Campanha eleitoral começa na TV e no rádio: qual é o peso dos meios tradicionais sobre o resultado das urnas?

Ao todo, 95 minutos de peças publicitárias políticas serão transmitidos diariamente pelas estações de rádio e pelos canais abertos de televisão

Marcos Mortari

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A 37 dias das eleições gerais de 2022, a campanha finalmente chega de maneira oficial à programação das rádios e televisões, com os dois blocos diários de horário de propaganda eleitoral e as inserções dos candidatos ao longo da programação das emissoras.

Ao todo, 95 minutos de peças publicitárias políticas serão transmitidos diariamente pelas estações de rádio e pelos canais abertos de TV. O tempo é distribuído entre candidaturas à presidência, aos governos, ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados e às Assembleias Estaduais, de acordo com regras estabelecidas pela Lei das Eleições (Lei 9.504/1997).

A legislação estabelece 70 minutos diários de inserções de 30 ou 60 segundos dos candidatos, a critério dos respectivos partidos e coligações, distribuídos ao longo da programação veiculada entre as 5h e as 24h. E dois “blocões” fixos de 12 minutos e 30 segundos por dia em horários distintos a depender do meio de comunicação:

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1) No rádio: das 7h às 7h12’30’’, e das 12h às 12h12’30’’

2) Na televisão: das 13h às 13h12’30’’, e das 20h30 às 20h42’30’’

Os “blocões” dos candidatos à Presidência da República e à Câmara dos Deputados são transmitidos às terças e quintas-feiras e aos sábados, sempre com o segundo horário repetindo o conteúdo transmitido no primeiro.

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Já os “blocões” de candidatos aos governos, ao Senado Federal e às Assembleias Legislativas são transmitidos às segundas, quartas e sextas-feiras. Ou seja, são eles que hoje dão o pontapé inicial da propaganda eleitoral nos meios tradicionais. Os demais terão sua estreia amanhã (27).

No caso das inserções, os 70 minutos são divididos em 5 partes iguais, totalizando 14 minutos diários distribuídos entre os partidos para cada cargo em disputa. Ou seja, todos os dias haverá spots de candidatos às cinco posições.

Tanto nos blocos do horário de propaganda eleitoral gratuita quanto nas inserções, a regra para a divisão do tempo entre as candidaturas é a mesma:

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1) 90% do tempo distribuído proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados, considerando, o caso de coligação para as eleições majoritárias, o resultado da soma do número de representantes dos 6 partidos que a integrem. Federações partidárias neste caso são consideradas uma unidade para o cálculo;

2) 10% distribuídos igualitariamente entre os partidos que alcançaram a cláusula de desempenho nas últimas eleições gerais.

Para as eleições presidenciais, esta foi a distribuição do tempo no rádio e na televisão entre os candidatos, definida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme a legislação:

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– Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Coligação Brasil da Esperança (PT/PC do B/PV; PSOL/Rede; PSB, Pros, Solidariedade, Avante e Agir)
Tempo por bloco: 3 minutos e 39 segundos;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 287

– Jair Bolsonaro (PL)
Coligação Pelo Bem do Brasil (PL, PP e Republicanos)
Tempo por bloco: 2 minutos e 38 segundos;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 207

– Simone Tebet (MDB)
Coligação Brasil para Todos (MDB, PSDB/Cidadania e Podemos)
Tempo por bloco: 2 minutos e 20 segundo;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 185

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– Soraya Thronicke (União Brasil)
União Brasil
Tempo por bloco: 2 minutos e 10 segundos;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 170

– Ciro Gomes (PDT)
PDT
Tempo por bloco: 52 segundos;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 68

– Roberto Jefferson (PTB)
PTB
Tempo por bloco: 25 segundos;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 33

– Felipe d’Avila (Novo)
Novo
Tempo por bloco: 22 segundos por bloco;
Total de inserções de 30 segundos até a eleição: 30

A cláusula de barreira determina que só têm direito ao horário eleitoral os partidos que obtiveram, nas últimas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo, 3% dos votos válidos, distribuídos em pelo menos 1/3 dos Estados, com um mínimo de 2% dos votos válidos em cada um; ou tiverem elegido pelo menos 15 deputados federais em pelo menos 1/3 dos Estados.

É por isso que quatro candidatos ficaram sem espaço no rádio e na televisão: Vera Lucia (PSTU), Constituinte Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP) e Sofia Manzano (PCB).

O período para campanha no rádio e na televisão vai até a antevéspera das eleições – o que, neste ano, significa 29 de setembro. Caso haja segundo turno, as propagandas retornam na sexta-feira seguinte ao primeiro turno (7 de outubro) e vão até 28 de outubro.

