Yduqs (YDUQ3) tem resultado fraco e ação fecha em queda de 10,5%; mas por que analistas seguem otimistas?

Despesas financeiras impactaram os números, mas analistas seguem destacando a continuidade da tendência de "hibridização" dos cursos

Lara Rizério André Cabette Fábio

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As ações da Yduqs (YDUQ3) tiveram uma sessão de forte queda nesta quarta-feira (16), após o resultado do quarto trimestre de 2021, quando a companhia registrou um prejuízo líquido de R$ 74,3 milhões no quarto trimestre do ano passado, uma perda 27,6% inferior à reportada um ano antes, ainda que com um lucro ajustado de R$ 2,2 milhões, queda de 97,6% na base anual.

Os ativos YDUQ3 fecharam em queda de 10,48%, a R$ 16,40, sendo destaque de baixa em uma sessão bastante positiva para o Ibovespa.

Os números foram considerados fracos pelos analistas de mercado, ainda que com alguns destaques positivos, como aumento na base total de alunos e melhora na geração de caixa operacional, porém com deterioração na última linha do resultado.

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A XP destaca que o lucro líquido ajustado, de R$ 2 milhões, ficou 96% abaixo da sua estimativa, enquanto as receitas aumentaram 9% na base anual impulsionadas por (i) maturação das vagas de medicina, (ii) redução dos descontos obrigatórios e (iii) maturação dos polos de educação digital.

Os analistas também destacam que, embora a empresa tenha conseguido manter os custos e despesas sob controle, o Ebitda ajustado caiu 3,5% na base anual, mesmo considerando que o 4T21 foi muito menos impactado pela pandemia em relação ao 4T20.

O presencial ainda é detrator da receita, avaliam. As receitas aumentaram na base anual (ainda que 8,2% abaixo da estimativa dos analistas da XP) impulsionadas por um crescimento de 38% na base anual na receita do segmento Premium e, uma alta de 27% na receita do segmento digital, mas parcialmente compensadas por uma queda de 5% na receita do segmento presencial (representando 51% da receita total).

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Para o Bradesco BBI, os resultados foram fracos, em linha com estimativas do Bradesco BBI para o Ebitda ajustado, mas abaixo na linha do lucro antes do imposto ajustado (prejuízo de R$ 62 milhões versus estimativa do BBI de perdas de R$ 26 milhões) devido a maiores despesas financeiras.

A queda do Ebitda ajustado na base anual, com margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) em queda de 1,5 ponto percentual, para 24,6%, foi devido à falta de alavancagem operacional, e alguma pressão de custos relacionada ao ensino a distância (custos caixa cresceram 13% na variação anual versus 2% de receitas). As despesas financeiras cresceram 46% na variação trimestral, ou 31% acima do esperado pelo BBI.

Enquanto isso, o guidance de admissão mista no primeiro trimestre de 2022 foi abaixo do esperado, segundo apontaram os analistas da casa. No campus, houve crescimento de volume de 30-50% na variação anual (versus estimativa do BBI de 58%) com queda de 0-5% no ticket médio excluindo cursos semipresenciais (versus estimativas do banco de alta de 6,5%). No ensino a distância, o crescimento de volume superior a 50% (versus projeção de 20% no primeiro semestre de 2022), mas favorecido pela sazonalidade (uma queda na variação anual é esperada no segundo trimestre de 2022) com uma queda de 5-10% no ticket (versus estimativa da casa de alta de 2%).

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Apesar de tudo, visão otimista

Para o Credit Suisse, os resultados do quarto trimestre marcaram a continuidade da tendência de “hibridização” e o aumento da importância do segmento premium nos resultados (EAD e cursos premium representam cerca de 70% do Ebitda).

Contudo, mesmo com o crescimento da base de alunos de EAD e medicina, a receita líquida cresceu abaixo da inflação (7% na base anual ex-aquisições, ou 2% se corrigindo a base de 2020 por descontos judiciais). Mesmo assim, a rentabilidade tem sido sustentada pelo aumento da produtividade.

Para os analistas do banco suíço, apesar das pressões de escala dos últimos anos de pandemia, a empresa conseguiu sustentar razoavelmente o fluxo de caixa operacional. Para o primeiro semestre do ano, a Yduqs está enxergando maiores admissões, sendo que a melhora pode eventualmente levar a uma recuperação progressiva da base de alunos, o que deve ajudar positivamente na rentabilidade dada a alavancagem operacional.

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Analistas do banco, contudo, destacam que os tíquetes médios estão diminuindo ou ficando atrás da inflação, à medida que o mix muda para longe do campus (OC) e para uma parcela maior de recém-chegados.

“Nossa visão é de que os tíquetes não são facilmente recuperáveis (com concorrência e restrições econômicas). Mas, no geral, estamos otimistas com o case, dado que o preço do papel não reflete as perspectivas favoráveis de geração de caixa”, aponta o Credit, que vê que a empresa está “pronta para o ponto de inflexão”.

O banco mantém classificação outperform (desempenho acima da média do mercado) para Yduqs, e preço-alvo de R$ 35, uma alta de 91% frente a cotação de terça-feira (15).

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A XP também destaca que, apesar de considerar os resultados um pouco negativos, mantém uma visão construtiva em relação à companhia, com expectativa positiva para a temporada de captação do primeiro semestre deste ano.

Já o BBI ressalta que, apesar da possível revisão para baixo nas estimativas, mantém recomendação outperform em função do valuation e desempenho inferior recente (13% abaixo do Ibovespa no último mês).

Os resultados do quarto trimestre, na visão do Morgan Stanley, foram difíceis de ler e fracos, impactados por custos acima do esperado, mas também segue com recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) pelo valuation  e boa exposição às principais avenidas de crescimento.

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Os preços-alvo da XP, BBI e Morgan para a ação YDUQS são, respectivamente, de R$ 50,70 (upside de 176%), R$ 30 (upside de 64%) e R$ 28 (upside de 63%).

Perspectivas da empresa

Em teleconferência com analistas, o CEO da YDUQS, Eduardo Parente, afirmou que a empresa vê 2022 como um “novo 2020”. Ou seja, um ano em que a empresa espera um bom ritmo de crescimento, como era o observado até o início da pandemia.

Em 2022, a empresa espera alta de 50% a mais de 60% na captação de alunos no ensino digital, de 10% a 20% no premium e de 30% a 50% no presencial.

Ele pondera, no entanto, que pode haver queda de 5% a 10% no tíquete médio do digital e de até 5% no presencial. Ele diz que isso pode ocorrer porque a empresa tem como estratégia oferecer descontos nos primeiros semestres. Assim, com o grande ingresso de novos alunos, o desembolso médio pode cair.

O executivo ainda destacou que a campanha com Anitta e Juliette vem tendo bons resultados. Questionado sobre o NPS (net promoter score, metodologia que analisa a satisfação com uma empresa) da YDUQS em relação aos competidores, o CEO Eduardo Pardini afirmou que nem a empresa nem a concorrência divulgam os indicadores no Brasil, mas afirmou que está acima de muitos players estrangeiros.

Ele disse que campanhas, como a feita em parceria com a cantora Anitta e a ex-BBB e cantora Juliette para a Estácio, vêm tendo bons resultados, elevando o engajamento. E que o NPS deve ter em breve um efeito positivo sobre o CAC (custo de aquisição de clientes).

Sobre os diferentes segmentos, Parente afirmou que quando a empresa lançou o ensino semipresencial, houve quem alertasse que esta modalidade “canibalizaria” o presencial. Mas na verdade o efeito foi sobre o ensino a distância. “Muita gente que não tinha os seus R$ 700 para o presencial ia direto para os R$ 150, R$ 200 do EAD, mas agora tem essa camada intermediária de R$ 350 ou R$ 400”, afirmou.

De saída da YDUQS, o CFO Eduardo Haiama afirmou que em 2022 não espera grandes mudanças no patamar de PDD (provisão de devedores duvidosos) em relação a 2021. Ele diz que a expectativa é de que a captação seja boa tanto no presencial quanto no EAD. O executivo reconhece que a evasão costuma ser maior entre calouros do que entre veteranos. Assim, em um ano em que a empresa espera forte crescimento dos novos alunos, a PDD pode ser impulsionada pela evasão de calouros endividados.

Mas ele pondera que o setor premium vem se saindo bem e diz que a arrecadação vem melhorando, mesmo com o cenário de juros e inflação. A partir de 2023, o CFO diz esperar uma estabilidade maior do presencial e consequente queda no PDD. Já o PDD do digital depende da dinâmica de crescimento. Enquanto este continuar forte, o PDD deverá ser pressionado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.