agregado mais alto”, declarou. Mas ele destaca que a entidade ainda não foi notificada de casos com vinho. “O que acontece é substituir um vinho caro por outro mais barato, mas não adulteração”, indica.

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