Naji Nahas: o especulador que quebrou a bolsa do Rio

Ex-diretor da antiga BM&F Bovespa e ex-agente autônomo da época contam a saga do empresário libanês criado no Egito que virou folclore no mercado brasileiro

Anderson Figo

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SÃO PAULO — No dia 9 de junho de 1989, a bolsa de valores de São Paulo, a Bovespa (hoje B3), despencou 5,6%. Já a bolsa de valores do Rio de Janeiro, a BVRJ, caiu 4,5% naquele dia. As quedas aconteceram depois que estouraram na praça cheques sem fundo do empresário Naji Nahas no valor de 39 milhões de cruzados novos.

Os cheques sem fundo começaram a aparecer depois que bancos e corretoras se recusaram a cobrir operações do investidor que ficaram conhecidas como “D +zero”, usadas para manipular preços de ações. Três dias depois, a CVM, a Comissão de Valores Mobiliários, que regula e fiscaliza o mercado, determinou um recesso de 24 horas nas bolsas de valores.

No mesmo dia, Nahas e os principais envolvidos foram impedidos pela Justiça de deixar o país. O golpe no mercado foi tão forte que a bolsa do Rio, para onde Nahas foi obrigado a se transferir depois de atritos com a diretoria da bolsa de São Paulo, nunca mais se recuperou, e fechou as portas no ano 2000.

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O caso Naji Nahas é o tema do décimo terceiro episódio de Os Pregões que Fizeram História. É possível seguir e escutar o programa pelo SpotifyAmazon MusicGoogle PodcastsSpreakerDeezerApple Podcats (iTunes)Castbox e Podchaser. Se preferir, faça o download do episódio clicando aqui.

No escândalo que iniciou o declínio da bolsa do Rio, Nahas ganhou muito dinheiro. Um relatório da bolsa de São Paulo, entregue no dia 6 de julho de 1989 à CVM, estima que ele tenha lucrado 28 milhões de cruzados novos no dia 9 de junho, quando estourou a crise.

Em 6 e 12 de julho, a Polícia Federal indiciou Nahas por crime de “colarinho branco” e estelionato. Pouco depois, o relatório final da CVM o acusou de usar “laranjas” para manipular preços de ações. A CVM multou Nahas em R$ 10 milhões.

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“A ideia basicamente, e o Naji fez isso também com a prata nos Estados Unidos, era tentar puxar os preços das ações de forma com que ele pudesse ganhar através de instrumentos e derivativos, no caso da época era opção. Ele comprava opção de compra e ao mesmo tempo comprava as ações de forma a fazer com que os preços subissem”, disse o jornalista Alcides Ferreira, ex-diretor de comunicação da antiga BM&F Bovespa (hoje B3), coautor do livro “BM&F: a história do mercado futuro no Brasil”, e atualmente sócio da agência Fato Relevante.

“Tinham clientes que não adiantava alertar porque eles eram fanáticos adoradores do Naji Nahas. Então eles arcaram com o custo desse fanatismo”, afirmou Arthur Vieira de Moraes Neto, ex-agente autônomo da Socopa. “Consta que ele pediu para a secretária dele convocar todos os auxiliares dele para estarem na sala dele às 9h da manhã que ele ia chegar em seguida. E ele deixou a agenda aberta em cima da mesa dele. Aí ele não chegava. Foram na agenda e viram escrito: ‘comprar ações’. Todos os auxiliarem ligavam para os seus amigos e falavam: ‘o homem vai comprar hoje’. Aí todo mundo comprava. Depois descobriram que ele estava em outra corretora mandando vender”, completou.

As histórias desse personagem emblemático do mercado brasileiro e os bastidores do gatilho da quebra da bolsa do Rio são narradas por Ferreira e Vieira de Moraes Neto no episódio da semana de Os Pregões que Fizeram História. Ouça acima.

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Sobre o podcast

Os Pregões que Fizeram História é o podcast do InfoMoney que conta bastidores de dias emblemáticos para os mercados, seja por uma queda drástica ou por uma disparada, através da voz de quem estava lá — ou de quem entende muito do assunto. Ele vai ao ar toda semana, sempre às sextas-feiras.

O Plano Collor e o congelamento da poupança em 1990, a mudança para câmbio flutuante e a maxidesvalorização do real em 1999, o investment grade do Brasil em 2008, a crise do subprime naquele mesmo ano que colapsou os mercados do mundo inteiro, o Joesley Day e a delação dos irmãos Batista em 2017. Esses e muitos outros momentos marcantes para a Bolsa brasileira estarão na série.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.