Virada na curva de juros leva títulos prefixados a disparar até 10% em menos de um mês; entenda

Especialistas enxergam oportunidades, mas também apontam para riscos relacionados ao fechamento - ou queda - nas taxas que já aconteceu

Bruna Furlani

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Se antes o mercado tinha dúvidas sobre a parada do ciclo de alta de juros pelo Banco Central, o comunicado e a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) – que elevou a taxa Selic para 13,75% ao ano na semana passada – serviram para sanar boa parte dos pontos de interrogação que rondavam a cabeça dos agentes financeiros.

Prova disso é que o mercado passou a precificar que há 71% de chance de o Banco Central manter a Selic em 13,75% na próxima reunião, contra uma probabilidade de 25% de que ele eleve os juros em 0,25 ponto percentual, para 14% ao ano, segundo apontavam os contratos de opção de Copom negociados na B3 na manhã desta quinta-feira (11).

Com a sinalização de que o ciclo de aperto monetário está chegando mesmo ao fim, as taxas de juros – especialmente de papéis prefixados – passaram por um forte ajuste nos últimos dias, e para baixo. Com isso, títulos públicos, que chegaram a registrar desvalorização nos preços em julho e nos meses anteriores, agora apresentam valorização de até 10,02% em menos de 30 dias.

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O efeito de aumento nos preços dos títulos, em momentos de recuo das taxas de remuneração, tem como explicação a chamada marcação a mercado. Durante a existência de um papel, seu preço é marcado diariamente conforme as taxas que o mercado precifica a cada dia.

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Na prática, os papéis prefixados costumam valorizar quando as taxas de juros estão em tendência de queda. O contrário também é verdadeiro: os preços dos papéis normalmente caem quando as taxas de juros sobem, como estava ocorrendo nos meses anteriores, enquanto o mercado precificava uma provável continuação do ciclo de aperto monetário para além de agosto. Por isso, até o vencimento, alguns papéis ficaram com rentabilidade negativa em alguns momentos deste ano.

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Nos últimos dias, a alta mais expressiva foi registrada pelo Tesouro Prefixado 2029. Títulos de prazo mais longo como esse, que vence só daqui a sete anos, tendem a sentir mais os efeitos dos movimentos da curva de juros.

O preço do papel em questão era de R$ 441,02 no dia 20 de julho, quando a taxa de remuneração oferecida por ele atingiu o pico de 2022, de 13,59% ao ano. E saltou para R$ 485,21 nesta manhã (11), dia em que a taxa entregue caiu para 12,04% ao ano. Apenas a título de comparação, no mês anterior inteiro, o papel havia desvalorizado 0,41%.

Outros papéis prefixados, como o título com vencimento em 2025, também registraram avanço nos preços. Ao bater a taxa máxima de 13,51% ao ano no dia 20 de julho, o valor de mercado do papel alcançou R$ 733,62.

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Na primeira atualização desta quinta-feira (11), porém, o título era negociado a R$ 764,97, oferecendo um juro de 11,91% ao ano. Na prática, a variação de preços nesses dias representou uma valorização de 4,27% no preço do Tesouro Prefixado 2025.

Onde investir agora?

Com a chance maior de que as taxas de juros sejam mantidas no atual patamar – de 13,75% ao ano – por um período maior de tempo, a RB Investimentos deve aumentar a alocação em prefixados na carteira de setembro. Atualmente, para os perfis mais conservadores e moderadores, a sugestão da casa é de que os investidores aloquem 15% do portfólio em prefixados. Já investidores mais agressivos devem optar por aplicar até 10% da carteira.

Ativos de crédito privado, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs), são a preferência da RB Investimentos, como explica Gustavo Cruz, estrategista da casa. Hoje, as recomendações estão em um CDB da BR Partners e um CDB do Banco Master, sendo o primeiro com prazo de um ano e o segundo com vencimento em dois anos.

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“Esses CDBs conseguem balancear bem o risco, com taxas atrativas e prazos menores. No mercado primário, é possível encontrar papéis a 14,34% e 14,26% ao ano, respectivamente, mas no secundário, as taxas tendem a ser maiores”, observa Cruz.

Um levantamento feito na manhã desta quinta-feira (11) na plataforma da Yubb – que compila dados de diversas corretoras – mostrou que era possível encontrar CDBs emitidos pela Will Financeira com taxas brutas de 14,73% ao ano, com vencimento em 12 meses. Já para prazos de 24 meses, o destaque era um CDB emitido pela Facta Financeira, que oferecia rentabilidade bruta de 14,60% ao ano.

Outros ativos de crédito privado, como Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs) prefixadas, também estão no radar da TAG Investimentos. Dan Kawa, sócio da casa, vem olhando com mais atenção para papéis que pagam a partir de 13,5% ao ano, com vencimento entre dois e cinco anos, além de títulos públicos de mesmo prazo.

