Políticos americanos responsabilizam Boeing e órgão federal dos EUA por acidentes do 737 MAX

Acidentes envolvendo a aeronave mataram 346 pessoas na Etiópia e Indonésia

Equipe InfoMoney

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Um relatório divulgado pelo Comitê de Transporte e Infraestrutura do congresso americano culpa a Boeing e a FAA (órgão federal de regulação aérea dos EUA) pelos acidentes envolvendo os aviões do modelo 737 Max, que mataram 346 pessoas na Etiópia e Indonésia.

O documento, elaborado por políticos democratas, aponta que houve numerosas falhas no projeto do modelo 737 MAX e erros de gerenciamento e regulamentação durante o processo de certificação da aeronave.

O texto diz que as preocupações com a aeronave não foram consideradas com a seriedade necessária para estimular mudanças no projeto e que a Boeing acelerou processos para terminar o avião para competir com o seu rival Airbus, priorizando os lucros em detrimento da segurança.

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Os políticos ainda apontam que a FAA falhou em proteger o público por causa da delegação “excessiva” de trabalho de certificação à Boeing.

Em resposta ao relatório, a agência americana disse que está desenvolvendo várias iniciativas focadas “no avanço da segurança geral da aviação, melhorando nossa organização, nossos processos e nossa cultura”. E completou: “A FAA está comprometida com o avanço contínuo da segurança da aviação e espera trabalhar com o Comitê para implementar as melhorias identificadas em seu relatório”.

O relatório, em andamento há cerca de 18 meses, foi construído com base em documentos da Boeing, FAA e outras companhias aéreas, além de entrevistas realizadas pelo comitê. Ele é divulgado em um momento em que os órgãos reguladores estão na reta final dos trabalhos para certificar novamente os aviões da Boeing. O 737 Max está proibido de circular em todo o mundo desde março de 2019.

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“Os acidentes do MAX não foram o resultado de uma única falha, um erro técnico ou um evento mal gerido. Foram uma série de suposições técnicas errôneas por parte dos engenheiros da Boeing, uma falta de transparência por parte da administração da Boeing e uma supervisão insuficiente da FAA”, destaca o relatório.

No centro dos acidentes estava um sistema automatizado conhecido como MCAS, contra o qual os pilotos de ambos os voos lutaram para anular. Ele foi ativado após o recebimento de dados imprecisos do sensor.

O MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra) é suspeito de ser a origem dos dois acidentes. Os pilotos não foram informados sobre o MCAS até depois do primeiro acidente e as instruções sobre o sistema foram removidas do manual da aeronave.

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Além da fragilidade do sistema, a falta de treinamento de pilotos em situações que o dispositivo era acionado também é apontada como outro causador das quedas. No ano passado, o National Transportation Safety Board descobriu que a Boeing superestimou a capacidade dos pilotos de lidar com os alertas durante as viagens.

A Boeing fez mudanças no sistema MCAS para torná-lo menos poderoso, dar aos pilotos maior controle e fornecer mais dados antes de ele ser ativado. Essa é uma das mudanças que os reguladores revisaram como parte do processo de renovação da certificação da aeronave.

“Como empresa, aprendemos muitas lições difíceis com os acidentes do voo Lion Air 610 e do voo 302 da Etiópia e com os erros que cometemos. Fizemos mudanças fundamentais em nossa empresa e continuamos a buscar maneiras de melhorar. Mudar é sempre difícil e requer compromisso diário, mas nós, como empresa, nos dedicamos a fazer o trabalho ”, disse a Boeing em um comunicado enviado à CNBC.

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Os acidentes empurraram a Boeing para sua maior crise em mais de 100 anos de empresa, já que sua aeronave mais vendida foi proibida de ser entregue aos clientes e os custos de operações aumentaram. No início do ano, David Calhoun substituiu Dennis Muilenburg no cargo de CEO com a expectativa de retomar a confiança com os órgãos reguladores e melhorar a imagem, governança e as finanças da empresa.

A pandemia de coronavírus intensificou ainda mais a crise na empresa. Segundo dados divulgados nesta terça-feira pela Organização Mundial do Turismo (OMT), o número de turistas estrangeiros caiu 65% entre janeiro e junho deste ano, com 440 milhões de viajantes a menos em comparação com o mesmo período de 2019.

Com a diminuição drástica nas viagens em todo mundo, as companhias aéreas passaram a cancelar a compra de novas aeronaves.

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Os problemas da fabricante não terminam com o 737 Max. Recentemente, a Boeing descobriu falhas em alguns modelos 787 Dreamliners, solicitando inspeções que podem aumentar o tempo de entregas da aeronave.

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