Vale (VALE3) apresenta resultados fracos e dividendos sugerem postura mais cautelosa; ação cai, mas fecha longe das mínimas

Menores preços e maiores custos afetaram balanço; companhia não anunciou dividendo extraordinário, o que chamou atenção do BBI

Lara Rizério

(Divulgação)

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As perspectivas já não eram muito animadoras para a Vale (VALE3) e as mineradoras em geral em um cenário de alta de custos e menores preços. Mas os resultados da companhia do segundo trimestre de 2022, divulgados na véspera, acabaram por decepcionar os analistas de mercado. Com isso, os papéis VALE3 caíram 1,33, a R$ 69,75, nesta sexta-feira (29), ainda que bem longe das mínimas do dia, de queda de 3,76%.

Conforme destaca Andre Vidal, analista da XP, os menores preços realizados de finos de minério de ferro e maiores custos de frete e custo caixa C1 (custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto) afetaram os resultados da Vale, apesar de um ambiente de volume de vendas saudável para minério de ferro e para preços de níquel.

“Deve-se notar que o breakeven – ponto de equilíbrio, em que receitas e custos se equiparam – dos finos da Vale (com investimento de manutenção) atingiu US$ 65 a tonelada, o que costumava ser o preço de longo prazo assumido pela maioria dos analistas em seus modelos, demonstrando o quanto essa indústria sofreu com inflação de custos”, aponta o analista.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado proforma ficou em US$ 5,5 bilhões, em linha com os números esperados pela casa, mas 10% abaixo do consenso. A receita líquida de US$ 11,2 bilhões também decepcionou o mercado em 11%.

O Itaú BBA destacou que o Ebitda ajustado ficou 7% abaixo da sua estimativa explicado, além dos custos na divisão de minério de ferro,  também por resultados mais fracos na divisão de cobre.

“Notamos a realização de preço sequencialmente mais fraca de US$ 113 por tonelada (queda de US$ 28 a tonelada)
e maiores custos de produção, que vieram da valorização do real; da venda de estoques de maior custo; e custos mais elevados de combustível, fatores que pesaram mais que uma maior diluição de custos fixos”, avaliam os analistas.

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Tais efeitos também se sobrepuseram aos maiores volumes de vendas – que registraram aumento de 23% na comparação trimestral, ajudado por uma base de comparação mais fácil, dada a estação chuvosa no primeiro trimestre.

A Vale, por sua vez, reportou geração de fluxo de caixa livre sequencialmente mais forte de US$ 2,3 bilhões no 2T22 (acima de US$ 1,2 bilhão no 1T22), auxiliado por uma liberação de capital de giro de US$ 428 milhões e pagamentos de impostos menores, que mais do que compensou um desempenho operacional mais fraco no 2T22.

“Com isso, mesmo com US$ 2,6 bilhões em recompras no trimestre, a dívida líquida expandida da Vale caiu para US$ 18,6 bilhões (versus US$ 19,4 bilhões no 1T22), em linha com a meta da empresa de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões. Assim, a relação entre dívida líquida e Ebitda ficou estável em 0,2 vez no 2T22, avalia o BBA.

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O Bradesco BBI também aponta que a diferença em relação aos seus números foi em grande parte motivada por custos acima do esperado na divisão de minério de ferro, com custos de entrega total de US$ 52 a tonelada, contra sua estimativa de US$ 48 e US$ 44 no 1T22, enquanto os resultados da divisão de metais básicos permanecem abaixo do potencial.

Do lado mais positivo, a geração de caixa foi de US$ 2,3 bilhões, com a empresa permanecendo focada em realizar seu mais recente programa de recompra, enquanto também anunciou dividendos mínimos de US$ 3 bilhões (ou R$ 3,572056566 por ação, dos quais R$ 2,032680337 como dividendos e R$ 1,539376229 por ação como juros sobre capital próprio, a serem pagos em 1 de setembro de 2022 e ações ‘ex’ em 11 de agosto de 2022), destaca. O dividendo implica em um rendimento anualizado de 9%.

Contudo, o fato de a Vale não ter anunciado uma parcela extraordinária de dividendos pode sugerir que a empresa está um pouco mais cautelosa com as perspectivas, avalia o banco, embora o BBI não descarte que dividendos extraordinários sejam anunciados no final do ano.

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Em teleconferência no fim da manhã, os executivos da mineradora afirmaram que dividendos extraordinários não saíram do radar, ainda que dependa das condições de mercado. “Se o mercado melhorar acima da expectativa, haverá dividendos extraordinários no segundo semestre”, afirmou Eduardo Bartolomeu, diretor executivo (CEO) da companhia. “Somos os mais disciplinados na indústria neste ponto, mas precisamos analisar a condição do mercado. A volatilidade é forte em minério, mas a sazonalidade costuma ser melhor daqui para o final do ano”.

O BBI mantém recomendação de compra para VALE3, pois espera que as tendências de demanda na China melhorem no segundo semestre, apoiando os preços de commodities e as ações do setor, embora reconheçam que o caminho não deve ser linear, especialmente no curto prazo. “Dito isso, vemos VALE3 precificando em uma correção nos preços do minério de ferro para algo ao redor de US$ 70/tonelada já a partir do segundo trimestre de 2022, o que vemos como excessivamente pessimista.

O banco tem preço-alvo de US$ 23 para o ADR (na prática, as ações da companhia negociadas na Bolsa de Nova York) da Vale, ou potencial de alta de 68% frente o fechamento da véspera. O BBA também tem recomendação equivalente à compra (outperform, ou desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de US$ 20 (upside de 46%). XP também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 97 para VALE3, ou upside de 37%. O Morgan Stanley, por sua vez, tem recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado, equivalente à neutra) para o ADR, com preço-alvo de US$ 16 (upside de 17%).

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.