Bomb Crypto: como funciona e quais os riscos do game em blockchain que promete criptomoedas

O jogo foi lançado em setembro, e já atraiu pouco mais de 800 mil usuários

Lucas Gabriel Marins

Fonte: divulgação

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O Axie Infinity (AXS), game play-to-earn (jogue para ganhar) que atraiu milhares de usuários em todo o mundo ao mostrar que é possível receber criptomoedas jogando, abriu a porta para o surgimento de uma série de outros títulos com formatos parecidos. Um deles é o Bomb Crypto, lançado no final de setembro.

No game – semelhante ao Bomberman, sucesso nas décadas de 80 e 90 -, os jogadores precisam explodir baús para coletar BCOIN, a criptomoeda nativa da plataforma. Na tarde de quinta-feira (20), segundo o CoinMarketcap, cada unidade do ativo digital valia US$ 3.

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Por causa da possibilidade de gerar renda, o jogo virou febre, e atraiu 820 mil jogadores em três meses, conforme dados da Binance Smart Chain (BSC), a blockchain na qual ele roda. Na internet, há dezenas de vídeos e textos com aqueles famosos títulos caça-cliques, como “ganhe R$ 300 por dia jogando BombCrypto” ou “como faturei US$ 1 mil em um mês com o jogo”.

Apesar de ser possível conquistar criptos no game, a realidade é diferente da “vendida” nesses posts para atrair visitantes.

Como começar e jogar

Para começar no jogo, é preciso comprar um herói, que é um token não fungível (NFT, na sigla em inglês). Cada um custa 10 BCOIN, o equivalente a US$ 30 (R$ 162). Como é de praxe em games da categoria, é preciso ter uma carteira privada para guardar os ativos digitais. A única wallet compatível com o game é a MetaMask. Quem não tem uma, basta entrar no site e instalá-la como extensão do navegador. Após isso, o caminho de compra é o seguinte:

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Adquirir Binance USD (BUSD), a stablecoin (criptomoeda estável) da exchange Binance, em alguma corretora; transferir o valor para a carteira MetaMask; trocar os BUSD por BCOIN; por fim, entrar no site do Bomb Crypto, conectar a carteira já “munida” com os criptoativos do jogo e comprar os heróis.

Há seis tipos de personagens – comum, raro, super raro, épico, lendário e super lendário. Quanto mais raro, mais habilidades ele tem e mais tempo ele consegue ficar “acordado” coletando criptomoedas. Importante ressaltar que não é possível escolher o herói no momento da compra. É tudo aleatório, e baseado na sorte. Os jogadores têm 82,87% de pegar um comum, e apenas 0,04% de tirar um super lendário. A empresa planeja lançar um marketplace na quinta-feira (20), o que deve abrir o mercado secundário.

O jogador pode usar no máximo 15 heróis ao mesmo tempo em campo. No entanto, o jogo permite que cada conta tenha até 500 personagens. Portanto, no momento em que um avatar usa toda a energia e precisa descansar, é possível colocar outro integrante do time. É semelhante ao que ocorre em uma partida de futebol quando um atleta titular vai para o banco e um reserva entra em seu lugar.

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Para acelerar a recuperação de seus heróis, o jogador também pode comprar “poções” ou “casas”. No caso das residências virtuais ainda disponíveis, no entanto, os preços são muito salgados. Os valores variam de US$ 16.200 (quase R$ 87 mil) a US$ 64.802 (cerca de R$ 350 mil), conforme a cotação do BCOIN no momento da redação deste texto.

Quanto é possível ganhar com Bomb Crypto?

Para começar a ter bons resultados no game, jogadores recomendam equipes com no mínimo cinco heróis. Com esse time, que custaria 50 BCOIN, o equivalente a US$ 150 (R$ 810), seria possível encontrar 1,41 BCOIN por dia, em média, segundo o “bombcryptosimulator”, simulador no qual é possível estimar os ganhos com base nos personagens e suas características (poder, resistência, número de bombas e outras).

Em 36 dias, conforme conta de multiplicação básica, o jogador já recuperaria o investimento inicial em cripto, e passaria a acumular novas criptomoedas. Isso não significa, no entanto, que terá reavido o investimento inicial em moeda fiduciária (real, dólar etc), e é nesse ponto que mora um dos riscos dos games play-to-earn: a desvalorização da moeda.

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Em pouco mais de um mês, a BCOIN caiu cerca de 50%. Um usuário que comprou uma equipe com cinco heróis em 12 de dezembro de 2020, por exemplo, gastou US$ 267 (R$ 1.477). Naquele dia, uma unidade de BCOIN valia US$ 5,35, quase o dobro do valor atual. Se o jogador decidisse retirar seu investimento hoje do game, portanto, ficaria com um prejuízo de US$ 117 (R$ 632), sem contar o valor das taxas de saques (10% para retiradas de 40 a 60 BCOIN; 6% para saques de 60 a 80; e 3% para pedidos acima de 80 unidades da criptomoeda). O valor mínimo de saque é 40 BCOIN.

