Dólar turismo no cartão pré-pago bate R$ 6,44; euro turismo chega a R$ 7,67 e libra alcança R$ 9,30. O que fazer?

Saiba como encontrar a melhor cotação do dólar turismo e de outras moedas, as diferenças em relação ao dólar comercial e por que o câmbio vem subindo tanto

Mariana Fonseca

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Com o Brasil vivendo o pior momento da pandemia e as incertezas nos campos político e econômico, o câmbio vem refletindo o aumento do risco do país. O dólar, o euro e a libra vêm se valorizando frente ao real ao longo de 2021.

No acumulado de 2021 até o dia 10 de março, o dólar comercial passou de R$ 5,27 para R$ 5,65, uma alta de 7,21%. Há um ano, a moeda valia R$ 4,65, ou seja, subiu 21,5% de lá para cá. Já o euro comercial subiu 4,45% neste ano, de R$ 6,45 para R$ 6,74. Nos últimos 12 meses, a moeda acumula alta de 27,16% – valia R$ 5,30 há um ano. Por fim, a libra esterlina valorizou 10,2% neste ano, indo de R$ 7,14 para R$ 7,87. Em 12 meses, a alta é de 30,3%: a moeda valia R$ 6,04.

Para as pessoas físicas, o reflexo dessa alta está nas cotações do dólar turismo e do euro turismo. A compra do dólar turismo em espécie sai por R$ 5,78 a R$ 6,04 nas casas de câmbio de São Paulo, segundo cotação feita às 09h10 desta quinta-feira (11) na plataforma Melhor Câmbio. Já a nota física do euro turismo custa entre R$ 6,92 e R$ 7,17, nas mesmas condições. A libra, moeda de referência do Reino Unido, assusta ainda mais: chega ao menos R$ 8,34.

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O maior susto está nas compras por cartões pré-pagos, que têm uma incidência maior de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 6,38% contra 1,1% no dinheiro em papel-moeda. O dólar turismo no cartão pré-pago fica entre R$ 6,13 e R$ 6,44. Já o euro turismo custa entre R$ 7,34 e R$ 7,67. E a libra, no cartão pré-pago, varia entre R$ 8,88 e R$ 9,30.

O InfoMoney ouviu especialistas em câmbio para explicar a diferença entre câmbio comercial e câmbio de turismo; por que a conversão de real para dólar turismo, euro turismo ou libra turismo está tão desfavorecida; e o que podem fazer os consumidores com planos de viagens para o final de 2021 em diante.

Qual a diferença entre câmbio comercial e de turismo?

O dólar comercial e o euro comercial costumam aparecer nos noticiários: eles são geralmente comprados ou vendidos por empresas, instituições financeiras e investidores. Seu uso é para remessas internacionais, aplicações financeiras e importações e exportações.

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Já o dólar turismo, o euro turismo e a libra turismo são voltados para pessoas físicas, que compram ou vendem essas moedas para viagens. A cotação turismo é usada quando você compra dinheiro vivo para transações em outro país, obtém um cartão pré-pago para viagem ou adquire passagens aéreas e pacotes de atividades no exterior.

Para os especialistas, o uso do câmbio de turismo para uma reserva emergencial ou para investimento é praticado por uma pequena parcela da população. “O movimento de acumular dinheiro físico no colchão vem caindo. As pessoas costumam abrir contas bancária no exterior ou fazer remessas internacionais para reservas e investimentos”, afirma Alexandre Liuzzi, cofundador da Remessa Online. Esse segmento cresceu de 10% para 25% da base de clientes da fintech de transferências internacionais ao longo de 2020.

Por que o câmbio de turismo é mais caro do que o comercial?

O câmbio de turismo é mais caro do que o câmbio comercial por conta dos custos envolvidos em fazer a moeda chegar até a pessoa física.

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“Os bancos compram essas moedas, emitidas por bancos centrais, e as revendem para as corretoras de câmbio. Por sua vez, essas corretoras podem vender a correspondentes bancários. Só então o dinheiro chega ao consumidor. Quanto mais intermediários existem, maior a possibilidade de ágios [benefícios advindos de câmbio] que custeiem a operação de cada um dos players”, explica Stéfano Assis, cofundador da Melhor Câmbio.

Entram nesse custeio não apenas os custos fixos de cada negócio, mas gastos com logística e com segurança no próprio transporte e no posterior armazenamento das moedas. Um correspondente bancário em Natal (Rio Grande do Norte) deve apresentar uma taxa maior do que um correspondente bancário em São Paulo, por exemplo, por conta da maior distância a ser percorrida e assegurada.

O ágio também fica maior quando a moeda comprada é mais exótica. “Um giro menor leva a mais custos de logística e armazenamento, o que aumenta o preço. Uma prateleira cheia de dólares, euros ou libras vai sair mais rápido do que uma de dólares neozelandeses ou de pesos mexicanos. Todo esse contexto se reflete no preço final que um consumidor pagará pela moeda”, afirma.

