BC conservador contém ânimo com Ibovespa, mas XP cita 3 motivos para seguir otimista

Ciclo de cortes ainda com espaço para continuar, valuation do Ibovespa descontado e estrangeiro otimista (apesar de ter saído em 2024) com Brasil são fatores positivos para o mercado de renda variável

Lara Rizério

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Após três altas seguidas, o Ibovespa registrava uma sessão de perdas nesta quinta-feira (21) tendo como pano de fundo as sinalizações da véspera do Comitê de Política Monetária (Copom) que vieram junto com a redução dos juros em 0,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano.

O Comitê do BC mudou a sua orientação futura, sinalizando mais um corte de 0,50 ponto percentual apenas na próxima reunião. Desde agosto, quando o BC deu início a uma sequência de cortes de 0,5 ponto na Selic, a autarquia afirmava que antevia reduções equivalentes “nas próximas reuniões”, no plural, em se confirmando o cenário esperado. Agora, optou pelo singular.

Com isso, apesar de muitas casas seguirem com suas visões sobre a Selic terminal, a sinalização de que a Selic poderá cair menos do que se esperava leva a ajustes na curva de juros e também a maiores incertezas sobre o ritmo de cortes em um cenário de dados de inflação surpreendendo para cima. Com as decisões futuras em aberto, o BC traz a orientação de ser cada vez mais dependente de dados para definir os próximos passos.

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Enquanto o mercado acionário não se empolgou com essa sinalização – juros mais altos sinalizam menor atratividade para a renda variável – a equipe de estrategistas da XP manteve sua visão otimista com a Bolsa brasileira, com projeção do Ibovespa a 149 mil pontos ao fim de 2024.

A equipe econômica da casa, cabe destacar, apesar do ajuste na orientação futura, não mudou o cenário de que a taxa Selic chegará a 9% em setembro deste ano – ou seja de que ainda há mais cortes por vir – ainda que veja riscos altistas para a dinâmica da inflação à frente, devido às taxas de juros mais altas no mundo (principalmente nos EUA), o que pressiona o real, e à demanda doméstica aquecida, o que pode segurar mais as taxas.

A equipe de estratégia da XP reforça otimismo ao apontar que juros mais baixos tendem a ser positivos para empresas e ativos de risco de forma geral. Isso significa que o custo de capital para as empresas fica mais barato, ou seja, que a empresa tende a pagar menos para financiar suas atividades.

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“Ao mesmo tempo, ciclos de corte juros também reduzem a taxa de desconto utilizada pelos analistas do mercado para avaliar uma empresa, aumentando seu valor justo (que é de onde vem o preço-alvo de uma ação)”, apontam.

Os estrategistas ainda reforçam, ao analisar os ciclos de corte de juros nos últimos 20 anos no Brasil que, nos 6 ciclos de corte da taxa Selic durante o período analisado, o Ibovespa teve valorização em todos eles, uma média de 38%. Na média, para cada 1 ponto percentual (p.p.) de corte na taxa Selic, o Ibovespa valorizou 5,5%. Por fim, para cada 1 p.p. de corte na taxa Selic, em pontos, o Ibovespa valorizou em média 1.700 pontos.

Os estrategistas ponderam que a taxa Selic não é a única — ou a mais importante — determinante dos rumos para o índice Ibovespa e que, recentemente, o macro global tem ganhado bastante relevância, afetando ações brasileiras principalmente pela saída do capital estrangeiro no ano de 2024.

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Porém, a visão segue otimista com base em três razões:

i) a XP vê que o investidor estrangeiro continua com uma visão otimista em relação ao Brasil, conforme as últimas rodadas de reuniões que tiveram com gestores globais. Enquanto isso, os investidores domésticos estão gradualmente voltando a comprar Bolsa nesse ano;

ii) o valuation do Ibovespa continua muito descontado comparando com a média histórica e seus pares globais; e

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iii) o ciclo de corte de juros ainda tem espaço para continuar, ressaltando a projeção dos economistas da casa de Selic a 9%.

(com Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.