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Tire os seus óculos de lentes cor-de-rosa na hora de investir

Por que enxergar a verdadeira configuração das coisas é importante quando se vai investir
Por  Carolina Oliveira -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

“Ai, você sabe, o mundo visto com os meus óculos de lentes cor-de-rosa mostra uma série de benefícios em morar em Belo Horizonte”, disse Cian, uma grande amiga que hoje mora longe de mim.

Na ocasião, falávamos sobre a sua recente mudança para a capital mineira e o quanto ela estava feliz por respirar novos ares. De fato, os primeiros meses morando na cidade só lhe revelavam coisas boas.

Cian sempre gostou de reforçar que, quando queremos, ajustamos nossa visão do mundo para enxergarmos apenas o lado bom das coisas, e não como elas são de fato. Não que isso não seja necessário em todos momentos da vida.

Porque, se usado em excesso, essa atitude pode nos deixar passar algumas coisas que precisamos enxergar, mesmo não sendo do nosso gosto. Daí a expressão “usar óculos de lentes cor-de-rosa”: enxergar a vida com um filtro que bloqueia as coisas pouco agradáveis aos olhos.

A conversa me veio à mente ao lembrar dos vários relatos que recebo, em especial de pessoas que ficaram frustradas ao perder dinheiro com um investimento, mesmo que momentaneamente.

Nada mais natural do que se deixar levar pelo otimismo quando começamos a investir. Afinal, ninguém investe achando que só vai perder dinheiro.

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Porém, como eu gosto de reforçar, o ato de investir, por si só, tem riscos. Perdas podem acontecer. E isso não deveria lhe desestimular a seguir seu caminho pelo mundo dos investimentos. Só que um belo entendimento do conceito de risco é necessário nesta jornada.

É, meu caro leitor ou minha cara leitora: o investidor em geral também tem óculos de lentes cor-de-rosa quando falamos de investimentos.

Para podermos desmistificar a versão de que o risco do investidor é sempre algo abstrato, precisamos entender um pouco melhor justamente o que ele significa.

Nos últimos dias, li “Desafio dos Deuses – A Fascinante História do Risco”, do historiador e economista norte-americano Peter L. Bernstein.

No livro, o autor conta que o conceito de risco nasceu em meio ao Renascimento. Pelo contexto social da época, marcada pelo auge do pensamento cultural e a reinvenção do modo de ver a vida, os indivíduos pararam de atribuir os acontecimentos cotidianos a um fato previamente desenhado por um ser superior. As pessoas passaram a atribuir a si mesmas os resultados, positivos ou negativos, das decisões que tomavam em suas vidas.

No mundo dos investimentos, posso definir esse risco como a probabilidade de o investimento não render conforme o esperado por conta de inúmeros fatores: as oscilações das cotações dos ativos (risco de mercado), o não pagamento de uma dívida (risco de crédito), não conseguir sair de uma posição na hora que você quer ao preço que se pede (risco de liquidez) e a perda de dinheiro quando todos os ativos em geral apresentam desempenho ruim (risco sistêmico).

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Existem inúmeros jeitos de se medir determinado risco de um investimento. Mas o fato é que todo investimento tem algum risco associado, ainda que pequeno.

Mesmo a pessoa com o perfil mais conservador do mundo, que deixa seu dinheiro guardado embaixo do colchão, está se expondo – no caso, a três situações: de o dinheiro literalmente apodrecer (lembre-se de que ele é feito de papel), de ser roubado e/ou de perder rentabilidade.

Mas pensar apenas nos riscos impede a ação de qualquer pessoa que pensasse em investir. E é aí que o retorno dos seus investimentos também deve entrar na equação.

Dessa forma, você consegue ter mais clareza em relação ao que realmente vai encontrar quando investir em um ativo e o que pode acontecer com seu dinheiro. Afinal, o retorno que você deseja obter de um investimento e o risco que precisa ser corrido para que você tenha uma chance de atingi-lo andam lado a lado.

Aqui, também é importante lembrar: para se ter mais retorno é necessário se arriscar mais. Contudo, somente o fato de colocar mais risco no seu portfólio não te garante um retorno na mesma proporção – você pode ter perdas, inclusive.

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Portanto, da próxima vez que alguém te oferecer um ativo com “alta rentabilidade e nenhum risco”, pense na história da minha amiga Cian e nos seus famosos óculos de lentes cor-de-rosa.

O mundo dos investimentos precisa ser encarado a olhos nus, com todas as coisas que ele tem a oferecer: o retorno e, consequentemente, o risco associado.

Abraços,
Carol Oliveira

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Carolina Oliveira Carolina Oliveira é especialista em fundos de investimento na Spiti, analista CNPI, economista e mestre em Economia Empresarial. Atuou nas áreas de investimentos de fundos de pensão por quase uma década. Acredita que os investimentos foram feitos para beneficiar aquele que investe e que o pequeno investidor deveria ser capaz de conseguir investir sem firulas e com o calibre de um investidor grande. É por essa causa que está disposta a advogar.

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