Bitcoin cai para menos de US$ 8 mil pela primeira vez em um mês

Especialistas apontam para decepção com postura da China e movimento técnico dos futuros da moeda

Ricardo Bomfim

SÃO PAULO – O Bitcoin (BTC) cai 5,5% nesta quinta-feira (21) e pela primeira vez desde 24 de outubro opera abaixo dos US$ 8 mil. De acordo com especialistas, a China, a liquidez global e a execução de contratos futuros da moeda foram os grandes responsáveis pela depreciação da moeda digital.

Segundo Fabrício Tota, diretor de OTC do Mercado Bitcoin, a queda de hoje está associada a uma frustração com a postura da China em relação a Blockchain. No final de outubro, o banco central chinês cobrou que os bancos comerciais do país acelerassem as suas aplicações da tecnologia.

Na mesma época, o presidente chinês, Xi Jinping, cobrou avanços na pesquisa e investimento de Blockchain. “O Blockchain terá um papel importante na próxima rodada de inovação tecnológica e transformação industrial”, teria dito o líder da maior economia da Ásia, de acordo com a agência de notícias estatal Xinhua.

No entanto, na opinião de Tota, pouco foi feito de concreto após essas sinalizações, o que frustra os investidores. “Hoje, algumas exchanges estão recebendo visitas não muito amigáveis de oficiais da China. No mundo cripto já estamos acostumados com essa volatilidade, e sem a confirmação de que o país realmente se tornará um polo nessa tecnologia, a moeda devolve com a mesma facilidade o rali que teve ao longo do mês com a notícia inicial”, explica.

Já João Canhada, presidente da Foxbit, diz que a decepção com a Libra – criptomoeda criada pelo Facebook – e com a falta de uma postura mais assertiva China fazem com que os investidores decidam se manter líquidos em dólar, comprando tanto a moeda quanto ações e títulos de empresas dos Estados Unidos.

“O incentivo para o dólar está muito alto, com o Federal Reserve injetando liquidez no mercado e mantendo a bolha dos preços das ações, aumentando o interesse em ativos atrelados à divisa dos EUA”, argumenta Canhada.

Comprados x vendidos

Rudá Pellini, fundador da fintech Wise & Trust nos EUA, avalia que desde setembro há grandes desvalorizações do Bitcoin que coincidem com os dias 21-22 de cada mês, indicando que essas baixas possam ser causadas por investidores que derrubam os preços por meio de vendas em bloco no mercado à vista para conseguirem exercer os contratos futuros.

“Poderia ser uma pressão dos vendidos para exercer os contratos. Em outubro, muitos tiveram que recomprar moedas, gerando o movimento inverso [o famoso short squeeze], por conta da alta de 45% que se seguiu à desvalorização”, afirma.

No gráfico abaixo, as setas sinalizam os dias 21 e 22 dos últimos três meses.

(Crédito: Reprodução)

Fora essa volatilidade técnica, Pellini não acredita que haja algum motivo nos fundamentos que leve à desvalorização do Bitcoin.

Ontem, o site da criptomoeda Monero foi hackeado com um vírus desenhado para roubar moedas das carteiras digitais dos usuários. Tota e Pellini, contudo, entendem que o caso é algo que afeta a Monero especificamente e não vêem um efeito contágio por possíveis temores em torno da segurança de todas as moedas digitais.

Para Rudá Pellini, hoje paradoxalmente foi um dia de boas notícias para o Bitcoin, como a aprovação que a Fidelity Digital Assets recebeu do Departamento de Serviços Financeiros (DFS, na sigla em inglês) para iniciar atividades empresariais de criptoativos em Nova York.

Além disso, a Binance anunciou a compra da WazirX, a maior bolsa de Bitcoin da Índia; e a Cannan, empresa chinesa especializada no fornecimento de hardware para mineração de Bitcoins, pediu US$ 400 milhões para abrir capital na Nasdaq.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.