Carrefour (CRFB3) segura ajustes de preços com foco em ganho de volume; ações fecham em queda de 7% após balanço

Em relação às vendas mesmas lojas de abril, a bandeira Atacadão teve resultados muito fortes, apesar da inflação alta

André Cabette Fábio

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A diretoria do Carrefour (CRFB3) Brasil afirmou que vem segurando repasses da inflação aos preços com foco em ganhar volume de vendas no longo prazo, o que causa um impacto “pontual” sobre as margens. O CFO da empresa, David Murciano afirmou que há uma melhora muito significativa de volumes do varejo desde o final de 2021 com essa política de preços.

Segundo ele, no varejo, há crescimento da marca própria, o que apontou como um bom indicador do investimento em preços, que estaria “dando resultado” tanto no Atacadão quanto no varejo. O executivo disse que esse investimento é temporário, e que a perda de margens ocorre no curto prazo.

As declarações foram dadas durante teleconferência com analistas para comentar os resultados do primeiro trimestre. No pregão desta sexta-feira (6), as ações da varejista ficaram entre as maiores quedas do índice, recuando 7,04%, cotadas a R$ 18,87.

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Conforme o balanço do Carrefour divulgado na véspera, as vendas líquidas do Carrefour somaram R$ 18,846 bilhões nos três primeiros meses de 2022, uma elevação de 14,8% sobre as vendas do mesmo trimestre do ano anterior, impulsionada principalmente pelo sólido crescimento na categoria alimentar em todos os segmentos.

O lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado cresceu 13,3% no 1T22, totalizando R$ 1,247 bilhão, enquanto a margem ajustada atingiu 6,6% no período, baixa de 0,1 ponto percentual (p.p.) frente a margem registrada em 1T21.

Assim, o Carrefour Brasil (CRFB3) registrou lucro líquido ajustado ao acionista controlador de R$ 421 milhões no primeiro trimestre de 2022 (1T22), o que representa um crescimento de 0,2% em relação ao mesmo trimestre de 2021.

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Capacidade financeira, estoques e inflação

O CEO do Carrefour, Stéphane Maquaire, afirmou que a empresa estuda dinâmicas de vendas, clientes e volumes para avaliar o repasse da inflação alimentar. Ele destacou que o Atacadão tem um ecossistema que inclui bancos, de forma que é possível manter uma política de repasses focada em volumes e vendas.

Maquaire disse que o Atacadão vem usando sua capacidade financeira para elevar os níveis de estoque antes de uma onda de inflação. No atacarejo, analisa market share, tickets e volumes para determinar como repassar uma parte da inflação, categoria por categoria. A política é de repassar a inflação com compressão das margens para “buscar massa”.

Vendas no 2º trimestre do Carrefour

Questionado sobre a perspectiva para SSS (sigla em inglês para vendas em mesmas lojas) para o Atacadão, que chegou próximo a dois dígitos no primeiro trimestre, o CEO do Carrefour, Stéphane Maquaire, afirmou que o mês de abril, aniversário da bandeira, teve resultados muito fortes, apesar da inflação alta. Agora, a empresa pretende manter o foco nos clientes e nos volumes, disse, sem precisar o patamar de crescimento esperado.

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O CFO David Murciano disse que a evolução nas vendas é muito positiva, o que traz confiança para o trimestre. Assim, disse que faz sentido esperar que o segundo trimestre no mínimo acompanhe a tendência do primeiro.

Ele avaliou o modelo do Atacadão como “muito forte”, de forma que a margem Ebitda não deve cair, com a implementação de novas lojas. O objetivo é elevar o faturamento bruto.

Sinergias com Grupo Big

O CFO do Carrefour, David Murciano, afirmou que, em M&A (fusões e aquisições), a prioridade é a integração do Grupo BIG. Depois, a empresa pode analisar outras oportunidades. Cada loja será convertida para um formato do Carrefour, como Atacadão e varejo, com expectativa de que haja efeito positivo em massa e em taxa.

