Política, um mercado em crise
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Mercado político? Sim. Uma corrente teórica chamada de Escolha Pública nos convida a analisar a política não como um fórum, mas como um mercado, onde agentes interagem em relações de oferta e demanda em ambiente de escassez.Trata-se de um outro modelo de análise e compreensão da realidade que nos permite lançar novos olhares e pensar a política sob uma perspectiva diferente.
O método utilizado vem da Microeconomia: a análise da ação humana individual. Os agentes públicos e os eleitores são vistos, não como servidores de algum interesse público superior, mas como como maximizadores racionais de seus próprios interesses individuais, encarando a escolha entre o que é melhor si ou para o grupo. Não deve, portanto, o processo político ser analisado independentemente do contexto dos interesses individuais.
Assim pode-se perceber interações de oferta e demanda entre atores políticos e entre esses e os atores privados. Ressalve-se neste ponto que não estamos aqui tratando de qualquer tipo de ilicitude, principalmente das que têm permeado a mídia em tempos de Lava Jato. Estamos aqui tratando de relações próprias dos regimes democráticos como apoio político, troca de votos, financiamento de campanha, etc.
Políticos buscam manter-se no poder. Para isso demandam visibilidade, apoio da sociedade, verbas para campanha, orçamento e, ao final, votos. Nas relações entre agentes políticos ocorrem ofertas e demandas recíprocas por apoio e votos para que possam maximizarem seus objetivos. Já nas relações entre políticos e grupos de pressão existe uma demanda por votos, visibilidade e financiamento de campanha.
Tudo conforme a teoria.
Curioso perceber que, no Brasil e no mundo, esse “mercado” está em crise. Podemos verificar que essa sistemática tem destacado novos elementos típicos de mercados, como o oligopólio de ofertantes, caracterizado por sistemas políticos com barreiras de entrada a novos concorrentes e que oferecem sempre as mesmas opções.
Outro elemento é a desintegração da base política do atual Governo, acarretando uma “escassez” de votos. Essa diminuição da oferta pressiona o “preço de mercado” para cima, o que causa uma “inflação” nesse “mercado”, aumentando o “custo” do voto. Assim o Governo passa a ter que gastar mais.
Consequência desse aumento de “gastos” do Governo é a diminuição do seu poder de compra. Já não possui tantos recursos como “moeda” para “comprar” o que precisa para realizar seu objetivo de se manter no poder: o apoio da base parlamentar e a aprovação das reformas.
Por outro lado os grupos sociais não estão oferecendo o mesmo apoio político de antes. Essa sociedade de “consumidores” está mudando suas preferências e demanda novos “produtos” e novas “ofertas” na prateleira da política.
Ainda, novos entrantes buscam criar modelos de economia disruptiva para que possam driblar a regulação do setor político e superar as barreiras de entrada para concorrer no mesmo mercado que os players já estabelecidos da velha política. É o caso do chamado Fundo Cívico, criado e apoiado por um grupo de empresários para renovar a prateleira com nomes que não possuam envolvimento em casos de corrupção por meio de suporte técnico e financeiro.
Neste mercado surgem ainda suas próprias instituições de restrição ao crédito, uma espécie de ‘Serasa’ de políticos com uma lista negativa de parlamentares em quem não votar. A iniciativa é prometida pelo Movimento Vem Pra Rua para as eleições de 2018 a fim de “restringir o crédito” dos políticos com histórico e desempenho ruins.
E, como é natural de toda a crise, emergem ameaças e oportunidades capazes de trazer mudanças profundas em seus atores, seus recursos, sua dinâmica e sua estrutura. Esse processo crítico por que passa a política, em especial a do Brasil, significa uma mudança de rumos que trará profundas mudanças. Não se sabe quanto tempo levará esse processo nem o que os novos ventos trarão.
Mas uma máxima que ensinamos em gestão de crises é “eu não posso estancar o vento, mas posso ajustar minhas velas”.
A conferir.