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A diferença entre os custos que a instituição financeira tem para captar o dinheiro e os juros propostos ao consumidor final é conhecida como spread. Cada banco, corretora de câmbio ou correspondente bancário coloca seu próprio spread.

Os custos do câmbio de turismo também aumentam a depender de qual operação está sendo feita. A incidência de IOF é de 1,1% no papel-moeda. Já no cartão pré-pago para viagens, é de 6,38%. Sempre olhe para o Valor Efetivo Total (VET) ao comprar dólar ou euro turismo – ele inclui custos de operações e de tributação. As cotações apresentadas no começo deste texto já consideram o VET.

“Desconsiderando o imposto, o cartão pré-pago seria mais barato do que o papel-moeda, porque é tudo feito digitalmente. Não há custo de logística. A cobrança do IOF é que inverte a situação”, explica Assis.

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Segundo Liuzzi, compras internacionais feitas no cartão de crédito não são uma boa opção. Elas se baseiam em uma cotação que varia entre o dólar comercial e o de turismo, por conta de altos spreads bancários. Além disso, sofrem uma incidência de 6,38% de IOF.

Para quem tem a possibilidade de abrir uma conta no exterior, as remessas internacionais fazem uso do dólar comercial e sofrem incidência de 1,1% de IOF. “É a forma mais eficiente de gastar dinheiro no exterior, em termos financeiros. Além da incidência menor de IOF em comparação com outras transações digitais, os spreads não são tão altos nessas transferências”, diz o cofundador da Remessa Online.

Onde encontrar o dólar turismo mais barato?

Antes do surgimento das plataformas online de comparação de câmbio, a melhor maneira de comparar os custos finais de venda das moedas estrangeiras era por meio da ferramenta Ranking do VET, do Banco Central. Ela mostra as instituições de câmbio que praticam o Valor Efetivo Total (VET) mais vantajoso, tanto para dólares quanto para outras moedas.

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Porém, o Ranking do VET do BC tem uma defasagem. Os últimos dados disponíveis na plataforma são referentes aos preços praticados em dezembro do ano passado.

Já plataformas como a Melhor Câmbio listam as cotações praticadas pelas principais casas de câmbio do país, por região, em tempo real. No site, é possível comparar os preços de mais de 20 moedas estrangeiras e fazer um lance online para fechar a compra pela própria plataforma.

Por que o dólar e o euro estão se valorizando?

Diversos fatores podem afetar o câmbio. Segundo Liuzzi, é preciso levar em consideração tanto componentes de curto prazo quanto de médio e longo prazos.

“Tanto a fuga de investidores estrangeiros quanto as intervenções do Banco Central para venda de dólares no mercado acionário influenciam na grande volatilidade do câmbio que estamos vendo atualmente, para cima ou para baixo”, diz o cofundador da Remessa Online.

Já para médio e longo prazos, pesam inseguranças jurídicas e dúvidas quanto à capacidade de crescimento real da economia brasileira, diante da alta nos índices inflacionários.

“Pesam questões fundamentalistas, como a manutenção do poder de compra e a tendência das taxas de juros em cada país. Estamos em um momento de incerteza nesses quesitos, o que afeta a cotação do real em relação ao dólar e ao euro. E o câmbio de turismo acompanha a cotação do câmbio comercial”, afirma Liuzzi.

Estou planejando uma viagem. É hora de comprar?

Os dois especialistas ouvidos pelo InfoMoney preferiram não projetar a trajetória do câmbio para os próximos meses. “O real tende a valorizar frente ao dólar caso o país entre nos trilhos econômicos e políticos. Mas, com tantas incertezas, esse tipo de previsão fica difícil. O dólar pode logo voltar ao piso de R$ 5,80”, diz Liuzzi.

Os cofundadores de fintechs fazem a tradicional recomendação de comprar aos poucos o câmbio para a sua futura viagem. As cotações distribuídas protegem a pessoa física de altas bruscas na moeda internacional de escolha perto do período de viagem, assim como permitem aproveitar eventuais quedas.

“Saiba qual a cotação do dólar ou euro comerciais, para ter uma referência. Depois, pesquise as opções de câmbio disponíveis, anotando quais são as taxas e impostos cobrados caso você compre em papel-moeda ou digitalmente. Conhecendo a alternativa mais eficiente, comece a programar compras”, explica Liuzzi.

Assis faz uma recomendação: se sua passagem está marcada para dezembro deste ano em diante, talvez valha a pena esperar um alguns dias ou semanas.

“Se você tem um prazo longo, eu esperaria um pouco mais. O mercado está ainda se ajustando a diversas instabilidades econômicas e políticas”, diz o cofundador da Melhor Câmbio. “Quando a poeira baixar um pouco, será mais fácil estabelecer uma estratégia de compra gradual de moeda. Mas continue de olho em quedas expressivas, que podem aparecer em um ambiente tão volátil.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.