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O executivo diz que veio montando a posição antes mesmo do Copom anunciar a elevação dos juros para 13,75% ao ano, porque já acreditava que o ciclo de altas estaria perto do fim, e via que a relação entre risco e retorno era bastante atraente. Porém, a ideia da casa ainda não é aumentar a posição.

Kawa explica que primeiro é preciso que a taxa oferecida pelos papéis volte a aumentar, ou que fique mais claro qual será a próxima âncora fiscal que o país vai adotar após as eleições.

Com taxas menores, quais os riscos?

Quem também está de olho nos juros oferecidos pelos papéis prefixados é Rodrigo Eboli, portfolio manager na Brainvest. Porém, no seu caso, há uma preocupação com o recuo nos prêmios (taxas) registrados nos últimos dias.

O profissional observa que os retornos estavam mais atrativos quando o mercado tinha uma incerteza grande sobre o fim do ciclo de alta de juros. Porém, isso mudou com a ata do Copom e a divulgação de dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos melhores do que o esperado.

“Houve um fechamento [queda] expressivo. O título janeiro 2025, por exemplo, viu o juro fechar [reduzir] bastante. Ele chegou aos 13,48% ao ano no dia 21 de julho e agora estava próximo dos 12%. Isso em cerca de duas semanas”, observa Eboli.

Diante do recuo, o profissional diz que realizou uma troca na carteira de prefixados, com a saída de papéis mais curtos para um título com vencimento em janeiro de 2025, porque a casa não via mais “prêmio”.

Olhando para o Tesouro Direto, o título de prazo mais próximo ao citado por Eboli é o Tesouro Prefixado 2025, que na primeira atualização desta quinta-feira (11) oferecia um retorno bruto de 11,95% ao ano.

Embora o profissional tenha feito uma troca de títulos, o investidor pessoa física precisa ter atenção. Isso porque é preciso verificar se vale a pena a retirada do montante, ou se o papel ainda apresenta desvalorização em relação ao momento em que a pessoa aplicou o dinheiro.

Lucas Queiroz, estrategista de renda fixa para pessoa física do Itaú BBA, também vê com preocupação os prêmios oferecidos por títulos públicos prefixados – com vencimento até janeiro de 2024.

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Em relatório, Queiroz afirmou que as taxas atuais já refletem o cenário-base de redução da Selic a partir da segunda metade de 2023. Logo, haveria pouco ganho se o investidor optasse por se posicionar em papéis mais curtos.

Já no caso de títulos de prazo mais longo, o especialista do Itaú BBA não descarta que os papéis passem por novas rodadas de valorização, se a trajetória esperada para os juros nos Estados Unidos se mantiver de acordo com o precificado até agora.

Nos últimos dias, foram apresentados os números de inflação voltada ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, que ficaram estáveis em julho e mostraram um resultado melhor do que o esperado pelos agentes financeiros. Da mesma maneira, o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) recuou 0,5% em julho – muito abaixo do esperado pelo mercado.

Tais dados reforçaram a visão de agentes financeiros de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve elevar os juros em 0,50 ponto percentual na reunião de setembro.

Embora os dados tenham vindo melhores, o estrategista do Itaú BBA prefere ser cauteloso ao montar a carteira de títulos públicos da casa. Na visão dele, estender o prazo médio do portfólio por meio de prefixados após esse rali parece ser “um toque excessivo de otimismo”.

Nesse sentido, o especialista reduziu a alocação no Tesouro Prefixado 2025, de 20% para 10%, e acrescentou uma posição em Tesouro IPCA+2035, com peso de 10% no portfólio.

Com isso, a carteira Tesouro Direto do Itaú BBA possui agora alocação de 60% em Tesouro Selic 2025, seguida por uma posição de 15% em Tesouro IPCA+2026, além de 10% em alocações do Tesouro IPCA+2035 e Tesouro Prefixado 2025. Por último, a casa sugere uma exposição de 5% ao Tesouro Prefixado 2029.

Riscos com eleições

A preferência por manter certa cautela com prefixados de prazo muito longo não é à toa. Eboli, da Brainvest, observa que o cenário segue bastante incerto e que a curva mais longa de juros é influenciada pelo risco-país, que está bastante atrelado a problemas fiscais.

Para ele, o prêmio da curva mais longa deve avançar ou recuar, à medida em que o mercado for acompanhando novidades em torno de uma solução para a nova âncora fiscal do país.

“A grande questão é o que deve substituir o teto de gastos. Ele perdeu a credibilidade. Ambos os candidatos mais bem colocados não apoiam o teto, mas é preciso ter algo porque a dívida pública não é sustentável hoje”, avalia Eboli.

Na visão dele, o mercado vai cobrar mudanças do próximo presidente eleito. “A dúvida é se teremos a resposta antes ou depois das eleições. Só teremos uma descompressão [recuo dos juros] da curva e do que está no preço dos ativos, se tiver uma resposta de que isso será resolvido”, conclui.