O despertar para a renda variável

Muita gente que se preocupa a aposentadoria está substituindo os produtos tradicionais de previdência por ações de empresas que gerem dividendos

Zeca Doherty

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(Getty Images)
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A palavra diversificação entrou definitivamente no dicionário de investidoras e investidores brasileiros, cada vez mais familiarizados a ações, fundos de investimento, moedas digitais e outros tipos de produtos financeiros. Esse cenário vem se moldando nos últimos anos, principalmente após o período entre 2016 e 2021, em que a taxa de juros foi a um dígito e se manteve naquele patamar. O Brasil, historicamente “o país da renda fixa”, viu um grande número de novos entrantes na Bolsa de Valores.

O rápido avanço impressiona. Sete anos atrás, 500 mil pessoas investiam na Bolsa. Em 2021, já eram mais de 4,2 milhões de CPFs cadastrados, segundo dados da B3. E, mesmo com os juros mais altos nos últimos dois anos, a Bolsa não parou de crescer. Hoje, são quase 5 milhões de investidores na renda variável.

Quase a metade desse contingente (49%) tem entre 25 e 39 anos. O sucesso da Bolsa entre as gerações mais jovens não é por acaso. Entre as principais explicações está a maior facilidade dessas pessoas com as novas tecnologias, considerando tanto o próprio ato de investir quanto a busca de informações nos mais variados canais, o que engloba as redes sociais e os Finfluencers, influenciadores digitais do universo das finanças. Esses agentes, inclusive, têm desempenhado papel relevante na apresentação dos mais variados tipos de investimento, principalmente os de renda variável, aos seus seguidores (que, atualmente, são mais de 176 milhões).

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A conscientização sobre a importância de investir para o futuro é mais um fator que justifica a procura das pessoas mais jovens pela renda variável. Recentemente, a ANBIMA percorreu mais de dez mil quilômetros, pelas cinco regiões do Brasil, para verificar os hábitos da população ao poupar, na pesquisa que chamamos de “Como você investe o seu dindim?”. Um dos principais achados foi que muita gente que se preocupa com os recursos para a aposentadoria está substituindo os produtos tradicionais de previdência por ações de empresas que gerem dividendos.

Com o aumento da expectativa de vida no país, entre outras condições econômicas e sociais, a aposentadoria apenas com verba pública tem se tornado uma realidade distante. Nossa pesquisa mostrou que, junto das ações, os fundos imobiliários figuram entre as principais escolhas para estratégias de investimento de longo prazo.

Além do pagamento de dividendos, os FIIs costumam ser de fácil entendimento até para menos experientes no universo das finanças. Merece destaque também a sensação de tangibilidade que esse produto transmite, um atributo que ainda é bastante valorizado pela população brasileira: na ótica de quem aplica, significa colocar o dinheiro em um imóvel e se tornar dona ou dono de uma parte dele.

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A democratização do mercado de renda variável resulta também da possibilidade de ingresso com valores baixos e de acesso a diferentes produtos a qualquer perfil de investidor (de acordo com o apetite de cada pessoa ao risco). E isso só reforça a importância da educação financeira. É fundamental que haja capacitação e maturidade para a tomada de decisões baseada em dados, o gerenciamento de riscos e a adaptação às mudanças nas diferentes condições econômicas. Compreender os ciclos da economia e conhecer as perspectivas do mercado contribui muito para o sucesso a longo prazo na jornada de investimento.

Do lado das instituições do mercado financeiro ainda há o desafio de criar mais oportunidades e de se comunicar de forma cada vez mais clara e assertiva com os clientes. São medidas que, somadas ao alcance maior da educação financeira, contribuirão para que não seja passageiro o despertar de investidoras e investidores para a renda variável.

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Zeca Doherty

Diretor-executivo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) desde 2012.