Ataque “de cinema” da Ucrânia com drones contra bombardeiros nucleares assusta Moscou

Ataque ajudou a desestabilizar um arsenal que Moscou utiliza para atingir a Ucrânia com alguns de seus mísseis mais poderosos

Bloomberg

Agente ucraniano prepara drone de combate em meio a ataque russo (Reuters/Anatolii Stepanov)
Agente ucraniano prepara drone de combate em meio a ataque russo (Reuters/Anatolii Stepanov)

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O ataque de drones da Ucrânia em território russo deixou autoridades do Kremlin irritadas e alarmadas com a súbita vulnerabilidade de uma frota aérea com capacidade nuclear, distante do campo de batalha, segundo pessoas próximas a altos funcionários em Moscou.

O ataque dramático de domingo contra bombardeiros russos de longo alcance em bases aéreas na Sibéria ajudou a desestabilizar um arsenal que Moscou utiliza para atingir a Ucrânia com alguns de seus mísseis mais poderosos. Também demonstrou a capacidade da Ucrânia de atingir ativos estratégicos a milhares de quilômetros das linhas de frente, que os militares russos consideravam seguros.

Embora ninguém preveja que o ataque dramático de domingo vá mudar o rumo da guerra de Vladimir Putin, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky celebrou a “brilhante” operação secreta.

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Planejada ao longo de um ano e meio e envolvendo veículos aéreos não tripulados lançados de caminhões que cruzaram a vasta extensão da Rússia, foi a missão de maior alcance realizada nos três anos de guerra, segundo ele.

Os danos causados aos aviões de guerra provavelmente vão abalar os tomadores de decisão ao redor de Putin, mas não devem alterar os objetivos militares de Moscou. Apenas alguns desses bombardeiros são necessários para ataques à Ucrânia, o que significa que o ritmo dos ataques com mísseis e bombas não deve diminuir, de acordo com pessoas próximas ao Kremlin que falaram sob condição de anonimato.

Mas a incursão profunda foi um golpe direto em ativos aéreos, incluindo alvos em bombardeiros Tu-160, Tu-95 e Tu-22 M3, que há muito tempo eram considerados menos vulneráveis a ataques do que as forças terrestres e navais, que sofreram perdas maiores.

O Ministério da Defesa da Rússia confirmou ataques em cinco bases aéreas militares em todo o país no domingo. A Rússia reconheceu que várias aeronaves foram danificadas, enquanto Kiev afirma que mais de 40 aviões foram atingidos. Uma pessoa próxima ao Kremlin estimou o número em cerca de 10. O blogueiro militar pró-Moscou Rybar, que tem cerca de 1,3 milhão de assinantes no Telegram, estimou que 13 aeronaves foram danificadas, a maioria bombardeiros de longo alcance.

Mesmo um dano em uma frota de bombardeiros estratégicos Tupolev Tu-95, que a União Soviética começou a operar nos anos 1950, colocará pressão sobre os modelos restantes modificados para transportar mísseis de cruzeiro, segundo Douglas Barrie, pesquisador sênior de aeroespacial militar no International Institute for Strategic Studies, em Londres.

Essa frota já era o menor componente da chamada tríade nuclear da Rússia — mísseis balísticos intercontinentais, mísseis lançados de submarinos e bombardeiros nucleares, disse Barrie. “Agora ficou ainda menor”, acrescentou.

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“O impacto é bastante sensível e desagradável”, disse Dmitry Stefanovich, pesquisador do Centro de Segurança Internacional do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais, com sede em Moscou. Embora os bombardeiros sejam usados em missões não nucleares, o ataque terá um “efeito fraco” sobre as forças nucleares, já que os ICBMs e submarinos desempenham um papel maior, afirmou.

A operação não reduzirá significativamente as capacidades nucleares da Rússia, segundo pessoas próximas ao Kremlin e ao Ministério da Defesa. O analista político Vladimir Pastukhov, baseado em Londres, disse que o ataque terá pouca importância militar concreta, com “envolvimento mínimo” das forças aéreas russas na guerra contra a Ucrânia.

“O equipamento restante é mais do que suficiente para atingir os objetivos para os quais está sendo empregado nesta guerra”, disse Pastukhov em seu canal no Telegram.

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Mas a natureza do alvo atinge o cerne do fator de ameaça da Rússia como potência nuclear, minando a imagem de invulnerabilidade de Putin. Thomas Withington, pesquisador associado em guerra eletrônica e defesa aérea no Royal United Services Institute do Reino Unido, observou uma mudança, com Kiev agora vendo o arsenal nuclear russo como um alvo legítimo.

“Esse ataque recente destaca a incapacidade dos defensores aéreos russos de proteger ativos estratégicos importantes, como bases de bombardeiros”, disse Withington.

Restrições de exportação impostas à Rússia pelos EUA e Europa também dificultarão a obtenção de peças e tecnologias necessárias para reparar ou reconstruir o equipamento danificado.

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Uma auditoria russa obtida pela Bloomberg em 2022 mostrou que os bombardeiros dependiam de componentes ocidentais críticos e que a Rússia não conseguiu, durante anos, substituir essas peças por alternativas domésticas ou de países aliados, como a China. Essa tarefa seria ainda mais difícil hoje, devido às rigorosas sanções comerciais.

Qualquer degradação dos ativos aéreos da Rússia será uma boa notícia para os governos europeus, que têm dificuldade em acompanhar a produção de guerra de Putin no que diz respeito a defesas aéreas. Os bombardeiros estratégicos também representam uma ameaça para os aliados da OTAN, segundo Withington.

“Ao tirá-los de combate, a Ucrânia ajudou a reduzir a ameaça nesse aspecto para a OTAN e seus aliados”, afirmou Withington.

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