Fundos da Truxt rendem até 43% em ano de crise; confira as principais apostas da gestora para 2021

Apesar de preocupações com a cena doméstica, premissas são otimistas para 2021, embaladas pelo noticiário internacional, diz CEO

Beatriz Cutait

(Pixabay)

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SÃO PAULO – Muita calma com o otimismo para 2021. Ainda que o lançamento de vacinas contra o coronavírus seja visto como uma grande notícia para desanuviar o horizonte de investimentos nesta virada de ano, alimentando a perspectiva de retomada da normalidade nas economias, os problemas domésticos do Brasil não vão desaparecer de uma hora para outra.

A visão é de José Tovar, CEO da Truxt Investimentos, para quem as premissas para a Bolsa são favoráveis para o novo ano, porém com o mercado brasileiro basicamente pegando carona na cena externa.

Como nove em cada dez gestores, as tensões recam sobre o controle das contas públicas do país, em um quadro agravado pelas medidas adotadas para conter os estragos da pandemia.

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Os fundos de ações da Truxt caminham para encerrar um grande ano. O Truxt I Long Bias FIC FIM rendia nada menos que 43% em 2020 até o último dia 24, enquanto o Truxt I Valor FIC FIA acumulava ganhos da ordem de 32%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 1,87%.

A gestora tem entre as principais apostas as ações de Vale, XP, Stone, Mercado Livre, BTG, B3, Natura, Magazine Luiza, Omega Energia e Petz.

No câmbio, a Truxt abandonou a posição “comprada” (com aposta na valorização) em dólar e, em juros, os prêmios mais altos ainda não convenceram a gestora. “Não temos coragem de ficar tomados em juros mesmo com as taxas altas, porque há um risco de a situação perder o controle”, disse Tovar, ao InfoMoney.

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Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

InfoMoney: Qual a perspectiva para os investimentos em 2021?

Tovar: Com a eleição de Joe Biden e um Senado que deve ser levemente republicano nos Estados Unidos, houve uma animada no mercado, porque o Biden é uma pessoa mais previsível. A estratégia geopolítica vai ser mais amigável, negociada, o que gera uma tranquilidade especialmente nos conflitos com a China.

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E um congresso não democrata faz com que os gastos sejam controlados, prevê um equilíbrio nos Estados Unidos, embora estejamos animados com o crescimento do país, com impacto sobre os emergentes e, inclusive, sobre o Brasil.

O segundo ponto animador foi a vacina e a expectativa de vacinação. Colocando o vírus como uma questão solucionável, resta o quadro local, que é preocupante em termos de agenda. Temos tudo paralisado por conta da eleição da Câmara. Depois das eleições é que vamos ver como o governo vai lidar com o fiscal.

Ainda existe muita dúvida sobre o que vai ser feito em termos de privatização, redução de gastos, reforma administrativa. Acredito que será mais do mesmo, não estou muito animado.

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É claro que as empresas que atravessaram bem essa crise vão continuar a se beneficiar. Mas o crescimento do PIB vai diminuir, sem a ajuda emergencial o consumo vai cair no primeiro trimestre, então vamos acompanhar o efeito sobre a popularidade do presidente.

IM: O otimismo com os mercados parte, então, mais de uma carona com o restante do mundo do que pelo quadro doméstico?

Tovar: Sim, estamos pegando carona com a melhora lá fora e com a vacina, que deve eliminar o problema da Covid no Brasil nos próximos meses. Mas não estou entusiasmado com movimentos visando reforma administrativa, redução de benefícios, do tamanho do Estado, privatização.

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IM: O que deu certo para a estratégia em Bolsa da Truxt neste ano e no que estão confiantes para 2021?

Tovar: Em primeiro lugar, estávamos pouco animados no começo do ano, com menos risco no mercado, e fomos ágeis na montagem das posições, com uma carteira que andou muito bem quando foram anunciadas as medidas dos bancos centrais para conter a crise. Nosso foco esteve em vendas pela internet, financial deepening [expressão que se refere ao aprofundamento dos mercados financeiros e de capitais], minério de ferro.

Temos Vale, XP, Stone, Mercado Livre, BTG, B3, Natura, Magazine Luiza, Omega Energia, Petz na carteira. E continuamos animados com essas empresas, independentemente da questão fiscal.

IM: A gestora fez alguma grande mudança no portfólio para começar o ano?

Tovar: Não. Continuamos gostando da carteira, diminuímos os hedges de Bolsa e a posição em ouro. A carteira está mais “solta” no long bias, e retiramos o hedge de câmbio por conta da eleição do Biden. Não chegamos a estar vendidos em dólar, mas saímos da posição comprada e vamos ver como o Brasil começa depois da eleição da Câmara.

IM: O que vocês evitariam ter hoje na carteira?

Tovar: Não temos coragem de ficar tomados em juros [posição que se beneficia da alta dos prêmios] mesmo com as taxas altas, porque há um risco de a situação perder o controle. E também não temos coragem de vender dólar, por mais que acreditemos que ele esteja fora do lugar se houver uma melhora do fiscal. O risco fiscal está muito refletido no preço do dólar e na inclinação do juro.

IM: Temos visto gestores e estrategistas apontarem uma rotação das carteiras para mercados emergentes, com destaque para asiáticos. Como a Truxt está posicionada no exterior, em especial na Ásia?

Tovar: Nossa grande aposta em China se dá via Vale. A economia está indo muito bem, olhamos com atenção para o crédito no país. E continuamos a olhar para ações de tecnologia no exterior, temos algumas na carteira, em busca também do novo Magalu ou do novo Mercado Livre.

IM: Qual a principal recomendação para o investidor em 2021?

Tovar: A grande lição foi o investidor local ter passado com louvor este ano. Apesar de ter tomado pancada, aguentou firme e foi recompensado pela recuperação dos mercados. Mas é preciso tomar muito cuidado com a literatura. Há muito material sendo oferecido, prometendo coisas mágicas, com propagandas enganosas. É importante estudar bem o mercado ou conhecer no que o seu gestor vai alocar. E depois de fazer o investimento, planeje-se para deixar o dinheiro aplicado por um longo período.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.