As falas do BC sobre inflação que impulsionaram dólar e juros, enquanto varejistas e construtoras tiveram forte baixa na Bolsa

Mercado brasileiro reage ás declarações de Campos Neto e Bruno Serra sobre alta adicional da Selic no próximo Copom e inflação persistente no país

Equipe InfoMoney

Edifício-Sede do Banco Central, em Brasília (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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Os mercados de renda fixa e câmbio no Brasil sofreram um golpe nesta terça-feira, com disparada nas taxas de DI e um rali do dólar, que chegou a R$ 5,25 e fechou a R$ 5,238 (alta de 1,63%) , num profundo ajuste após falas consideradas duras de duas autoridades do Banco Central colocarem em xeque a perspectiva de fim do ciclo de aperto monetário.

A correção expressiva nos preços locais ocorria ainda em meio a um humor questionável no exterior, ainda por temores de altas de juros que sufoquem as economias. Mas a piora nos ativos domésticos era mais visível, numa reversão clara do comportamento mais benigno de algumas semanas patrocinado, em parte, pela perspectiva de que os juros por aqui parariam de subir.

Os comentários de mercado logo depois do último comunicado de política monetária do BC, no começo de agosto, foram de que o Brasil ficaria mais atrativo a partir de então, uma vez que as taxas de juros tenderiam a ir na direção de queda, o que elevaria os retornos via carrego dos papéis de renda fixa.

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O maior apelo da dívida brasileira chamaria, assim, fluxo internacional, aumentando a liquidez em moeda estrangeira e exercendo pressão de baixa sobre o dólar.

O impacto da ideia de encerramento da alta de juros também impulsionou as ações da bolsa brasileira, uma vez que o desconto a valor presente pararia de aumentar com a estabilidade do juro –podendo cair quando o BC iniciasse o ciclo de queda da Selic, que algumas casas previam já para o primeiro semestre de 2023.

“Mas o BC indicou agora que o processo de queda da Selic pode não acontecer como o mercado precifica”, disse Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, para quem o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tentou passar na véspera mensagem “bastante” alinhada à que vem sendo emitida pelos principais bancos centrais globais.

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Na noite de segunda-feira, Campos Neto disse que o Banco Central não pensa em queda de juros neste momento, mas em convergir a inflação às metas, ressaltando que situação inspira cuidados e que a batalha contra a alta de preços no país não está ganha.

Nesta manhã, o diretor de Política Monetária do Bacen, Bruno Serra, foi ainda mais explícito e disse que o banco discutirá um possível ajuste residual na taxa básica de juros neste mês, acrescentando que o processo de controle inflacionário no Brasil ainda é bem incipiente.

Ambos adotaram tônicas consideradas mais “hawkish”, jargão da comunidade financeira que se refere a uma abordagem mais inclinada à contração da política monetária, implicando restrição de liquidez.

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Com a perspectiva de que os juros demorem mais a cair, as projeções para o custo do dinheiro dispararam, nocauteando outros mercados. Na B3, as taxas de DI entre 2024 e 2027 chegaram a saltar até 33 pontos-base, com redução da inclinação –movimento clássico em momentos de forte aperto monetário.

A possibilidade de menor fluxo de capital advindo de investimentos que se beneficiam da queda dos juros ajudou a impulsionar o dólar, que subiu mais de 1,5%, com o real na liderança das quedas entre as principais moedas globais em dia de ganhos generalizados da divisa norte-americana.

Na bolsa, o Ibovespa fechou com perdas de 2,17%, também repercutindo a queda externa. Contudo, a baixa da Bolsa brasileira foi mais expressiva. As ações de consumo discricionário, mais vulneráveis ao encarecimento do crédito, despencaram, minando o índice geral.​​

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Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3) caíram 7,41%, 5,24% e 7,67%, respectivamente, enquanto a empresa de viagens CVC (CVCB3) teve perdas de 7,12%. As construtoras, após altas recentes, também tiveram um dia de perdas, caso de MRV (MRVE3) , com baixa de 8,51%, e Cyrela (CYRE3), esta última com queda menos expressiva, de 4,05%.

Com a alta do dólar, empresas de aviação, como a Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4), também tiveram fortes perdas, de 6,52% e 5,08%.

Enquanto o mercado reagiu fortemente às declarações, há algumas análises de que a fala (a princípio de Campos Neto) não foi dura quanto poderia parecer num primeiro momento. A Levante Ideias de Investimento destaca que boa parte da queda dos índices de inflação veio da redução dos preços dos combustíveis, seja pela baixa concedida pela Petrobras, seja pela redução de impostos.

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Ou seja, a desaceleração da inflação decorre da movimentação de um item importante – mas isolado – dentro de uma cesta de produtos e serviços cujos preços ainda não arrefeceram. Assim, para os analistas, é incorreto considerar que Campos Neto foi “hawkish” em suas declarações da segunda-feira, mas que apenas deixou claro que a inflação segue estruturalmente elevada.

(com Reuters)

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