Facebook deu “acesso especial” a dados de usuários ao Tinder e outros apps de namoro

Documentos divulgados fazem parte de um processo em andamento entre o Facebook e o Six4Three

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – O CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, flerta com a ideia de entrar no negócio de aplicativos de namoro desde 2014 – mas, antes da criação do chamado Dating, deu ao Tinder e aplicativos similares acesso a dados de seus usuários, segundo documentos vazados e divulgados na última quarta-feira (6).

O Facebook tomou a decisão de impedir que aplicativos de terceiros acessassem dados de usuários da plataforma – como listas de amigos e páginas curtidas – em 2014, e deu a maioria deles até maio de 2015 para cumprir a nova política. Alguns aplicativos, no entanto, receberam privilégios, e foram enquadrados em uma espécie de “lista de permissões” para continuar acessando os dados. O Tinder era um deles.

Os documentos, que são uma sequência de troca de e-mails, fazem parte de um processo em andamento entre o Facebook e o Six4Three, um aplicativo extinto que usou os dados do Facebook para encontrar fotos de mulheres de biquíni.

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De acordo com um dos trechos, o Tinder recebeu permissões especiais sob a condição de que usasse uma Interface de Programação de Aplicativos (API) do Facebook para ter o “moments” no app de namoro – similar ao storie do Instagram no próprio Tinder.

A API é o conjunto de padrões de programação para acesso a um aplicativo de software ou plataforma criada quando uma empresa tem a intenção de que outros criadores de software desenvolvam produtos associados ao seu serviço. É por meio desse canal que os apps de namoro tem acesso a dados que o Facebook possui.

Outros aplicativos de namoro, como Bumble, Hinge e Coffee Meets Bagel, também estavam na lista de permissões. Uma das razões apresentada foi “porque eles estão ganhando destaque”, de acordo com os documentos vazados.

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Entre tapas e beijos

Em janeiro de 2014, no entanto, o CEO havia afirmado que o Facebook era um aplicativo de namoro melhor do que o próprio Tinder ou o Match.com.

Ele disse que havia dois tipos de apps: um projetado para a tarefa de juntar as pessoas, como o Tinder, e aplicativos que podem ser usados ​​para namoro e desenvolver relacionamentos, mas que não projetados para essa tarefa, como o Facebook. “Na verdade, acho que o segundo é muito mais valioso e útil”, disse Zuckerberg.

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“Historicamente, é por isso que o Facebook tem sido tão bom para relacionamentos. Não é explicitamente um serviço de namoro, por isso não há estigma em fazer parte dele. Mas se o usuário já passa seu tempo na plataforma, pode usar parte dele para namoro. Aposto que mais relacionamentos começam no Facebook do que todos os outros serviços de namoro combinados”, complementou o CEO.

No mesmo mês, cinco anos atrás, Zuckerberg se recusou a encontrar o co-fundador do Tinder. “Eu não acho que ele é tão relevante. Ele provavelmente só quer ter certeza de que não desativamos o acesso à nossa API, e como não podemos falar sobre isso, a conversa será incômoda “, disse no e-mail.

Os documentos colocaram o holofote novamente sobre o Facebook e ao fato de que a empresa já acumulava e distribuía dados de usuários – antes do escândalo da Cambridge Analytica.

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No ano passado, o Tinder quase perdeu acesso às informações de usuários do Facebook que o ajudaram a crescer rapidamente em seus primeiros anos, quando os novos membros usavam seus logins da rede social para acessar o aplicativo.

Quando o Facebook restringiu ainda mais o tipo de informação após o escândalo da Cambridge Analytica em março de 2018, o aplicativo de Tinder sentiu o impacto no número de novos usuários.

Embora não seja um requisito do Tinder usar uma rede social para fazer o cadastro, a maioria das pessoas o fazem por meio do Facebook porque facilita usar as fotos da plataforma de Zuckerberg e fica mais fácil de saber se o potencial “match” tem amigos em comum.

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O Facebook lançou seu próprio recurso de namoro em setembro deste ano, cinco anos depois que Zuckerberg notou a superioridade do Facebook no segmento – o Dating.

As ações do Match Group, proprietário do Tinder e do Match.com, despencaram quando Zuckerberg finalmente lançou o Dating em setembro deste ano.

O InfoMoney entrou em contato com o Facebook e o Tinder, mas até o momento da publicação desta matérias as empresas não haviam enviado um posicionamento.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.