Como o Bitcoin pode ser favorecido pela injeção de liquidez trilionária promovida pelos bancos centrais

Criado exatamente para combater a intervenção dos bancos centrais, Bitcoin pode estar a caminho de um bom momento

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – Apesar de acumular uma queda de 25% nos últimos 30 dias, o Bitcoin (BTC) pode estar se aproximando de um momento bastante positivo, e tudo isso graças a ajuda da massiva injeção de capital dos bancos centrais espalhados pelo mundo.

Com diversos pacotes para dar liquidez aos mercados e com grandes cortes de juros, os BCs podem estar acalmando os investidores agora, mas criando um problema para o futuro, avaliam analistas consultados pelo InfoMoney.

E mesmo que a criptomoeda tenha entrado na onda vendedora do mercado nas últimas semanas, o reflexo destas ações das autoridades deve começar a vir aos poucos, conforme os investidores se acalmam e procuram oportunidades. E neste cenário, o Bitcoin, que foi criado como uma resposta à intervenção feita pelos BCs em 2008, pode se valorizar.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“A tese de investimento em Bitcoin é baseada no conceito de escassez digital programada, o que foi inserido no protocolo do ativo como a regra de emissão de novas moedas”, explica Safiri Félix, diretor da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto). “Isso é a antítese das políticas de afrouxamento monetário que começaram pós crise de 2008 e agora se intensificaram”.

Só o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) tem feito diversas atuações no mercado desde que a atual crise começou. Entre algumas medidas estão operações de recompras de títulos (repo) que já passou de US$ 2 trilhões, além de um programa de estímulos (Quantitative Easing) de US$ 700 bilhões.

Em geral, o BC americano se comprometeu a compras ilimitadas de ativos para ajudar os mercados a combaterem a crise do novo coronavírus. Isso sem contar no pacote do governo que está prestes a ser aprovado no Congresso, de US$ 2 trilhões, o maior já feito no país.

Continua depois da publicidade

E o mundo todo tem seguido nesta linha. O Banco Central Europeu (BCE) já anunciou um pacote de 750 bilhões de euros, enquanto os governos de França, Alemanha, Japão e outros também anunciaram medidas de injeção de dinheiro na economia. Na última quinta, os países do G20 disseram que estão injetando mais de US$ 5 trilhões na economia global.

“Me parece que os Bancos Centrais estão caindo em descrédito em suas capacidades de combater crises”, afirma Thiago Cesar, CEO da Transfero Swiss AG.

Segundo ele, isso pode ser comprovado pela recente recuperação no preço do Bitcoin e também na busca pelo criptoativo, em especial na Europa. Dados do Google Trends mostram que desde 8 de março houve uma disparada na procura pelo termo “bitcoin coronavírus”, liderada por países como Áustria, Suíça, Irlanda e Espanha.

Continua depois da publicidade

“Principalmente na Europa e nos EUA, há uma descrença muito grande com a capacidade dos BCs de agir. Para toda crise, parece que a única solução colocada na mesa é a injeção de mais capital. Só que as recuperações que acontecem depois disso são marginais. Acaba que não surte o efeito desejado. A economia, os ativos, não reagem de forma positiva, e as pessoas passam a temer por uma crise sistêmica”, diz o executivo.

Safiri complementa, lembrando ainda que neste cenário de “teste do limite” do poder dos bancos centrais é importante buscar diversificação em ativos com menor correlação e que sirvam como proteção nesse momento de injeção massiva de liquidez.

Após um pânico inicial dos investidores, que levaram praticamente todos os ativos do mundo a caírem, incluindo ouro e Bitcoin, conforme os ânimos se acalmam e as pessoas buscam opções para retornar ao mercado, o metal precioso e o criptoativo têm experimentado recuperações.

No ano, o Bitcoin acumula queda de 7,6%, enquanto o Ibovespa e Dow Jones têm quedas de 36% e 24%, respectivamente. Já o ouro, após passar por duas fortes altas nesta semana, agora tem ganhos acumulados de 7% em 2020.

Publicidade

Para João Marco Braga da Cunha, Gestor de Portfólios da Hashdex, seguindo o que se aprende nas aulas de economia, emissão de moeda pressiona a inflação e, diferente do que aconteceu em 2008, desta vez pode ser diferente porque “há um grande choque de oferta e um aumento de gastos públicos que, por si só, já seriam inflacionários”.

“Caso haja sinais de inflação de fato, é possível que muitos investidores busquem refúgio no Bitcoin”, diz ele, lembrando ainda que em maio ocorre o chamado halving, quando a recompensa dos mineradores cai pela metade, reduzindo a oferta e pressionando o preço para cima. “Portanto, essa possibilidade existe na nossa visão”.

Por outro lado, ele conclui com uma visão mais cautelosa, lembrando que existem muitos “ses” e “poréns” no atual cenário. Por conta disso, a tese de investimento segue focada nos fundamentos gerais do Bitcoin, de olho no longo prazo, sendo este impacto da atuação dos BCs como um motivo “extra” para a valorização da moeda digital.

Continua depois da publicidade

Domine o ativo que mais valorizou na última década: baixe o ebook Bitcoin – A Moeda na Era Digital – é de graça!

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.