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Se você acompanha o noticiário de investimentos no Brasil, talvez tenha tido a impressão de que as gestoras estão lançando ETFs (fundos de índice) o tempo todo, quase como séries em serviços de streaming: mal termina um, já tem outro no ar. Pois saiba que essa sensação tem fundamento. Entre janeiro e junho deste ano, foram criados 29 novos ETFs no país, o equivalente a uma média de 1,12 por semana.
Entre meados de 2004, ano em que o primeiro fundo de índice foi lançado no Brasil, e junho de 2025, a B3 listou cerca de 380 fundos de índice para negociação, somando tanto os ETFs nacionais quanto os BDRs de ETFs – certificados que representam fundos listados no exterior.
Juntos, esses produtos acumulam cerca de R$ 62 bilhões em ativos sob gestão e somam 1,11 milhão de cotistas, segundo dados da Economatica, XP Asset, B3 e Elos Ayta Consultoria.
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Para efeito de comparação, há cinco anos o estoque nos ETFs era praticamente a metade do atual, e o número de investidores não passava de 240 mil, de acordo com a B3. Vale lembrar que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou a negociação de BDRs de ETFs por pessoas físicas só no final de 2020, o que deu um gás no setor também.
- Leia também: Confira o guia completo sobre como investir em ETF
O que explica o crescimento dos ETFs?
De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, o avanço do mercado de ETFs se deve a uma combinação de fatores: a ampliação do número de produtos; maior acesso por meio das plataformas digitais e gestoras; os baixos valores iniciais de investimento (alguns ETFs têm cotas por menos de R$ 100); avanço – ainda que lento – da educação financeira; e uma regulação considerada moderna e flexível.
“Ao longo dos últimos 20 anos, é inegável como a indústria local de ETFs evoluiu. Hoje, estamos bem mais maduros do que estávamos há poucos anos”, disse Danilo Gabriel, sócio responsável pelos fundos indexados da XP Asset, em entrevista ao InfoMoney. A empresa tem 8 ETFs, com R$ 1,63 de patrimônio sob gestão e pouco mais de 118 mil cotistas, segundo dados da B3.
Henry Oyama, diretor de estratégias de investimentos da gestora Hashdex, destacou que há um esforço conjunto de diversos agentes do mercado. De uma lado, falou, as gestoras ampliam a oferta de produtos e estratégias de forma acessível e simples. Do outro, a B3 trabalha para criar um ambiente cada vez mais favorável. E por fim, os distribuidores têm atuado fortemente na educação financeira e na busca por alocações mais eficientes para seus clientes.
”Esse alinhamento tem sido fundamental para a consolidação dos ETFs como uma alternativa moderna e robusta dentro do portfólio dos investidores brasileiros”, disse. A Hashdex tem 340 mil investidores, sendo mais de 185 mil apenas nos ETFs listados no Brasil. No total, gere mais de R$ 7,5 bilhões em ativos (R$ 6,4 bilhões em ETFs).
Variedade
O mercado de ETFs também oferece diversos tipos de produtos, tanto de renda fixa como de renda variável. A Ayta Consultoria, olhando apenas para os fundos brasileiros, levantou que quase 80% dos fundos de índice daqui são de renda variável e 20% de renda fixa. O dado foi inicialmente publicado na coluna do Einar Rivero, CEO da empresa, no site Bora investir.
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Entre os ETFs de renda variável, um grupo que chama atenção dos investidores é o de ETFs temáticos – aqueles focados em algum tema, como IA e criptomoedas. Esses últimos, em especial, têm se destacado no Brasil. Entre os 10 fundos de índice com maior destaque em 2024, sete eram relacionados ao setor, segundo dados da Quantum Finance. Pelo menos dois deles também estão na lista de fundos negociados em bolsa com as maiores valorizações desde seu lançamento (veja no final desta matéria).
Oyama, da Hashdex, disse que o forte desempenho dos ETFs de criptomoedas reflete a natureza dessa classe de ativos, baseada em uma tecnologia emergente com alto potencial de transformação e valorização. “À medida que a blockchain é adotada e integrada à sociedade, vemos um crescimento consistente não apenas da tecnologia, mas também da classe de ativos, que vem ganhando espaço nos portfólios de investidores individuais, institucionais e até de nações”, falou.