A importância do rádio e da TV

O tempo para propaganda no rádio e na televisão é sempre considerado ativo estratégico por candidatos em eleições. Apesar do ganho de protagonismo das redes sociais, as peças destinadas aos meios tradicionais consomem boa parte dos recursos e energia das campanhas, por seu elevado alcance sobre os mais diversos grupos de eleitores.

Os meios analógicos, sobretudo pelas inserções distribuídas ao longo das programações das emissoras, são vistos como armas poderosas para os candidatos atingirem eleitores que hoje estão fora de suas “bolhas”. A desigualdade e o baixo acesso de determinados grupos a internet também fazem com que a televisão mantenha importância no atual momento.

Para muitos analistas, o início da campanha na TV marca o verdadeiro pontapé inicial da corrida eleitoral, sobretudo na percepção do eleitorado. No pleito deste ano, tal premissa poderá ser testada, dadas as indicações de cristalização precoce das preferências de boa parte dos brasileiros – ao menos em relação à disputa presidencial.

Pesquisa Genial/Quaest, realizada entre 28 e 31 de julho, mostrou que 43% dos eleitores usam a TV como principal meio para se informar sobre política. O número é maior entre o grupo com renda familiar de até 2 salários mínimos mensais (50%), e com idade entre 45 e 59 anos (51%) ou a partir de 60 anos (56%).

O público de baixa renda corresponde a 38% da amostra do levantamento. O grupo é a nova fronteira em disputa entre Bolsonaro e Lula, com o atual presidente lançando mão da ampliação de programas sociais para reduzir a vantagem do adversário às vésperas do pleito.

“Contar com um bom tempo de TV no horário eleitoral gratuito para poder se comunicar com os eleitores é uma variável importante. Nem sempre, porém, ter o maior tempo de TV garante o sucesso eleitoral, sobretudo nas disputas presidenciais”, ponderam os analistas da Arko Advice.

Um levantamento feito pela consultoria mostra que, das 8 eleições ao Palácio do Planalto realizadas desde 1989, em apenas 4 oportunidades o candidato vitorioso teve o maior palanque eletrônico: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1994 e 1998; e Dilma Rousseff (PT), em 2010 e 2014. Já nos demais pleitos, prevaleceram candidaturas com menos espaço.

Na eleição de 2018, Jair Bolsonaro, na época candidato pelo PSL, contava com apenas 8 segundos por bloco do horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e apostou principalmente nas redes sociais para alavancar sua candidatura. Mas ele também ganhou importante cobertura midiática espontânea após sofrer atentado a facada em Juiz de Fora (MG).

“Ainda que o tempo de TV, isoladamente, não esteja correlacionado com a vitória nas urnas, o horário eleitoral não deixa de ter sua importância. Observe-se que, das oito eleições presidenciais desde a redemocratização do país, apenas em 1989 e 2018, quando as eleições foram marcadas por forte crise da política tradicional, quem venceu o pleito não tinha nem o maior nem o segundo maior tempo de TV”, ressaltam os analistas.

Para eles, o amplo espaço de Lula e Bolsonaro no rádio e na televisão deverá contribuir para o cenário de polarização mantido pelos dois candidatos nas eleições de 2022.

Vale lembrar que é a primeira vez em que um presidente, candidato à reeleição, enfrenta um ex-presidente desde a redemocratização. O fato de os dois serem nomes amplamente conhecidos pela população contribui para a decisão precoce de voto do eleitorado.

“É errado subestimar o papel da televisão”, afirmou o pesquisador Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.

No último programa Timing Político, realizado pela XP Política, o especialista sustentou que os eleitores que mais se informam e são influenciados pelas redes sociais normalmente são aqueles que já têm voto consolidado. Diferentemente do que ocorre no caso do rádio e da televisão.

“A televisão é a fonte primária de informação entre os nem-nem, que são de fato quem vão definir esse processo eleitoral”, complementa. Nesta eleição, o termo “nem-nem” passou a ser utilizado como referência a eleitores que não declaram voto nem em Lula nem em Bolsonaro. Hoje, os dois concentram cerca de 80% das intenções de voto nas pesquisas.

Para o marqueteiro Lula Guimarães, especialista em comunicação para campanhas eleitorais, as inserções distribuídas ao longo da programação das emissoras é ferramenta ainda mais forte à disposição dos candidatos para atingir grupos diversos de eleitores.

“Esse comercial, presente em todos os horários da televisão, impacta o telespectador de surpresa, ele tem um poder muito grande de convencimento”, observa. Para ele, a tendência é que, apesar do clima de hostilidade entre as campanhas, os candidatos foquem, em um primeiro momento, em construir suas próprias imagens em vez de desconstruir a de seus adversários.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.