XP vê momento decisivo para setor de saneamento e recomenda compra de units da Sanepar

Equipe da XP avaliou as três empresas listadas na Bolsa e traçou um panorama geral do setor

Rodrigo Tolotti

(Divulgação)

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SÃO PAULO – A XP Investimentos iniciou a cobertura para o setor de Saneamento Básico na bolsa de valores. Das três empresas listadas, a equipe de analistas colocou recomendação de compra para Sanepar (SAPR11) e neutra para Sabesp (SBSP3) e Copasa (CSMG3).

Além de tratar de cada ação específica, a XP avaliou também o setor como um todo (clique aqui para conferir o relatório completo), apontando que o Brasil “é um país muito atrasado em métricas de saneamento”, sendo que apenas 83,5% da população tem acesso à água tratada, 52,4% à coleta de esgoto e 46% ao tratamento de esgoto.

“Diante deste cenário, não há outro caminho para melhorar tais indicadores que não seja o aumento dos investimentos. E, nas nossas estimativas, serão necessários R$ 400 bilhões para atingir as metas de universalização de água e esgoto em 2033”, aponta o analista Gabriel Francisco.

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De acordo com a XP, o setor, historicamente, sofre muito com a insegurança jurídica, discursos intervencionistas e regulação inadequada, e que para isso mudar será necessário atrair investimentos, principalmente vindos do setor privado. Para isso, o novo marco regulatório que está em tramitação no Congresso pode ser bastante importante.

Das propostas, o analista destaca medidas como: Mecanismos para garantir a concorrência entre companhias privadas e estatais nas mesmas condições; preservação dos contratos de programa com municípios em caso de privatização; e concessão de municípios em blocos para que cidades mais e menos lucrativas atraiam investimentos e desfrutem da melhoria de indicadores de saneamento com igualdade.

Porém, mesmo se o marco regulatório for aprovado, a XP diz que “há um longo caminho a ser trilhado até que se inicie um novo ciclo de investimentos em saneamento básico no Brasil”, mas que “o momento nunca foi tão favorável para isso acontecer como agora”. Confira a avaliação para cada ação:

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Sanepar

A XP iniciou a cobertura das ações da Sanepar com recomendação de compra e um preço-alvo de R$ 104 para cada unit da empresa, com um potencial de valorização de 28%.

A Sanepar tem um histórico regulatório difícil, destaca o analista, apontando os principais exemplos de problemas pelos quais a companhia passou. Dentre eles: (i) o diferimento em 8 anos do aumento de 25,6% das tarifas na primeira revisão tarifária da companhia, em 2017, e; (ii) o questionamento do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE) sobre o reajuste anual de 12,13% devido a divergências sobre a metodologia de cálculos da agência reguladora Agepar.

“Reconhecemos que o ambiente regulatório que a Sanepar se encontra é de incertezas e justifica que as ações negociem a um desconto para as pares Sabesp e Copasa. Além disso, não enxergamos uma possibilidade da Sanepar ser privatizada. Isso porque há o fato de o governo do Estado nunca ter mencionado o tema até o momento”, avalia.

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No entanto, a XP avalia que as ações apresentam um bom perfil de risco-retorno, tendo como premissa a continuidade do diferimento da primeira revisão tarifária em 8 anos. Além disso, o analista assume a mesma metodologia de reajustes tarifários defendida
pelo TCE do Paraná até a próxima revisão tarifária, o que leva a estimar menores aumentos das contas d’água nos próximos anos.

Mesmo assumindo tais premissas conservadoras, a XP enxerga potenciais de retornos a acionistas. Em um cenário que Sanepar conseguisse antecipar o aumento de tarifas dos próximos 8 anos e o Tribunal de Contas do Estado não tivesse mais divergências sobre a metodologia de cálculo da Agepar, o analista estima uma adição de R$ 6 por unit ao preço alvo, ou um potencial de ganho total de 35%.

“Finalmente, além do bom perfil de risco-retorno das ações, notamos que a Sanepar é uma boa pagadora de dividendos a acionistas. Entre 2020 e 2022, estimamos um dividend yield de 7,0%”, aponta.

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Sabesp

Diante da falta de clareza sobre o futuro da empresa e o “case binário”, a recomendação do analista é “neutra”, com preço-alvo de R$ 60 por ação.

A XP destaca que os papéis da companhia já subiram 58% no ano por conta das conversas de privatização e que segundo o governo de São Paulo, são dois caminhos possíveis: privatização, se o novo marco regulatório do saneamento for aprovado; ou a criação de uma holding que detenha a participação de 50,3% do estado na companhia e posterior venda de 49,9%.

O preço-alvo de R$ 60 foi baseado em uma média de dois cenários para a Sabesp. No primeiro, a companhia valeria R$ 50 por ação caso continuasse estatal, o que leva o analista a assumir uma maior taxa de desconto e a continuidade de elevados custos de pessoal, materiais e serviços (conhecidos como custos gerenciáveis).

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Por outro lado, os papéis poderiam chegar a R$ 70 se a empresa for privatizada. Neste cenário, a XP incorpora uma taxa de desconto menor e a convergência de custos gerenciáveis da Sabesp para patamares de empresas privadas de saneamento.

Em geral, ainda existem muitas incertezas, desde se ela será ou não privatizada até qual seria o modelo no caso de tornar a empresa privada. Em meio a tudo isso, o analista mantém cautela e apontam ainda que se o processo de desestatização não sair, poderia haver uma forte correção das ações.

Copasa

Em meio às dificuldades de um processo de privatização, a recomendação da XP para a Copasa é neutra, com preço-alvo de R$ 72 por ação.

Desde a eleição do governador Romeu Zema, a Copasa – assim como a Cemig – teve forte valorização na Bolsa, que chega a quase 70%, como reflexo do otimismo dos investidores com a possibilidade de privatização da companhia, bandeira defendida pelo atual governo.

“No entanto, em linha com nossa visão sobre Cemig, vemos um caminho complexo para a aprovação de um projeto de lei que permita privatizações em Minas Gerais. O motivo são os desafios na articulação política do governo estadual”, aponta o analista. Isso porque, diferente da Sabesp em São Paulo, eles acreditam que será muito mais difícil aprovar a privatização da companhia de saneamento de Minas Gerais.

Apesar de tantas incertezas, a XP destaca os altos dividendos pagos pela Copasa, o que suporta a recomendação neutra. A política de dividendos da companhia prevê a distribuição de 50% do lucro como proventos, além de distribuições extraordinárias caso certas condições de endividamento sejam cumpridas. Para o analista, a empresa deve cumprir estas condições sem dificuldades, o que implica um potencial dividend yield de 9,2% entre 2020 e 2022.

Assim como ocorre com a Sabesp, o preço-alvo é fruto da média de dois cenários. No primeiro, com a empresa se mantendo estatal, o preço seria de R$ 51 por ação, com os mesmos motivos da companhia paulista. Enquanto isso, os papéis poderiam chegar a R$ 93 por ação com a privatização.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.