Setor tem espaço para crescer mais
Apesar da evolução, os ETFs ainda ocupam uma fatia modesta no mercado de fundos brasileiro. O setor de fundos soma cerca de R$ 9 trilhões aqui no Brasil, dos quais os ETFs representam aproximadamente 1%. Nos Estados Unidos, a situação é bem diferente: por lá, os ETFs já respondem por cerca de 50% da indústria de fundos, que chegou a US$ 7 trilhões (mais de R$ 38 trilhões) sob gestão no ano passado.
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Gabriel, da XP, aponta três principais fatores que podem ajudar a impulsionar ainda mais o segmento de ETFs no Brasil nos próximos anos. O primeiro é melhorar a experiência do usuário e a complexidade dos produtos. Segundo o especialista, o processo de compra pode ser visto ainda como complicado e intimidador para alguns, exigindo o uso do home broker e lidando com uma “sopa de letrinhas” – siglas que confundem. ”Isso pode afastar o investidor”.
O segundo ponto é o modelo de distribuição e os incentivos dos assessores. Hoje, muitos ainda são remunerados por comissão, o que tende a favorecer produtos com taxas mais altas – e não necessariamente os melhores para o cliente. Com a regulação recente da CVM exigindo mais transparência e incentivando o modelo fee-based (remuneração com base no patrimônio), a expectativa, segundo ele, é que os assessores passem a recomendar mais ETFs e produtos mais eficientes.
Por fim, entra o contexto macroeconômico e as taxas de juros. Com a taxa básica de juros ainda elevada, a 15% ao ano, os produtos conservadores, como os atrelados ao CDI e crédito privado, acabam atraindo mais recursos. “Não sei se a gente vai voltar com o CDI na casa dos 7, da época de Michel Temer, mas com um arrefecimento dessas taxas reais para níveis mais adequados a gente pode começar a ver mais fluxos para ativos de risco”, afirmou Gabriel.
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Os 10 ETFs mais rentáveis desde o lançamento
O PIBB11, primeiro ETF do Brasil, foi lançado em meados de 2004 e busca refletir o desempenho, antes de taxas e despesas, do Índice Brasil 50 (IBrX50). Desde então, acumulou um retorno impressionante de 842,61%. Mas não é só o tempo de mercado que explica uma valorização tão alta. Alguns ETFs mais recentes, como os fundos de criptos, lançados em 2021 e 2022, também figuram entre os 10 mais rentáveis desde o início. Confira a lista completa abaixo:
| ETF | Origem | Retorno desde a criação* (%) |
| Pibb Ind Brasil 50 (PIBB11) | 26/07/2004 | 842,61 |
| Ishares S&P 500 (IVVB11) | 29/04/2014 | 804,19 |
| It Now Spxi (SPXI11) | 02/02/2015 | 582,91 |
| Etf Galaxy B (BITI11) | 16/11/2022 | 481,08 |
| Ishares Smal Ci (SMAL11) | 02/12/2008 | 379,08 |
| It Now Ifnc Fundo de Indice (FIND11) | 07/04/2011 | 314,57 |
| Global X Blockchain ETF (BKCH39) | 04/11/2022 | 266,09 |
| Qr Bitcoin (QBTC11) | 22/06/2021 | 252,20 |
| It Now Idiv (DIVO11) | 31/01/2012 | 239,58 |
| It Now Igct Fundo de Indice (229,84) | 03/11/2011 | 229,84 |
*Data de corte: 04/07/25
Riscos
Os ETFs também estão sujeitos a diversos riscos. Um deles é o de liquidez, que diz respeito à dificuldade de negociar o ETF por um preço justo. Há também o risco cambial, principalmente nos ETFs internacionais, uma vez que variações na taxa de câmbio impactam diretamente o valor dos investimentos. Existe ainda o risco de mercado, que está relacionado à volatilidade dos ativos que compõem o ETF. ”Adicionalmente, citamos riscos regulatórios, que possam aumentar o custo de transação dos ETFs, sendo repassados aos cotistas”, falou Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital, para o InfoMoney.