Lula cresce em corrida eleitoral, mas mantém empate técnico com Bolsonaro, diz XP/Ipespe

Levantamento mostra líder petista pela primeira vez numericamente à frente do atual presidente em simulações de primeiro e segundo turnos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Pouco menos de um mês após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o tornou elegível, cresceu o nível de apoio ao líder petista entre o eleitorado.

É o que mostra nova rodada da pesquisa XP/Ipespe, realizada entre 29 e 31 de março. Segundo o levantamento, Lula agora aparece com 21% das intenções de voto no cenário espontâneo para a corrida presidencial a mais de 18 meses do pleito.

Vinte dias atrás, 17% dos entrevistados indicavam o nome de Lula em questionamentos sobre em quem votariam se a eleição presidencial ocorresse naquela data, quando não lhes eram apresentados nomes de candidatos.

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Em comparação com janeiro, o desempenho atual de Lula corresponde a um salto de 16 pontos percentuais. Com isso, o líder petista se aproximou ainda mais do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que aparece com 24% ‒ oscilação negativa de 1 p.p. ante meados de março.

Como a margem máxima de erro da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo, Bolsonaro e Lula estão tecnicamente empatados neste cenário ‒ quadro que se repete nas simulações de primeiro e segundo turnos.

Os dois têm ampla vantagem em relação aos demais citados no levantamento espontâneo. A terceira posição é ocupada pelo ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).

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Na sequência, o ex-juiz federal Sergio Moro (sem partido); Guilherme Boulos (PSOL), líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST); e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparecem com 1% das intenções de voto cada.

A simulação espontânea costuma testar a cristalização do apoio a determinados candidatos em corridas eleitorais. No entanto, dada a distância de mais de um ano para o pleito, tal medida tende a favorecer nomes mais conhecidos.

Já que a disputa ainda não está tão presente no imaginário popular e sequer os nomes dos postulantes ao cargo são conhecidos, o resultado não necessariamente indica o quadro a ser desenhado às vésperas da corrida, em 2022.

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O levantamento também testou um cenário estimulado de primeiro turno ‒ quando são apresentados ao eleitor possíveis nomes de candidatos.

Neste caso, pela primeira vez desde setembro de 2019, Lula aparece numericamente à frente de Bolsonaro, com 29% das intenções de voto, contra 28%. O líder petista saltou 4 p.p. em 20 dias, ao passo que o atual mandatário oscilou positivamente 1 p.p. no período.

Dada a margem de erro de 3,2 pontos percentuais, o quadro também configura empate técnico entre os dois.

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No segundo pelotão, aparecem Sergio Moro e Ciro Gomes, com apoio de 9% cada. O ex-juiz federal tem hoje metade das intenções de voto que tinha um ano atrás, quando deixou o cargo de Ministro da Justiça e Segurança Pública do governo.

Na sequência, vem o apresentador de televisão Luciano Huck (sem partido), com 5%. Já Boulos, Doria e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) têm, nesta simulação, 3% de intenções de voto cada um. Indecisos, votos em branco e nulos somam 12%.

Além da concentração de eleitores por Lula e Bolsonaro, o levantamento mostra dificuldades para uma chamada “terceira via”. Moro, Ciro, Huck, Doria e Mandetta têm somados 29% ‒ mesmo patamar de Lula.

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Mas nenhum deles desponta como favorito no bloco, o que tende a criar dificuldades para a construção de uma candidatura única e capaz de concentrar os votos do grupo, além das próprias diferenças de propostas e visões de mundo destes possíveis candidatos.

Na semana passada, Ciro, Amoedo, Doria, Huck, Mandetta e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), assinaram um manifesto em defesa da democracia.

No aniversário do golpe de 1964, o documento dizia que “três décadas depois [do fim da ditatura militar], a Democracia brasileira é ameaçada”, em alusão a iniciativas tomadas pelo governo Bolsonaro ‒ como a reforma ministerial que culminou na inédita saída simultânea dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Os desafios para o “centro” também são expressos nas simulações de segundo turno feitas pela pesquisa XP/Ipespe. O levantamento mostra que nenhum dos nomes deste campo aparece numericamente à frente de Bolsonaro ou Lula nas simulações.

Bolsonaro empata com Moro (30% a 30%), Ciro (38% a 38%) e Huck (35% a 32%), e supera Doria com vantagem de 7 pontos percentuais (37% a 30%) ‒ mesmo placar de fevereiro.

Já Lula aparece tecnicamente empatado com Moro, mas em vantagem numérica de 5 pontos percentuais (por 41% a 36%) ‒ é a primeira vez que isso acontece. O ex-juiz chegou a aparecer com vantagem de 10 pontos percentuais em dezembro de 2019.

O resultado vem uma semana após a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal declarar que Sergio Moro, quando juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, foi parcial na condução do julgamento do caso do tríplex do Guarujá (SP), que culminou na prisão de Lula em 2018.

Na simulação contra Bolsonaro, Lula também aparece pela primeira vez numericamente à frente, mas permanece em situação de empate técnico (42% a 38%).

A pesquisa XP/Ipespe contou com 1.000 entrevistas telefônicas de abrangência nacional, conduzidas por operadores entre 29 e 31 de março. A margem máxima de erro do levantamento é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.