“Por isso, para um investidor novo no mercado dos NFT games, o aconselhável é utilizar o capital que ele tem para risco. Assim, se o projeto vier a desvalorizar, ele não fica no prejuízo”, disse Daniel Carius, COO da Ribus. Ele falou, no entanto, que apesar do risco, no geral a área de jogos em blockchain tem grandes projeções de lucro.

Riscos e como se proteger

Além da desvalorização da criptomoeda nativa, games play-to-earn como o Bomb Crypto apresentam uma série de outros riscos. O jogo pode perder o interesse do público, e o preço de seu ativo digital ser reduzido a zero; se tiver falhas em seu código, pode ser atacado e “saqueado” por um hacker, deixando um grande prejuízo para os usuários; e o jogo pode até ser um golpe financeiro criado com intenção de arrecadar dinheiro apenas para seus criadores. Por isso, na hora de colocar dinheiro em um deles, é preciso analisar diversos fatores.

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“Avaliar o whitepaper (manual), número de usuários, supply circulação, taxas e equipe responsável é a checagem padrão mínima para iniciar o investimento de forma mais simples na tentativa de conhecer o projeto mais de perto”, diz Luiz Felippe Quites, CEO da Khal Special Forces, uma das maiores organizações especializadas em jogos play-to-earn do Brasil.

No caso da equipe, a empresa por trás do Bomb Crypto é a desenvolvedora de jogos para celular Senspark, baseada na cidade de Ho Chi Minh, no Vietnã. O negócio foi fundado em 2011 pelo engenheiro da computação Lahm Ho, e tem diversos games nas lojas de aplicativos. No geral, os títulos têm avaliações positivas.

Saúde econômica

Sobre a “saúde” financeira jogo, José Artur Ribeiro, CEO da corretora Coinext, afirma que a economia do Bomb Crypto inicialmente trazia algumas métricas preocupantes por ter uma moeda inflacionária com mecanismos de queima bastante reduzidos e sem capacidade de contrapor a grande produção de BCOIN (criptomoeda do jogo).

“Essa grande adesão de jogadores ao game trouxe temporariamente uma estabilidade e alta para o BCOIN, de modo que os desenvolvedores tiveram a oportunidade de aprimorar o tokenomics (economia do jogo), seguir com a implantação das atividades do roadmap (plano) e inserir novas funcionalidades de queima de BCOIN e aspectos de reinvestimento no game e limitação da retirada de cripto”, complementa Ribeiro.

No game, apenas 100 milhões de tokens podem ser minerados, segundo o whitepaper do projeto. Desse total, segundo o agregador CoinGecko, 21 milhões já estão em circulação.

Um outro ponto da economia que chama atenção e precisa ser levado em consideração pelo usuário, segundo Carius, da Ribus, é que, conforme citado na documentação do jogo, praticamente um terço do total de ativos digitais pertence a investidores iniciais e à equipe do projeto, o que não é nada bom.

“Com a ideia de descentralização não é ideal ver um projeto que consiste em manter os desenvolvedores como os maiores titulares do token. Isso porque pode acontecer uma venda em grande escala e acabar com a estrutura do game”, falou.

Futuro

O Bomb Crypto ainda é novo, e tem um caminho para percorrer. Conforme o roadmap, há apenas dois modos no jogo – Treasury e Story -, e esse último foi lançado na terça-feira (18). A empresa também pretende colocar um marketplace de heróis para rodar nesta semana, o que vai criar um mercado secundário do game.

“Do ponto de vista de whitepaper a equipe tem trabalhado com muito empenho e tem entregado o que se comprometeu, o que traz um aspecto muito relevante. O futuro do Bomb Crypto, no entanto, ainda é uma grande incerteza e os interessados no projeto precisam estar sempre atentos ao seu nível de exposição financeira”, disse Ribeiro, da Coinext.

Para Quites, da Khal Special Forces, o futuro do mercado de games play-to-earn no geral será promissor, visto que várias empresas do bilionário mercado tradicional de games também começaram a apostar nesse novo segmento.

“O play-to-earn representa uma nova vertente do mercado de games, e vem sendo uma figura disruptiva que valoriza o tempo e a atenção do gamer. O modelo em si é fantástico pelo fato de o desenvolvedor estar distribuindo para a comunidade parte da sua lucratividade, além da possibilidade hoje de ter organizações que proporcionam a entrada dos jogadores sem necessidade de investimento”, falou.

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Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney