Clima ameno ajuda a reduzir pressão do preço do gás na Europa, mas recuperação da China preocupa

Inverno menos rigoroso, foco em armazenamento e consumo menos trouxeram preços para patamar pré-guerra na Ucrânia

Roberto de Lira

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2023 começou com boas notícias para o continente europeu. Uma soma de fatores que incluiu um inverno menos rigoroso que o previsto, o armazenamento mais alto de gás natural – para compensar o menor envio da commodity pela Rússia – e o impacto do incentivo à redução no consumo reduziram o preço do gás natural e, consequentemente, a pressão inflacionária da energia. Para a frente, a dúvida que persiste é se a retomada na China pode reverter essa tendência.

A Europa tem enfrentado um desajuste entre oferta e demanda por gás natural desde o início da pandemia de covid-19, que foi criticamente intensificado desde fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia – e os envios do gás russo foram comprometidos. A Comissão Europeia tem considerado desde então que os preços elevados da energia se tornaram um elemento estrutural da economia do continente, com implicações globais.

No início do ano, as transações de gás no Centro de Transferência de Títulos holandês (TTF), a principal “bolsa” de energia da Europa, chegaram a atingir o preço de 65 euros por megawatt-hora (MWh) para entregas programadas para fevereiro – nesta semana, o preço está entre 70 e 75 euros por MWh. A última vez que os preços do gás na plataforma TTF tinham descido abaixo do limiar de 70 MWh foi em 16 de fevereiro de 2022, oito dias antes da invasão russa na Ucrânia.

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O nível está bem longe do pico registrado em agosto, quando o TTF bateu no recorde histórico de € 350/MWh devido ao corte do fornecimento pela Rússia, com impactos extremos sobre a taxa de inflação da UE. A inflação de energia chegou a passar de 40% na comparação anual nos meses de março, junho e setembro, por exemplo.

Um contribuição inesperada para essa tendência de queda nos preços do gás foi a temperatura amena no inverno europeu, depois de analistas alertarem durante meses para a crítica situação esperada para a população pela necessidade maior uso de gás para aquecimento, em meio à crise de oferta da commodity e do avanços dos preços.

Países como Alemanha, Polónia, Hungria, Dinamarca, Holanda, França e Suíça tiveram um clima extraordinariamente ameno nas últimas semanas. Segundo o Goldman Sachs, este inverno tem sido o 4º mais quente já registrado no noroeste da Europa.

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Enquanto as condições atmosféricas moderam o uso de gás para aquecimento, as reservas de emergência dos países estão mais protegidas. O armazenamento subterrâneo de gás na União Europeia, destinado a atender um aumento da procura durante um inverno rigoroso, está hoje em mais de 80% da capacidade total.

Além disso, várias das mais importantes economias europeia têm feito campanhas pelo consumo menor de energia. O Goldman Sachs calcula que esses esforços reduziram o consumo em mais de 20%, em relação à média histórica, mas que isso caiu para algo entre 12% e 16% conforme as temperaturas desceram com a chegada da estação mais fria.

Norbert Rücker, diretor de Economia e Pesquisa da Julius Baer, escreveu em relatório publicado nesta semana que os eventos climáticos são um elemento que apenas acelera ou retarda temporariamente as dinâmicas fundamentais. “As expectativas de longo prazo do mercado ainda parecem muito elevadas, possivelmente incorporando um prêmio injustificado de escassez”, comentou.

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Para o Goldman Sachs, com a redução do consumo, o nível de armazenamento previsto para o final de março de chegar a 52%, ante uma previsão anterior de 33%.  À medida que atualizamos nossos saldos para incorporar essas mudanças, elevamos nosso armazenamento esperado para o final de março de 23 para 52% do total, de 33%. Com isso, a projeção para o preço do gás no período foi reduzida de 75 euros por MWh para 70 euros/MWh.

O banco de investimentos, no entanto, alerta que esse comportamento pode não se repetir em 2024. “Qualquer coisa que não seja uma repetição deste inverno muito quente, preparará o terreno para um 2024 mais apertado, especialmente se os esforços de conservação forem reduzidos a partir daqui”, diz o banco.

Fator China

Sobre os preços, o Goldman Sachs lembra que impacto do clima quente na Europa para o armazenamento de gás não apenas reduziu os preços localmente, mas também puxou para baixo os valores do GNL à vista na Ásia. Assim, o impacto total dos preços mais baixos do TTF para a demanda de GNL na Ásia terá que ser testado, “com a elasticidade da demanda difícil de avaliar no contexto de uma China reaberta.”

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Toby Copson, chefe global de negociação da Trident LNG, disse à alemã Deutsche Welle que um forte recuperação chinesa adiciona uma preocupação por adicionar um novo player na demanda, o que deixaria a Europa competindo pelo que estiver disponível com um dos maiores compradores do mercado.