O estouro da Bolha PontoCom que quebrou mais de 500 empresas e é uma assombração até hoje

A novidade da internet e abundância de dinheiro para financiamento fez chover novos negócios, que não duraram muito tempo; ouça histórias de bastidores

Anderson Figo

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SÃO PAULO — No dia 10 de março de 2000, o Nasdaq Composite, índice que é termômetro das empresas de tecnologia nos Estados Unidos, chegou aos 5.132 pontos, sua máxima histórica até então. Mas, de repente, tudo mudou.

As empresas do índice perderam 75% do valor até o final do mesmo ano, gerando prejuízos enormes para os investidores. O episódio entrou para a história como o “estouro da Bolha PontoCom”, quando mais de 500 empresas que prestavam serviços na recém-popularizada internet quebraram.

O estouro foi precedido por um longo período de “exuberância irracional”, nas palavras do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan e do professor Robert Shiller, um dos maiores especialistas norte-americanos em bolhas.

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Da margem de 5.000 pontos do pregão de 10 de março de 2000, o Nasdaq perdeu mais de US$ 5 trilhões em valor de mercado e chegou em 1.200 pontos em outubro de 2002.

Naquele 10 de março de 2000, o Ibovespa caiu 1,98%, para 18.280 pontos. Depois de ter obtido alta acumulada de 110% em 1999, o Ibovespa registrou perda de 18,7% em 2000, segundo dados ajustados pelo IGP-DI.

O estouro da Bolha PontoCom é o tema do décimo quarto episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyAmazon MusicGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

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“Até a metade da década de 1990, a internet era basicamente uma rede acadêmica que era acessada por terminal. Você não tinha uma interface gráfica que facilitava com que pessoas que não estão acostumadas com terminal usassem. Em 1993, um grupo de pesquisadores da University of Illinois divulgou o primeiro navegador que apostava nessa interface gráfica, que mostrava imagens e vídeos”, explicou o jornalista Guilherme Felitti, apresentador do podcast Tecnocracia e fundador da empresa de dados Novelo Data.

“Era um software chamado Mosaic, que até hoje é o pioneiro nessa questão de navegadores gráficos. A ideia foi jogada para o mercado e uns anos depois um dos estudantes envolvidos no projeto, um sujeito chamado Marc Andreessen, lançou o Netscape Navigator. Foi o primeiro navegador comercial com apelo popular. O Netscape atrai um público não acostumado à internet e começa a corrida para você criar negócios que oferecessem os serviços e os produtos que essas pessoas que estavam entrando na internet iam consumir”, completou.

Roberto Lee, cofundador e CEO da corretora Avenue Securities, trabalhava na época na corretora Patagon.com, que foi uma das vítimas do estouro da bolha, e fechou as portas. “Foi uma época muito doida, mas uma delícia. Eu carrego comigo muito aprendizado. (…) Era muito comum as empresas usarem o PontoCom em seu nome naquela época para parecer muito digital. (…) Tinha escritório em São Paulo, Buenos Aires, Caracas, Bogotá, Miami, Madri, Berlim. A ideia aera oferecer acesso ao investimento em Bolsa. Nasceu ali o home broker no Brasil”, disse.

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“A gente estava vivendo the time of our lives [expressão em inglês para se referir ao melhor momento da vida, em tradução livre]. Era um momento mágico porque era muito dinheiro. Essa empresa que eu trabalhava tinha uma visão de mercado de mudança de mundo. Uma visão de que aquilo não parava de crescer, um financiamento tremendo, mas um conhecimento de mercado financeiro especificamente muito baixo. (…) Do dia para a noite, a gente chegou no escritório e tinha lá o financiador, que era o Santander na época, dizendo que a operação ia acabar. Arrumem suas malas, o sonho acabou”, completou.

Luiz Guilherme Dias, fundador e CEO da empresa de conteúdo financeiro Sabe Invest, conta que mesmo se os analistas de mercado tivessem apontado os riscos daquela “exuberância irracional” em relação às ações das empresas de tecnologia na época, o mercado não teria dado ouvidos. Ele não acredita que houve complacência por parte dos analistas em relação ao otimismo generalizado dos empreenderes das empresas PontoCom.

“Lá atrás, em 2000, o que eu percebi foi a geração de um efeito riqueza quase que incontrolável. Uma tremenda especulação em ações e uma forte liquidez com oferta de capital de risco. Então, era tranquilo, você tendo um projeto, um plano de negócios PontoCom, era muito provável que você tivesse acesso ao dinheiro. A consequência disso foi que muitos investidores ignoraram as análises e métricas tradicionais. Num cenário como esse, o papel do analista se torna secundário porque o investidor se sente seguro para tomar uma direção independentemente do que um analista esteja dizendo”, afirmou.

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Dias, Lee e Felitti contam as histórias por trás do estouro da Bolha PontoCom e bastidores de quem estava lá operando no mercado quando tudo aconteceu. Ouça o episódio acima.

Em 2020, o Nasdaq Composite já superou os 12.500 pontos, renovando sua maior pontuação histórica. Boa parte desse desempenho foi por causa de ações do grupo conhecido como FAANG: Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google.

O valor de mercado dessas empresas juntas era de cerca de US$ 6 trilhões em dezembro de 2020 — mais da metade do valor de mercado total da Nasdaq, considerando todas as empresas listadas na Bolsa de tecnologia americana.

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Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estão na série.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.