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O CEO Stéphane Maquaire afirmou que a empresa vê sinergias de R$ 2 bilhões com o Grupo BIG, maiores do que as anunciadas há um ano. Ele disse que a empresa está aberta a realizar conversões de lojas para quaisquer formatos, e que o formato Hiper tem relevância no mercado brasileiro, citando os setores têxtil e bazar.

“Não temos uma visão negativa do formato Hiper”, disse.  Ele ressaltou que há hipermercados de proximidade no Brasil dentro das cidades, ao contrário da Europa, onde ficam fora das cidades. Também destacou as operações digitais, e disse que seu ecossistema será único no Brasil.

O CFO Murciano afirmou que o modelo de hipermercado aporta valor à empresa em suas negociações com fornecedores, e que em B2B (negócios para negócios) e em hipermercados a empresa vem ganhando participação de mercado.

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O capex (investimento de capital) total foi de R$ 274 milhões no 1T22 (-51,4% na base anual), com a queda explicada principalmente pelo menor número de aberturas no trimestre.

​​Assim, a dívida líquida da companhia ficou em R$ 6,365 bilhões no final de março de 2022, crescimento de 10,9% em relação ao mesmo período de 2021.

O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida/Ebitda ajustado, ficou em 1,45 vez em março/22, queda de 0,08 vez em relação ao mesmo período de 2021.

Banco  

O CEO do Carrefour, Stéphane Maquaire, afirmou que houve ondas de inadimplência no Banco Carrefour no primeiro trimestre, e que a expectativa é aceleração das operações. Ele disse ver um cenário desafiador, mas afirmou que o banco tem expertise e que houve grande melhora nos critérios para atribuição de crédito ao cliente.

Questionado sobre NPL (créditos não produtivos) no Banco Carrefour, o CFO David Murciano, afirmou que há variações sazonais. Com sinais de queda de emprego e de estímulos do governo, disse que há confiança sobre o resultado no ano.

O resultado financeiro líquido do Carrefour foi negativo de R$ 330 milhões no primeiro trimestre de 2022, um aumento de 124,5% em relação ao mesmo período de 2021.

Análise do balanço

Para o Bradesco BBI, o Atacadão continua sendo principal impulsionador de resultados do Carrefour Brasil. O BBI ressaltou que os resultados como um todo foram mais fracos do que as estimativas do banco na linha de Ebitda, mas no Atacadão seguiu resiliente.

“Este é o principal motor de crescimento e geração de caixa, e o negócio continua com bom desempenho, com a divulgação dos resultados observando que as fortes tendências continuaram em abril”, destacou.

Analistas ressaltaram que as fracas vendas de não-alimentos estão atrapalhando o crescimento do Carrefour Varejo, com o crescimento de vendas mesmas lojas (SSS) na categoria de Alimentos de +8% A/A.

De qualquer forma, acreditam que o ambiente macro mais fraco está sendo sentido nos hiper e se reflete também nas provisões do Banco Carrefour.

Contudo, o forte desempenho do Atacadão compensou esses dois ventos contrários. BBI mantém avaliação outperform e preço-alvo de R$ 23.

Margens pressionadas

Para a XP, o destaque também fica por conta do atacarejo, enquanto as margens do varejo seguem pressionadas. O varejista reportou resultados mistos no 1T22, com Ebitda 6% abaixo do esperado, impactado pelo Banco Carrefour.

Mais uma vez, segundo analistas da XP, o destaque do resultado foi o Atacadão, com crescimento de 0,3 p.p A/A de margem Ebitda devido à compras estratégicas de estoque para proteção da margem bruta, enquanto ganhos de eficiência e alavancagem operacional compensaram parcialmente pressões inflacionárias e despesas pré-operacionais do plano de expansão.

A XP comenta que foi surpreendida pela rentabilidade das lojas maduras, de 8,2% (+0,5p.p A/A). Já o segmento de varejo do Carrefour continua sendo um detrator em termos de rentabilidade, com uma margem EBITDA de 4,4% (+1,1 p.p), o menor nível desde o 2T18.

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André Cabette Fábio

Jornalista colaborador do InfoMoney