Eletrobras (ELET6) tem resultado “poluído” por itens não-recorrentes; analistas esperam por próximos gatilhos para ações

Para analistas, resultado não é catalisador para os papéis, que têm sofrido em 2023 com preços de energia mais baixos e ruídos políticos

Felipe Moreira

Eletrobras (Foto: Getty Images)
Eletrobras (Foto: Getty Images)

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A Eletrobras (ELET3;ELET6) registrou números do quarto trimestre de 2022 (4T22) que trouxeram visões diferentes para os analistas de mercado.

Para o Itaú BBA, a elétrica reportou resultados negativos no período, prejudicados por impactos não-recorrentes/não-caixa.

Os principais impactos apontados pelo banco foram despesas de R$ 1,260 bilhão referente ao programa de desligamento voluntário (PDV), relacionado aos 2.494 empregados que aderiram ao plano, e provisões de R$ 2,5 bilhões para perdas com a Amazonas Energia.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente (excluindo equivalência patrimonial, efeito de transmissão IFRS e provisões recorrentes) foi de R$ 3,663 bilhões, abaixo dos R$ 4,181 bilhões previstos pelo BBA, principalmente devido a maiores despesas controláveis ​​e custos de compra de energia.

Segundo o BBA, o aumento anual do Ebitda foi impulsionado principalmente pela consolidação da Santo Antonio e pelos maiores resultados de transmissão efetiva de caixa, devido ao reperfilamento do Rede Básica Sistema Existente (RBSE).

“O prejuízo foi de R$ 479 milhões, ante nossa expectativa de prejuízo de R$ 375 milhões, devido ao menor Ebitda e maiores despesas financeiras líquidas”, explicam analistas.

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Além disso, conforme o BBA, a Eletrobras assinou PPAs (acordo ou contrato de compra e venda de energia de longo prazo) em termos pouco atraentes, o que o banco acredita já estar precificado, dada a venda massiva das ações.

Na mesma linha que o BBA, o JPMorgan destacou que, mais uma vez, os números da Eletrobras vieram complexos e poluídos.

“Em poucas palavras, o Ebitda despencou ano a ano com maiores despesas gerais e administrativas e menor lucro bruto, enquanto provisões e pior resultado financeiro levou a um prejuízo líquido”, diz o JPMorgan.

O Ebitda ajustado caixa de R$ 3,3 bilhões também ficou abaixo dos R$ 4,5 bilhões esperados pelo banco americano, devido a despesas com o novo PDV e despesas mais pesadas de PMSO recorrentes, que aumentaram 16% na base anual.

Do lado positivo, analistas do JPMorgan destacam a reversão de provisões nos empréstimos compulsórios e a despesa de R$ 1,3 bilhão com planos de desligamento.

O JPMorgan acredita que os resultados operacionais, combinados com baixo preço da energia contratada, poluição e prejuízo líquido poderiam desapontar investidores. Apesar desses resultados, o banco acredita que, no longo prazo, os fundamentos positivos permanecem em vigor e reiteram a classificação overweight (equivalente à compra) para ELET3.

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O Itaú BBA manteve avaliação outperform (desempenho acima da média, equivalente à compra) para as ações da Eletrobras, com preço-alvo de R$ 61,60 para ELET3.

O Credit Suisse, por sua vez, aponta que o Ebitda ajustado foi mais forte do que o consenso e suas projeções, refletindo melhores margens no segmento de geração. No entanto, os resultados teriam sido prejudicados pela provisão de inadimplência remanescente da Amazonas, mas ajudados pela reversão de empréstimos compulsórios (resultado inicial de iniciativas pós-privatização).

“Acreditamos que os resultados não são um gatilho, pois o foco vai para as próximas etapas necessárias após a privatização (plano estratégico, venda de energia, novo estatuto, entre outros), além dos ruídos de uma possível interferência do governo [com falas recentes cogitando reestatização da companhia]”, avaliam os analistas do banco. O Credit também tem recomendação outperform para as ações, com preço-alvo de R$ 54 para ELET6.

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Na avaliação do BTG Pactual, os números foram fracos como o esperado e prejudicados por provisões mais altas. Além disso, os analistas da casa viram pouco progresso na redução da exposição da empresa aos preços de energia.

Porém, também seguem com recomendação de compra para os ativos. Os analistas veem a ação negociando a uma Taxa Interna de Retorno (TIR) real acima de 20%, após uma grande queda causada por: (i) expectativas de preços de energia mais baixos; (ii) preocupações crescentes com o risco de interferência política do novo governo; (iii) menor ritmo de corte de custos (versus expectativas); e (iv) discussões relacionadas ao seu recebível RBSE.

“O preço das ações já incorpora preços implícitos de energia muito baixos, e a reestatização da companhia é improvável, pois, de acordo com os termos da privatização, o poder de voto de qualquer acionista individual (incluindo todas as esferas relacionadas ao governo) é limitado a 10%. Há também uma poison pill de 200% se o governo (ou qualquer acionista) optar por comprar o controle acionário”, avaliam. Por outro lado, apesar do valuation atraente, acreditam que a falta de catalisadores (melhor clareza sobre corte de custos, negociações compulsórias e/ou remoção de ruído político) é o que está segurando a ação.

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Em 2023, as ações ELET3 acumulam queda de 23%, enquanto ELET6 cai cerca de 20%. No fim da manhã desta terça-feira (14), às 11h52 (horário de Brasília), os papéis ON subiam 1,13% (R$ 32,25), enquanto os PNs subiam 1,89% (R$ 34,46).