O que tem na carteira do fundo que está ganhando 25% em 2020?

Conversamos com João Landau, diretor e gestor de investimentos da Vista Capital

Matheus Soares

Publicidade

No Coffee & Stocks dessa terça-feira (12), conversamos com João Landau, diretor e gestor de investimentos da Vista Capital. O fundo carro-chefe da casa, o multimercado Vista Multiestratégia, rende 25% em 2020 e 52% nos últimos 12 meses. A performance brutal veio mesmo com uma posição grande comprada em petróleo/Petrobras, mostrando que as outras estratégias do fundo também deram certo.

Em janeiro, o fundo decidiu zerar bolsa brasileira e ficaram short no rand sul africano e na lira turca. Em abril, aumentaram a posição long em ouro, reduziram posição long em ações de tecnologia na Nasdaq, seguem short em real e lira turca. Na Bovespa estão long em exportadoras/commodities e short em ativos domésticos.

Conversamos com João para entender como o fundo tem conseguido navegar tão bem a crise e quais os principais investimentos da carteira hoje.

Continua depois da publicidade

Veja abaixo como foi o bate-papo:

Qual é o racional de investimento da Vista?

A performance em 2020 é reflexo de duas coisas: estávamos otimistas com Brasil em 2019, jogamos a toalha quando vimos os valuations caros ao final do ano e achávamos que as reformas de governo ficariam só no primeiro ano. Em janeiro nós ficamos muito preocupados com o coronavírus e aproveitamos para aumentar as proteções que já gostávamos: zeramos Brasil e ficamos short em moedas de emergentes como o rand, a lira turca e o real. Apesar das posições em petróleo e Petrobras, nos defendemos bem.

Continua depois da publicidade

Gostamos muito hoje de petróleo, ouro e venda de moedas emergentes por culpa dos juros baixos e pouco crescimento.

Na última carta mensal do fundo vocês falaram sobre o kit anti-Brasil que vocês montam em momentos de crise. Como está esse kit?

Tradicionalmente, os gestores faziam o kit Brasil quando estavam otimistas. Bolsa andava, real valorizava e juros fechavam (caíam), porque câmbio e bolsa refletiam o risco-Brasil. Mas hoje nossa relação de cambio mudou, é possível ver a bolsa andando e o dólar subindo. Perdemos essa correlação de terceiro mundo. Mudou o arcabouço. O dólar andar não significa que a bolsa vai cair.

Continua depois da publicidade

Por que o otimismo com petróleo?

Acreditamos que o petróleo de xisto dos EUA, que é o maior produtor do mundo, não para em pé. O investimento é tão elevado que é quase a operação do dia-a-dia. Já não acreditava que ficava em pé a US$ 60 dólares e a US$ 25 tenho convicção de que a operação de xisto não é lucrativa. Essa oferta vai cair.

Você compra petróleo quando o preço está abaixo do custo marginal. Por dois motivos: o primeiro é porque a oferta tende a cair e o segundo porque teremos uma recuperação de preço quando a demanda voltar. Petróleo hoje é um case de queda de oferta. Para completar, não vemos muito investimentos acontecendo no setor.

Continua depois da publicidade

E não há melhor maneira de ficar exposto ao petróleo do que em Petrobras, que para nós é a Ferrari do setor.

Na nossa conversa pré-live, você falou que a Vista não tem meta de vol (volatilidade), mas, sim, meta de estresse. Como é isso?

A volatilidade é um sub-produto. Tem muito fundo que olha a volatilidade como alvo. 99% do nosso dinheiro está no fundo. Quando você compra uma ação, você não está preocupado com a volatilidade, você quer ganhar dinheiro. Sua preocupação é a empresa quebrar e você perder todo o capital.

Continua depois da publicidade

Muitos fundos querem ganhar dinheiro com pouca volatilidade. A volatilidade nós nem olhamos. Estamos preocupados com a perda permanente de capital, que é aquele dinheiro que não volta mais. A volatilidade é consequência do mercado, não é o objetivo do fundo.

Qual a visão do minério de ferro e China? Vale está no portfólio?

Sim, a Vale está no portfólio. As empresas mais competitivas do Brasil são as exportadoras. E por quê? Porque elas competem com todas as exportadoras do mundo. Não só competiam com elas, como competiam com dólar a R$ 1,50. Só que agora o dólar está a R$ 6. Do dia pra noite recebeu um presente que é o câmbio nesse patamar. É como um jogo de futebol, a R$ 6 é como se você jogasse com 15 jogadores e o outro time com os mesmos 11. Gostamos muito de exportadoras, são grandes empresas e com um fator competitivo muito grande.

A Vale é uma delas, empresa sem dívida e com muita vantagem competitiva. Não temos a mesma convicção que temos com petróleo, em minério, porque a China é uma caixa preta. Mas o preço do minério implícito no preço da Vale é muito menor do que o atual preço dele. Se o minério cair 20% a Vale ainda está protegida.

Além disso, o dólar é nossa variável de ajuste, nossa conta corrente da zerando. Se o minério cair, precisaremos de um câmbio mais desvalorizado.

O que você está achando de política?

O Brasil é um case interessante. Já ajustamos boa parte dos preços relativos. Temos um arcabouço melhor do que a maioria dos emergentes. Não temos dívida em dólar, grandes reformas já foram aprovadas e conta corrente já está zerando. Por outro lado, nós adoramos uma crise política. Eu me incomodo. Ficamos um país mais alavancado, com dívida/PIB maior.

O consenso de mercado é que Bolsonaro vai ser um Temer 2. Só acho que Bolsonaro não vai aceitar o que Temer aceitou. O Temer quis deixar um legado e não se importava em ser reeleito. Eu não acho que o Bolsonaro fará isso. Se ano que vem ele enxerga um país que não cresce, eu não acho que ele vai dobrar a aposta nas reformas.

Se ele fizer reforma de longo prazo, vai precisar de capital externo. O problema disso é que demora. Acho que corremos o risco do populismo voltar caso a economia não melhore no ano que vem. Caminho perigoso que já vimos que pode dar errado.

Temer quis ser popular em reformas, mas impopular com o povo. Bolsonaro pode preferir ser popular com o povo. Não sei se isso vai acontecer, só acho que existe um risco.

Por que vocês estão otimistas com o ouro? (É uma das maiores posições do fundo)

Todos os rios correm pro mar. Tudo indica aumento de oferta de moeda. Primeiro os BCs aumentaram fortemente a injeção de liquidez nos mercados. Hoje, o problema da inflação não é mais a inflação, mas sim o combate à desigualdade. Então os BCs tomaram o risco da inflação para distribuir dinheiro dos mais ricos para os mais pobres.

É um calote indireto, com mais dinheiro no mercado, a moeda se desvaloriza e todos perdem o poder de compra. É igual quando você vai viajar pra fora e perde o poder de compra. Em momentos como esse, de risco de inflação e perda do poder de compra, você busca ativos reais.

O grande ativo real que enxergamos no mercado é o ouro. Ele é finito, não dá pra aumentar sua produção enormemente. É um ativo que não perde o seu poder de compra. É uma proteção.

Para saber mais detalhes, gravamos a conversa que foi feita pelo Instagram do Stock Pickers e já subimos em nosso canal do YouTube. Não deixe de conferir.

Apresentado por Thiago Salomão, analista da Rico Investimentos, o Stock Pickers vai ao ar toda quinta-feira às 17h. Você pode seguir e escutar pelo Spotify, Spreaker, Deezer, iTunes e Google Podcasts.

Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+