Ação da Natura (NTCO3) desaba 10% após balanço; CEO vê cenário desafiador no 2º semestre e espera simplificar a empresa

Executivo aponta que a Natura busca uma organização mais enxuta, descentralizada, com maior autonomia e alocando capital nas prioridades

Lara Rizério Felipe Alves

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Por mais um trimestre, os resultados da Natura&Co (NTCO3) evidenciaram o cenário repleto de desafios para a companhia de cosméticos. Os ativos NTCO3 se afastaram das mínimas, mas fecharam em baixa de 10,36%, a R$ 14,28, destacando-se como a maior baixa do Ibovespa após a um prejuízo líquido de R$ 766,7 milhões no segundo trimestre de 2022. A companhia, assim, reverteu lucro de R$ 234,8 milhões do mesmo período do ano passado, o que foi explicado por maiores despesas financeiras e impostos.

A Natura reportou resultados fracos frente à deterioração macro, apreciação cambial, conflito entre Ucrânia x Rússia e pressão de custos, destaca a XP, com a venda consolidada em queda de 9% na base de comparação anual.

A rentabilidade foi o principal destaque negativo do resultado novamente, reforçam os analistas, com a margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita líquida) ajustada em 6,3% (queda de 2,3 pontos percentuais na base anual e queda de 1 ponto na trimestral), puxada pela The Body Shop (TBS) em 3,4% (-9,7p.p.) e a Natura&Co LatAm em 9,0% (-1,1p.p.).

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Os principais ofensores de margem foram: i) maiores custos de matéria prima e fretes; ii) efeitos negativos de câmbio; e iii) desalavancagem operacional frente à queda de receita, principalmente em Avon e TBS; o que foi parcialmente compensado por ganhos de eficiência e sinergias.

O Bradesco BBI, por sua vez, descreveu os resultados como uma “montanha-russa”. Para os analistas, existem grandes destaque positivos, com as vendas Natura Brasil crescendo 14%, as vendas Avon Brasil 5% maiores na categoria Beleza e mercados hispânicos crescendo bem com câmbio constante.

Contudo, também há algumas grandes frustrações, caso da contração da margem bruta, uma margem Ebitda dolorosamente baixa de apenas 3% na TBS e Avon International fraca, embora com deterioração limitada quando excluídas Ucrânia e Rússia.

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“É justo dizer que o ‘motor’ da Natura & Co na América Latina, particularmente a Natura – parece melhor do que há vários trimestres, com forte crescimento e uma margem EBITDA estável de 10,8%”, aponta o BBI. No entanto, avalia, o ponto de interrogação sobre a TBS cresceu (os canais de varejo estão lutando com menor tráfego, mas outros canais não estão mais acelerando), com a fraqueza nesse negócio elevando a lista de problemas que precisam ser corrigidos.

Um passo positivo neste sentido foi comunicado – a administração espera poder cortar as despesas da sede corporativa em pelo menos 40%, o que equivale a quase 6% do Ebitda do ano passado – e os analistas esperam notícias adicionais sobre a nova estrutura corporativa nos próximos meses.

“Dito isso, o comentário do CEO de que ‘as margens permanecerão pressionadas no curto prazo’ provavelmente causará alguma preocupação e potencialmente rebaixará as estimativas de consenso (o BBI está quase 7% abaixo)”, apontam os analistas. Portanto, embora certamente existam novos lançamentos na Avon Brasil, e a Natura continue a ter um bom desempenho como marca em toda a América Latina, o BBI acha que os resultados provavelmente não trouxeram o conforto sobre as estimativas e a convicção de uma recuperação na segunda metade do ano que os investidores estavam procurando. Com isso, reduziram o preço-alvo de R$ 30,00 para R$ 29,00 por ação ao final de 2022.

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O JPMorgan viu uma mensagem positiva, ainda que os resultados tenham sido fracos.

Os analistas destacam alguns pontos para maior otimismo, Em primeiro lugar, o tom de simplificação e reestruturação societária, que ficou claro na mensagem do novo CEO, Fábio Barbosa. Além disso, a disciplina de capital já começa a gerar economias recorrentes nos resultados somadas a melhorias materiais nas tendências de geração de fluxo caixa (embora ainda negativas). Por fim, uma comunicação mais clara e transparente com o mercado

“Além disso, acreditamos que o foco deve se voltar para o novo plano estratégico do Grupo, focado na racionalização de suas estruturas, principalmente ao nível da holding, para ter uma operação mais enxuta e ágil, com maior autonomia”, aponta o JP, que segue com recomendação neutra para o ativo.

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Cenário desafiador

Em teleconferência com o mercado após o resultado, o CEO da Natura ressaltou ver um cenário desafiador para o 2º semestre, mas também com tendência de melhora nas vendas.

A pressão das commodities e da inflação continuará impactando a margem bruta e, neste cenário, a empresa mantém cautela, mas vai operar na gestão de descontos e por meio do mix de categorias que será o foco em grande parte das unidades da empresa. “Como vimos no 2T22, a receita deve melhorar”, aponta Fábio Barbosa, ao ressaltar que deverá haver ainda “muita pressão” a curto prazo.

Os resultados do 2T22, segundo o CEO, são reflexos do cenário desafiador do período. Mas, na visão dele, a empresa tem feito boas decisões para ter melhores resultados.

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Barbosa afirma que a Natura busca uma organização mais enxuta, descentralizada, com maior autonomia e alocando capital nas prioridades mais bem definidas. Economias significativas em despesas corporativas já foram identificadas e todos os negócios seguem focados na proteção das margens e gerando fluxo de caixa em todas as unidades.

Segundo Guilherme Strano Castellan, CFO, a prioridade é continuar trabalhando nas despesas gerais e na rentabilidade. Ele destaca que a posição de caixa continua sólida, com foco na contínua gestão de passivos. O saldo final de caixa em junho ficou em R$ 4,3 bilhões, com maturidade de 3 a 6 anos. A alavancagem está em 2,6x dívida líquida/Ebitda.

Mercado internacional

A empresa está em constante reavaliação de possivelmente sair de alguns mercados internacionais, e revisão completa das despesas gerais da companhia. Ele afirma que as equipes foram assertivas nas mudanças de gestão da receita, diante dos preços altos das commodities e por conta da inflação – se não houvesse esse movimento, os indicadores seriam muito piores, diz Guilherme Strano Castellan.

“Mesmo com desalavancagem da Avon Internacional e pressão da margem bruta, conseguimos compensar parte da queda nas despesas gerais”, pontua o CFO.

Segundo João Paulo Brotto Gonçalves Ferreira, CEO da Natura na América Latina, duas lojas serão abertas em Xangai, e a expectativa é expandir mais no mercado chinês em 2023. “Estamos bem otimistas com a abertura na China”, destaca.

Castellan, por sua vez, admitiu que a empresa avalia encerrar operações em regiões onde tem rentabilidade menor, à medida que a Natura&Co busca recuperar margens de lucro num “cenário ainda desafiador”. O executivo, no entanto, não detalhou quais são essas geografias.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.