Invasão da Ucrânia pela Rússia já impacta custos da indústria, afirma CNI

Segundo o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, os números só devem aparecer nas pesquisas de abril, mas empresas já relatam aumentos.

Alexandre Rocha

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A invasão da Ucrânia e as sanções contra a Rússia provocaram aumento nos preços das matérias-primas e o impacto nos custos de produção já é sentido em alguns segmentos da indústria brasileira. “As pesquisas ainda não captaram [os efeitos], mas dá para perceber uma preocupação maior [das empresas] e relatos de alguns aumentos”, disse o gerente de Análise Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Marcelo Azevedo, nesta terça-feira.

Ele acredita que o impacto será revelado em números nas próximas sondagens da entidade, programadas para abril. Não há, pelo menos por enquanto, receio de desabastecimento de insumos. “Isso ainda não apareceu nas preocupações, mas depende do tempo de duração da guerra”, afirmou.

Azevedo ressalta que a valorização das commodities metálicas coloca mais pressão em segmentos que já vinham pressionados pela pandemia de covid-19, como a construção civil e a indústria automotiva. “A construção sofre pressão significativa desde 2021, com um aumento brutal dos custos”, observou. O setor de veículos padeceu com a falta de semicondutores no mercado.

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Estas duas atividades usam muito aço. O conflito fez subir os preços do minérios e pelotas de ferro, e do próprio aço, pois Ucrânia e Rússia são exportadoras destes produtos. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, anunciou que vai elevar seus preços em 20% em abril.

O preço do minério de ferro está acima de US$ 150 por tonelada. Já chegou a ultrapassar os US$ 160 este mês, mas segue acima dos valores anteriores à invasão. A mesma lógica se repete em outros metais, como alumínio, níquel e paládio. Níquel é utilizado na fabricação de baterias e aço inoxidável, paládio é usado em semicondutores e as latinhas de cerveja são feitas de alumínio.

Estagflação

Além do custo dos insumos, o aumento do preço do petróleo torna mais caro o transporte de mercadorias e, consequentemente, sobem os valores cobrados dos consumidores.

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“Mas eu vejo o aumento de custos ainda maior do que os repasses”, afirmou Azevedo. Com a demanda desaquecida, fica mais difícil repassar aumentos da cadeia para os preços finais, então algumas empresas são obrigadas e reduzir suas margens.

De acordo com ele, a variante ômicron da covid e a guerra frustraram expectativas de algum alívio nos preços e nas cadeias de fornecimento. Não eram esperadas grandes mudanças, mas pelo menos acreditava-se que o cenário não iria piorar.

A ômicron trouxe de volta o fantasma do apagão logístico de 2021, que fez os preços do fretes dispararem, e a invasão colocou ainda mais pressão nos preços das commodities, que já estavam em patamar alto. “As cadeias de insumos voltaram a ser pressionadas”, comentou Azevedo.

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A percepção é que os impactos devem ser sentidos na economia como um todo, mantendo a inflação nas alturas, pelo menos por enquanto.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney